Escrevo este post na semana em que o corona vírus começa a tomar verdadeiramente conta das nossas vidas. De simples notícia vinda de um país a milhares de quilómetros de distância, o bicho mau fez o seu caminho, lentamente, e agora é tempo de agir. Ou melhor, de não fazer (quase) nada: ficar por casa e proteger as nossas pessoas mais vulneráveis. Ser responsável e pensar que se custa este isolamento forçado, muito mais irá custar se as coisas se descontrolarem.
Mas como de COVID19 já temos muito quem nos fale, passemos a uma coisa boa: o livro desta edição do "Diz-me o que lês, dir-te-ei o que comes", rubrica que conta, como sempre, com o apoio da livraria Bertrand.*
Na capa do livro, vemos um selo a informar de que esta é já a "4ª edição". Não é de admirar: para além de bonito, o livro está muito bem feito. São dois os autores: André Nogueira e Rita Parente, a dupla por detrás do Cocoon Cooks, o blog onde partilham receitas vegan, dicas para uma vida mais sustentável e relatos sobre as suas viagens.
No livro, encontramos 80 receitas veganas, agrupadas nos seguintes capítulos:
De manhã
Para brindar
À mesa
Doces, doces
Fora de horas
Complementos
Para além das receitas, o livro dedica ainda algumas páginas ao veganismo e a alguns ingredientes-chave, aos utensílios de cozinha que a dupla de autores acha mais essenciais e à melhor forma de usar o livro e tirar partido das suas receitas. No final, temos ainda algumas sugestões de menus ("Marmitas para os dias da semana", "Ideais para congelar", "Jantar com amigos", "Serão de jogos de tabuleiro", "Quadra natalícia", Piqueniques e roadtrips", "Barbecue/almoço de verão" e "Brunch de fim de semana").
O livro está muito bem escrito, num tom bem-disposto e criativo e onde se nota a atenção ao detalhe. E se as fotografias, irrepreensíveis, são da autoria do André, já o design gráfico e as ilustrações são da Rita.
No que diz respeito às receitas, apesar de todas parecerem deliciosas, tenho de destacar as sobremesas. Nos livros de cozinha vegan, as sobremesas são, muitas vezes, o ponto fraco. Mas a verdade é que as sugestões doces do livro 'Vegan para todos' têm um aspeto incrível, com destaque para a "Tarte de banana da Madeira", a "Tarte de batata doce", o "Cheesecake de caramelo salgado e amêndoa torrada", os "Donuts de verdade" ou os aprovados "Bombons de coco com cobertura de chocolate", cuja receita partilho mais abaixo (fazem mesmo lembrar o mítico chocolate Bounty!).
Resumindo: "Vegan para todos" é um livro consistente, que promete agradar mesmo a quem não seja vegetariano ou vegano, desde que se goste de receitas criativas e saudáveis. É bastante completo, pois combina informação sobre o veganismo com receitas para os vários momentos do dia e diferentes ocasiões. As imagens são muito bonitas e o design gráfico é leve, funcional e apelativo. Definitivamente, um dos meus livros favoritos da rubrica, so far!
Ligeiramente adaptado do livro “Vegan para todos”,
de André Nogueira e Rita Parente
Para 25-28 bombons
1 lata de leite de coco refrigerada durante a noite
70 ml de geleia de agave
180 g de coco ralado
1 colher de sopa de farinha de coco
1 pitada de sal
170 g de chocolate negro em pedaços
2,5 colheres de chá de óleo de coco
Abrir a lata de coco e retirar para um tachinho a parte sólida que se formou na parte superior da lata (o creme), descartando a água.
Juntar a geleia de agrave e levar ao lume até derreter e obter uma mistura líquida uniforme.
Numa taça, colocar o coco ralado, a farinha de coco e a pitada de sal.
Adicionar a mistura de creme de coco e a geleia de agave e envolver tudo muito bem, até se obter uma mistura moldável.
