De facto, não sendo especialista na matéria, mas sendo consumidora ocasional, em contexto de festa ou num jantar mais caprichado, muitas vezes escolhi o vinho pelo rótulo e pelo nome, de forma apressada, a meio das compras. Ou seja, não sou daquelas pessoas que vão a uma garrafeira para se aconselharem ou têm uma app instalada no telemóvel com críticas e pontuações a vinho. E como não gosto de gastar fortunas, também presto atenção ao preço das garrafas.
No entanto, confesso que até agora olhava para muitos dos vinhos à venda no Lidl com alguma desconfiança. Porque não os conhecia e achava os preços (mesmo para mim, que olho para os preços e sou um pouco forreta, incrivelmente baixos). Too good to be true, conhecem a sensação?
Foi por isso uma agradável notícia, saber pela voz da especialista Maria João Almeida, que as marcas próprias e exclusivas do Lidl são vinhos com uma excecional relação qualidade-preço, sendo criados e produzidos por enólogos e quintas de referência.
Tanto na Essência do Vinho, evento que decorreu no Palácio da Bolsa, no Porto, como no jantar que se seguiu, pudemos provar vários dos vinhos Lidl e confirmar que não é preciso gastar muito dinheiro para servir um bom vinho aos nossos amigos e familiares, existindo opções adequadas aos mais diversos pratos e momentos.
Um exemplo é o Azinhaga de Ouro da região do Douro. Na versão 'branco' é um vinho leve e fresco, de acidez equilibrada. Combina as castas Malvasia Fina, Viosinho e Gouveio e, sendo um vinho seco, apresenta no entanto alguma doçura. Custa €2,29 a garrafa.
Já o Azinhaga de Ouro 'tinto reserva', feito de uvas Touriga Nacional, Touriga Francesa e Tinta Roriz apresenta uma intensidade média, mostrando-se seco e equilibrado. Cada garrafa custa €2,99.
São vinhos simples, para todos os dias, que podemos servir com pratos e petiscos leves, sendo o Azinhaga de Ouro Branco adequado, por exemplo, para acompanhar queijos suaves ou marisco cozido (ou o meu hummus de pimento), e o Azinhaga de Ouro Tinto Reserva apropriado para fazer companhia a umas espetadas de peru (ou a uma paleta de porco preto, digo eu).
Para além dos vinhos do Douro, nas prateleiras do Lidl há vinhos próprios e exclusivos igualmente económicos e 'corretos' de outras regiões: Dão, Alentejo, Setúbal, incluindo vinhos licorosos. Para saberem mais, espreitem aqui.
E antes de passarmos à minha receita de hummus de pimento e brindarmos com Azinhaga de Ouro aos dias mais luminosos que aí vêm, queria só partilhar algumas dicas que nos foram passadas pela Maria João no evento do Lidl, e que ajudam a decidir que vinho servir com os nossos pratos e receitas:
Um prato leve pede um vinho simples e fresco e um prato mais complexo e condimentado pede um vinho mais encorpado; isto para que o sabor da comida não anule o sabor do vinho nem vice-versa;
Os pratos mais fortes em gordura ficam bem acompanhados de um vinho com uma boa acidez, para ajudar a 'cortar' a gordura - exemplo: leitão e espumante;
O vinho que acompanha a sobremesa deve ser mais doce do que esta, caso contrário irá parecer amargo e sem sabor.
De seguida deixo-vos o meu hummus de pimento vermelho (na verdade, não sei se posso chamá-lo de hummus porque não leva tahini, a pasta de sésamo típica desta receita árabe), receita bastante pedida quando partilhei uma outra foto no IG.
Cheers!
HUMMUS DE PIMENTO VERMELHO [SEM TAHINI]
1 frasco de grão de bico cozido
130 g de pimento vermelho assado em conserva, bem escorrido
2 dentes de alho
75 g de azeite
1 fio de sumo de limão
Pimenta preta qb
Opcional: azeite, paprika e sementes de sésamo para decorar
Passar o grão por água e escorrer bem.
Colocar todos os ingredientes num robot de cozinha (à exceção dos ingredientes opcionais/para decorar), e pulsar até obter uma pasta espalhável.
Verificar a textura, provar e retificar algum ingrediente, se for necessário.
Notas:
- Normalmente não adiciono sal, mas é uma questão de provarem e verem se é necessário acrescentar.
- Aguenta bem até três ou quatro dias, bem fechado, no frigorífico.
Créditos fotográficos: Daniel Luciano / Essência do Vinho
A convite da Essência do Vinho, co-produtora, juntamente com a Câmara Municipal de Melgaço, da Festa do Alvarinho e do Fumeiro de Melgaço e editora da Revista de Vinhos, no último fim de semana de abril integrei uma press tour por esta região, que para além da visita à Feira, incluiu uma série de outras experiências enogastronómicas.