Com uma colher de sopa - o ideal é usar uma colher-medidora - retirar pedacinhos desta massa e formar bolinhas, que devem ficar do tamanho de brigadeiros ou um pouco mais pequenas.
Colocar sobre um tabuleiro forrado com papel vegetal e levar ao frigorífico durante cerca de 30 minutos.
Entretanto, derreter o chocolate com o óleo de coco em banho-maria.
Retirar as bolinhas do frigorífico e envolvê-las no chocolate derretido, com a ajuda de uma colher ou garfo.
Colocar a secar sobre papel vegetal ou sobre uma rede protegida com papel vegetal por baixo.
Levar ao frigorífico até servir.
Conservam-se até sete dias num recipiente hermético no frigorífico ou até seis semanas no congelador.
SE GOSTARAM DESTA RECEITA, TAMBÉM VÃO GOSTAR DESTAS:
Este não é um livro recente. Foi lançado em 2015, já vai na 4ª edição, e há muito que o cobiçava quando o via nas livrarias. Quem me segue, sabe que não sigo a filosofia e o estilo de vida macrobiótico, que é o apresentado neste livro. No entanto, sou curiosa e gosto de saber mais sobre todos os tipos de regimes alimentares.
Sempre que passava pelo livro, ficava seduzida pela capa colorida e pela beleza da Marta, visível na pequena fotografia da capa. Por isso, quando criei esta rubrica, sabia que seria um dos que passariam por aqui.
"O Livro de Cozinha da Marta - Uma forma de amar" é um livro que tem tanto de técnico (com vários textos de Francisco Varatojo, pai da autora e fundador do Instituto Macrobiótico de Portugal, que infelizmente faleceu em 2017), como de empírico e pessoal, no sentido de nas suas páginas transparecerem o amor e a gratidão da autora pela cozinha, pela família e pelas pessoas que a rodeiam e também por partilhar connosco a sua história de vida.
É impossível não gostar da Marta e deste livro, quando, logo no início, se pode ler "Sou macrobiótica desde que nasci, mas acima de tudo sou uma pessoa que gosta de comer! Os rótulos podem tornar-se perigosos em mentes mais inflexíveis, levando a uma abordagem rígida e pouco divertida. Eu sou completamente a favor de sermos sensatos e flexíveis. Não gosto de falar em alimentos proibidos; há alimentos que são bons para serem consumidos diariamente, outros para o serem mais ocasionalmente, e há ainda a categoria de alimentos para os dias de festa."
Não podia concordar mais. Mas, afinal, em que consiste a macrobiótica? No livro, é-nos explicado que é mais do que uma dieta ou um regime alimentar, ou seja, é um estilo de vida que pretende desenvolver o nosso potencial humano pela observância das leis da Natureza, dos pontos de vista biológico (alimentação), ecológico (ambiente), social e espiritual (amor e compaixão).
A palavra é de origem grega, com macro a significar "grande" e "bio" a significar "vida", remetendo então a macrobiótica para "a capacidade de vivermos a vida de uma forma grandiosa e magnífica". Também neste livro ficamos a saber que, na era moderna, o conceito da "macrobriótica" apareceu pela primeira vez no século XVIII, no livro "Macrobiótica ou a Arte de prolongar a vida", da autoria de Christoph Von Hufeland, médico de Goethe.
Um dos aspetos interessantes da macrobiótica é o entendimento de que este estilo de vida é flexível e versátil, adaptando-se às diferentes fases e diferentes necessidades de cada pessoa a cada momento. Um ponto comum e constante, no entanto, é o papel dos cereais integrais e dos vegetais, considerados os alimentos "mais adaptados à espécie humana e, consequentemente, aqueles que mais ajudam a criar e a manter a saúde".
Outro princípio fundamental da macrobiótica é a bipolaridade ou a teoria do yin e yang. Esta defende que "todos os fenómenos, alimentos incluídos, têm qualidades energéticas, metafísicas", sendo apenas possível atingir a harmonia se equilibrarmos esses dois pólos - yin e yang - nas nossas vidas.
O livro desenvolve estes conceitos com alguma profundidade, mostra-nos a "Pirâmide da alimentação macrobiótica", assinala a diferença entre macrobiótica e vegetarianismo, fala-nos do tipo de energia associado a cada tipo de alimentos, descreve alguns dos ingredientes mais usados (incluindo alguns 'medicinais') e elenca algumas técnicas culinárias, dicas e truques.
Tudo isto, antes de passarmos às receitas. Estas surgem agrupadas nos seguintes capítulos:
Pequenos-almoços
Lanches e Snacks
Sopas
Cereais Integrais
Leguminosas
Tofu/Seitan/Tempeh
Algas
Vegetais/Saladas/Pickles
Condimentos/Molhos/Maioneses
Sobremesas
Menus festivos
Chás e bebidas medicinais
Ao todo, são 106 receitas (se não me enganei a contá-las!) muito variadas dos pontos de vista do tipo de refeição e ingredientes utilizados, ainda que, na sua maioria, sejam receitas vegetarianas e vegan, uma vez que estas estão na base de uma alimentação macrobiótica, ainda que esta não exclua totalmente os alimentos de origem animal.
Gostei bastante do livro e fiquei com vontade de experimentar diversas receitas, a única falha que tenho a apontar é o facto das receitas não mencionarem o "rendimento", ou seja, o número de doses ou número de pessoas a que se destinam. Na verdade, as receitas do livro não apresentam qualquer ficha técnica (tempo necessário, nivel de dificuldade, etc.), mas para mim é do número de doses/pessoas a indicação de que sinto mais falta.
Resumindo: "O livro de cozinha da Marta" é um livro autêntico. Nota-se que foi feito com muito empenho e dedicação pela Marta, com a ajuda do pai. As fotos dos pratos são da própria Marta, que enriqueceu quase todas as receitas com notas pessoais ou sugestões. Para quem quiser saber mais sobre macrobiótica, este é, sem dúvida, um livro a ter em conta.
4 colheres de sopa de geleia de arroz (usei xarope de agave)
*chávena com 250 ml de capacidade
Lavar as sementes de sésamo (eu coloquei num coador de malha fina e passei por água corrente) e levá-las ao lume numa frigideira antiaderente em lume alto, para secar e tostar (deve demorar uns 10-15 minutos).
Numa frigideira grande, levar o xarope ao lume e, quando fervilhar, juntar todos os ingredientes à exceção do cacau e do chocolate negro.
Retirar do lume e adicionar o chocolate partido em pedacinhos e o cacau, envolvendo bem (o chocolate deverá derreter com o calor remanescente).
Espalhar esta mistura sobre uma folha de papel vegetal, colocar outra folha por cima e espalmar com um rolo de cozinha até obter uma espécie de retângulo com uma espessura uniforme (1 cm de altura ou um pouco menos).
Deixar arrefecer completamente.
Com uma faca bem afiada, cortar em barras.
Pode embrulhar-se individualmente em película aderente e temos um snack pronto a levar.
O livro que vos trago hoje foi um dos primeiros que escolhi para esta rubrica. Mas quando me vi com ele nas mãos, quando o folheei e lhe senti o pulso, vi que precisava de tempo para falar dele.
Esta rubrica existe porque adoro livros de cozinha, mas também porque gosto de me obrigar a experimentar receitas novas [e porque a Bertrand aderiu a esta ideia 💛].
Quando temos de cozinhar todos os dias para alimentar a família, é muito fácil cairmos na repetição, nas receitas que já sabemos que os miúdos gostam, naquelas que já lhes conhecemos as manhas, as versões e os atalhos.
O "Diz-me o que lês, dir-te-ei o que comes" só faz sentido se for mais do que uma apresentação ou crítica ao livro. Para mim, falar do livro é importante, até porque sei que muitos de vós partilham comigo esta paixão pelos livros de culinária, mas a receita é o ponto alto do post.