Já confessei aqui no blogue o meu gosto pelo Minho. Apesar de fugir mais vezes para o Minho litoral, há alguns anos passei um excelente fim de semana em Melgaço, que ainda hoje recordo, e foi por isso com muito prazer que regressei a esta terra que tão bem sabe receber.
A Festa do Alvarinho e do Fumeiro de Melgaço é um evento que se realiza desde 1995, e que de uma pequena mostra local de produtos se transformou num grande certame com impacto nacional. Na edição deste ano, para além da presença de 32 produtores de vinho Alvarinho e mais de uma dezena de marcas de enchidos e outros produtos gastronómicos, houve também a habitual participação de restaurantes do concelho, provas comentadas, showcookings, concurso de produtos e animação musical, com diversos concertos de música popular.
O nosso roteiro começou, no entanto, não pela Festa mas por uma visita à Quinta de Soalheiro, a primeira marca de Alvarinho de Melgaço (as primeiras vinhas foram plantadas em 1974) e uma das mais importantes insígnias nacionais de vinho desta casta nobre. Aqui, pudemos provar diferentes vinhos da quinta e se alguns eu já conhecia, foi bom poder provar o Soalheiro Granit, o Oppaco e os vinhos biológicos da marca - o Terramater, já no mercado, e o Natur, que dentro em breve entrará na distribuição.
Os vinhos biológicos representam um desafio audacioso para a equipa técnica da Quinta do Soalheiro, não só pelas vinhas, que têm de ser cultivadas de acordo com as regras da agricultura biológica, mas pelos passos seguintes, nomeadamente a estabilização do vinho sem adição de sulfitos. Uma aposta que parece estar a dar, literalmente, bons frutos.
Créditos fotográficos: Daniel Luciano / Essência do Vinho
De seguida, rumámos à Quinta de Folga, um projeto igualmente ligado à família Cerdeira, da Quinta de Soalheiro, mas onde a especialidade não são os vinhos, mas sim o presunto e os enchidos de porco Bísaro, uma espécie animal autóctone e que os mentores do projeto ajudaram a recuperar. Foi aqui que almoçámos, numa mesa farta - tanto de comida caseira e típica da região, como de vinhos da marca Soalheiro, incluindo o seu espumante bruto de Alvarinho e o adocicado 9% Dócil, ideal para acompanhar a sobremesa. Claro que não podiam faltar o presunto e os enchidos da casa, feitos de porco Bísaro criado na quinta.
A qualidade é transversal a todos os produtos, mas os holofotes viraram-se para a alheira e para o presunto: irresistíveis. Estava tudo muito bom, incluindo as sobremesas, mas sobre isso - ou melhor, sobre o pão de ló da D. Palmira - falarei mais no final do post, junto da receita que vos trago.
Créditos fotográficos: Daniel Luciano / Essência do Vinho
Para a parte da tarde, estava agendada a visita à Festa, bem como um showcooking com a Chef Justa Nobre, que nos cozinhou carne de cachena - bovino cujo habitat natural é a alta montanha e que apesar de ser criado um pouco por todo o país, é no Alto Minho que se encontra a maior concentração de produtores, bem como o selo "Carne da Cachena da Peneda DOP". Para acompanhar esta carne tenra e suculenta, a Chef Justa preparou 'cuscos' de Vinhais, uma especialidade que eu desconhecia, mas à qual fiquei rendida.
Ainda que a forma e a matéria-prima remeta para o vulgar cuscuz, o 'cusco' de Vinhais é feito manualmente de acordo com uma técnica antiga e rudimentar e com uma farinha de trigo específica. Ao ser cozinhado, larga uma espécie de goma, dando origem a um acompanhamento muito cremoso, uma espécie de risotto, de comer e chorar por mais.
Créditos fotográficos: Daniel Luciano / Essência do Vinho
Mas não se pense que a ementa do primeiro dia ficou por aqui: por incrível que pareça, ainda teve de haver estômago para jantar num dos restaurantes mais conceituados de Melgaço, a Adega do Sossego, cuja mesa tivemos o prazer de partilhar com a Chef Justa e o seu simpático marido, José Nobre. Apesar do mais acertado ter sido fazer um passeio noturno por Melgaço, para mais facilmente se fazer a digestão de tantos repastos, após o jantar recolhemos ao Hotel Monte Prado, pois no dia seguinte esperava-nos mais uma série de visitas e provas.
Créditos fotográficos: Daniel Luciano / Essência do Vinho
No dia seguinte, a primeira paragem foi no lugar de Vido, em Castro Laboreiro. Missão? Fazer pão castrejo com a ajuda de três senhoras da aldeia. Com paciência, simpatia e muitas histórias antigas pelo meio, a D. Isalina (na verdade chama-se Isolina, mas toda a gente a trata por Isalina), a D. Almerinda e a D. Rosa, mostraram-nos como se faz este pão, antigamente cozido nos fornos a lenha comunitários.