É através da replicação da receita que melhor percebo o estilo do autor, muitas vezes usando pela primeira vez determinados ingredientes. E sei que quem vem aqui, também vem pelas receitas, nem que seja para servirem de inspiração e ponto de partida. E, claro, é uma forma de ir diversificando os menus cá de casa, levando a família nesta saborosa viagem de descoberta.
Neste livro, que é acima de tudo um inventário do fumeiro português, encontramos as receitas dos próprios enchidos e produtos de fumeiro [uma empreitada que não é para mim], mas também algumas receitas de autor, que recorrem a produtos de charcutaria genuínos, artesanais, de elevada qualidade. Decidi que não poderia testar nenhuma dessas receitas com produtos correntes, de supermercado. Seria uma heresia, perante o incrível trabalho de recolha do Chef Nuno Diniz.
Mas no livro, obrigatório para quem aprecia e tem orgulho na nossa gastronomia, o autor diz-nos onde podemos encontrar os produtos. Por isso, depois de escolher a receita [d-e-l-i-c-i-o-s-o-s 'Croquetes do Barroso' de que falo mais abaixo] contactei o produtor que me poderia fornecer a Farinhota e a Sangueira necessárias. E descobri que enviavam os produtos por correio [não é maravilhoso?]. Mas não podia ser naquela altura, tinha de esperar pelo tempo mais frio, pois só então poderiam confecionar os enchidos. Tinha de esperar pelas condições favoráveis aos ventos e aos fumos de que este livro trata, magistralmente.
Por isso, só agora, ao 16º post, é que entra no palco do #Dizmeoquelês o livro "Entre ventos e fumos", do Chef Nuno Diniz, professor da Escola Superior de Hotelaria e Turismo de Lisboa, consultor de diversos projetos gastronómicos, jurado de concursos televisivos e com um vasto curriculum na liderança de cozinhas de restaurantes, como o da York House, o Tágide ou o Volver.
Não é fácil arranjar palavras para começar a falar deste livro. Confesso que fiquei emocionada depois de folheá-lo e lê-lo de uma ponta à outra. O livro resultou de um apurado e longo trabalho de pesquisa por parte do Chef Nuno Diniz, que quis inventariar o excecional património gastronómico português no que diz respeito aos enchidos e produtos de fumeiro.
Nuno Diniz viajou por Portugal inteiro, incluindo as ilhas, ao longo de catorze anos. Aprendeu com as pessoas das aldeias, assistiu aos processos tradicionais [incluindo a matança do porco, onde não há parte do animal que não seja aproveitada], assimilou as diferenças regionais, tomou notas e notas. Fez (e faz) uso dos melhores produtos em receitas e refeições memoráveis, como os seus famosos cozidos. E, felizmente, aceitou partilhar todo esse saber connosco.
Depois dos textos introdutórios, os capítulos vão abordando as diferentes regiões, listando os respetivos produtos e, sobre cada um deles, indicando os ingredientes, o modo de confeção e identificando quem os produz e comercializa:
Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro
Entre o Douro e o Tejo
Ribatejo e Estremadura
O Sul e as Ilhas - Alentejo/Algarve/Açores e Madeira
[Dentro dos capítulos, o Chef Nuno Diniz descreve ainda os seus três cozidos épicos, que organiza anualmente e que começam a ser preparados com dias de antecedência]
Aqui ficamos a saber o que são os Azedos, o Lombo Enguitado, a Peituga, a Moma, a Cupita e a Paiola. O Palaio e o Mangote. O Chabiano e o Plangaio. A Paiola e Painho. A Butifarra. A Sangueira e a Farinhota. E a lista de especialidades poderia continuar. E claro, aqui há também lugar para os produtos mais conhecidos como o chouriço e a chouriça, o salpicão, a alheira, a morcela, a farinheira e o presunto. São mais de 100 os produtos listados e descritos.
Antes do capítulo final, com o sugestivo título "Um epílogo, a fechar, sem conclusões...", surgem "Os pratos do fumo e da névoa", onde estão descritas 40 receitas de autor. Algumas pareceram-me demasiado complexas [ainda que intrigantes e apetecíveis] para as minhas competências amadoras, por isso, escolhi para brilharem neste post os "Croquetes do Barroso", cuja receita não me assustou e que podem encontrar mais abaixo.
Resumindo:Este não é um livro de receitas, ainda que as tenha. É, acima de tudo, um livro sobre a nossa gastronomia tradicional e regional, um verdadeiro repositório de informação e conhecimento sobre a arte do fumeiro em Portugal. Uma verdadeira bíblia, merecedor de lugar de honra, ao lado de livros como o "Cozinha Tradicional Portuguesa", da Maria de Lourdes Modesto. Um contributo valioso para a preservação dos saberes associados a esta componente tão especial e única da nossa cozinha, que são os enchidos e os produtos de fumeiro. As fotografias do livro - há imagens para grande parte dos produtos - são da autoria de Marta Teixeira e são tão bonitas quanto simples, com uma luz fabulosa, a fazer brilhar os protagonistas.
Para saber mais sobre o livro "Entre ventos e fumos" >>>Livraria Bertrand
Entrevistas onde podem ficar a conhecer melhor este chef, de discurso assertivo e (potencialmente) polémico:
Receita do livro "Entre Ventos e Fumos", do Chef Nuno Diniz, que utiliza enchidos tradicionais da região do Barroso, formada pelos concelhos de Montalegre e Boticas, em Trás-os-Montes.
Para 26 croquetes
30 g de manteiga
30 g de farinha sem fermento
100 g de leite quente (aqueça mais leite, pode precisar)
1 cebola média bem picada
1 sangueira picada*
1 farinhota picada*
Azeite
3 folhas de gelatina
Sal e pimenta
1 ovo
Pão de centeio duro ralado
Óleo de milho para fritar
Começar a preparar a receita com pelo menos 6 horas de antecedência.
Colocar as folhas de gelatina a demolhar em água fria abundante, cerca de 10 minutos.
Pique bem os enchidos e reserve [não achei esta tarefa muito fácil, porque os enchidos eram bastante húmidos e desfaziam-se mais do que ficar picados, mas com paciência, consegue-se].
Fazer o bechamel: coloque a manteiga e a farinha num tacho e deixe cozinhar uns 5 minutos, mexendo sempre.
Juntar o leite quente aos poucos [tenha cuidado, pois vai espirrar] e ir mexendo até obter um bechamel bastante consistente, o que deve demorar aí uns 10 minutos.
Numa frigideira, saltear a cebola numa colher de sopa de azeite.
Temperar com um pouco de sal e pimenta.
Juntar a sangueira e a farinhota e cozinhar durante cerca de 5 minutos.
Juntar o bechamel e as folhas de gelatina bem escorridas.
Envolver tudo muito bem, verter para um tabuleiro, alisar e levar ao frio cerca de 6 horas antes de moldar os croquetes.
Antes de fritá-los, passe-os pelo ovo batido e pão ralado.
*Pode encomendar os enchidos diretamente à empresa Fumeiro do Barroso, que os enviará, à cobrança, pelo correio. Zona Industrial De Montalegre, Lt. 13, Montalegre, Vila Real - Tel.: 276 511 511
Apesar de não estar nos meus planos mais próximos tornar-me vegetariana ou vegana, há algo que já tenho vindo a implementar nas refeições cá de casa: menor consumo de carne, sobretudo de carnes vermelhas. E fazemos muitas vezes refeições ovolactovegetarianas.
Tenho sérias dúvidas de que se conseguisse um equilíbrio sustentável se todos nos tornássemos vegetarianos ou veganos, mas reconheço que é preciso uma mudança no paradigma da alimentação ocidental.
A escolha do livro desta semana, "Desafio Vegan em 15 Dias", de Filipa Range, está relacionado com esta consciência e com a vontade de aprender mais sobre o veganismo (que é bastante mais do que uma dieta alimentar), mas também com o facto de gostar de experimentar receitas diferentes, que fujam da minha zona de conforto.