Uma experiência deliciosa, não só pelo pão, que trouxemos connosco, ainda quente, mas sobretudo pelo contacto com estas pessoas tão genuínas e bem-dispostas. Um verdadeiro exemplo de aceitação e gratidão, face às suas vidas duras e ao isolamento de viverem numa aldeia quase sem ninguém. Caso queiram conhecer estas senhoras e fazer um workshop de pão castrejo, contactem a empresa de animação turística Montes de Laboreiro. Se vos calhar a guia Safira, estarão bem entregues!
Créditos fotográficos: Daniel Luciano / Essência do Vinho
Depois de um passeio pela aldeia de Castro Laboreiro e de um retemperador bacalhau com broa (confesso que já precisava de fazer uma pausa na carne), no restaurante panorâmico Miradouro do Castelo, partimos para a freguesia de Prado, para a última visita desta press tour: o objetivo era conhecer a Prados de Melgaço, uma empresa jovem mas já premiada, que combina a criação de cabras para obtenção de leite com a produção de queijos artesanais. Aqui, as cabras são criadas em excelentes condições, onde não falta música relaxante e um massajador, para que os animais se sintam felizes, produzam mais leite e de melhor qualidade.
Até os cães que por ali passeiam têm uma função: fazer com que as cabras se sintam protegidas. Este cuidado e dedicação são replicados na fase de produção, e o resultado só podia ser um queijo de cabra de qualidade superior, seja na versão fresca, creme para barrar, camembert ou nas versões curadas, com destaque para o 'Vinho Alvarinho e Pimentão', um queijo que durante a fase de maturação é mergulhado por diversas vezes numa massa de pimento vermelho e vinho Alvarinho. Para já, a produção é ainda limitada e não é fácil encontrar estes produtos fora da região do Minho, mas pode sempre dar um passeio até Melgaço e passar pela loja da queijaria.
Créditos fotográficos: Daniel Luciano / Essência do Vinho
E depois deste longo relato, ainda têm barriga para uma receita de pão de ló? No almoço que nos foi servido na Quinta de Folga, a minha sobremesa favorita foi o pão de ló - era um pão de ló húmido diferente do habitual, pois parecia levar por cima um creme de ovos macio e espumoso. Tinha sido feito pela D. Palmira, a matriarca da família Cerdeira, e estava fantástico.
À falta de receita, decidi replicá-lo numa versão batoteira: peguei na receita da massa da torta de Viana, cozi-a numa forma redonda e - estão a ver aquela cavidade que os bolos com massa de pão de ló costumam ganhar depois de arrefecidos e que nos deixam tantas vezes desiludidos? Pois, preenchi-a com a 'minha' receita de doce de ovos todo-o-terreno. Não ficou igual ao da D. Palmira, mas deu uma rica sobremesa no almoço do domingo seguinte! Aqui vai a receita.
PÃO DE LÓ HÚMIDO ALDRABADO
6 ovos, separados Raspa de limão qb 125 g de açúcar 100 g de farinha sem fermento Doce de ovos*
Pré-aqueça o forno nos 200º. Forre uma forma redonda com cerca de 22 cm de diâmetro com papel vegetal e unte com manteiga ou spray desmoldante. Bata bem as gemas com o açúcar e a raspa de limão (usei colher de pau e bati cerca de 5 minutos). Bata as claras em castelo e envolva-as na mistura das gemas.
Adicione a farinha e envolva bem para que fique integrada na massa. Verta sobre a forma, alise e leve ao forno cerca de 25/30 minutos ou até o palito sair seco do seu interior.
Retire do forno, deixe arrefecer e ganhar a "cova". Antes de servir, espalhe o doce de ovos por cima.
*DOCE DE OVOS
(receita do chef Luís Francisco)
6 gemas + 1 ovo inteiro 250 g de açúcar 125 g de água 1 pedaço de casca de limão 1 pau de canela
Num tachinho, levar ao lume a água, o açúcar e os aromatizantes (limão e canela). Sem mexer, deixar levantar fervura. Quando começar a borbulhar (bolhas grandes em toda a superfície da calda), contar 3 minutos. Retirar do lume, descartar o limão e a canela e verter em fio sobre as gemas e o ovo previamente desfeitos numa taça de metal, mexendo sempre. Coar para o tacho e levar ao lume até engrossar, cerca de 10/15 minutos, mexendo sempre - uso um batedor de varas - para não ganhar grumos e sem deixar ferver. Colocar num frasco e deixar arrefecer antes de usar. Pode ser conservado no frigorífico durante várias semanas.