Este não é o primeiro livro de Filipa Range, autora do blogue "A Cozinha Verde", nome que serviu de título ao seu primeiro livro de receitas. Confesso que não conhecia a Filipa nem o seu trabalho (a não ser de ver os seus livros à venda), mas era uma tremenda falha minha.
Nota-se que a Filipa acredita verdadeiramente nas suas escolhas e o livro está repleto de informação, validada pela nutricionista Sandra Gomes da Silva.
Apesar do conceito do livro assentar num "desafio", apresentando receitas para 15 dias de alimentação vegana, com cinco receitas por dia - pequeno-almoço, snack da manhã, almoço, snack da tarde e jantar - é perfeitamente possível escolher as receitas aleatoriamente ou de acordo com os ingredientes que mais apreciarmos ou quisermos introduzir, uma vez que o livro destaca vários alimentos, fala-nos das suas propriedades e da melhor forma de os utilizar, e indica-nos ainda que receitas do livro podemos confecionar com esses mesmos alimentos.
Um dos aspetos de que mais gosto do livro é o facto de haver muitas receitas que são versões veganas de receitas tradicionais portuguesas ou de pratos 'internacionais' intemporais, como por exemplo o "Arroz do Mar" (feito obviamente sem peixe!), a "Carbonara de Abacate", os "Donuts", os "Hambúrgueres de Quinoa", o "Sushi", a "Canja de pleurotos e millet", a "Feijoada de três cogumelos", a "Omelete de grão" (sem ovos, claro!) e o "Bife de Seitan à Portuguesa", entre outros.
Acredito que estas versões ajudem bastante nos casos em que a ligação aos sabores tradicionais ou aos doces mais pecaminosos, estejam a impedir uma mudança a nível alimentar - seja ela ligeira, gradual ou definitiva.
O livro termina com 5 receitas extra, perfeitas para um brunch e desenvolvidas em parceria com a blogger Ana Gomes, aka "A melhor amiga da Barbie", que também assina o prefácio.
Resumindo: "Desafio Vegan em 15 dias" é um livro bem estruturado e bem escrito. Apresenta um design simples mas cuidado e funcional e, de uma maneira geral, boa fotografia (da autoria de Mário Cerdeira). As receitas, dentro da sua especificidade (veganas), são apelativas e estão bem descritas, para além de serem bastante variadas, quer em termos de ingredientes, quer em termos de "categorias", com opções para todos os momentos do dia.
Ah! Quanto à receita escolhida para mostrar aqui - estas trufas que fazem lembrar os famosos "Ferrero Rocher" - ficaram aprovadíssimas. Na semana passada, no Instagram, perguntei se nesta edição do #dizmeoquelês queriam uma receita doce ou salgada, e quem venceu a sondagem foram os doces, por isso, aqui está ela!
Avelãs: 1 chávena + 18 inteiras + cerca de 3/4 de chávena picadas
1/4 de chávena de cacau em pó (cacau ‘cru’ em pó na receita original)
1 pitada de sal marinho
1/4 de chávena de geleia de coco (xarope de ácer na receita original)
100 g de chocolate negro 70% cacau
Comece por retirar a pele às avelãs: leve-as a tostar no forno durante alguns minutos - ou ao lume numa sertã antiaderente - mexendo de vez em quando para não queimarem. Embrulhe-as num pano de cozinha limpo e esfregue o ‘embrulho’ na bancada da cozinha, para fazer soltar as peles.
Coloque uma chávena de avelãs no processador de alimentos e triture até obter uma manteiga, o que deve demorar entre 5 a 10 minutos, dependendo da potência do processador: vá baixando com a espátula as avelãs que ficam nas paredes do copo entre cada pulsar.
Junte o cacau, o sal e o adoçante (no meu caso, usei geleia de coco) e processe mais um pouco, envolvendo bem.
Se achar que a massa ficou um pouco mole, leve ao frigorífico para ganhar consistência (eu não necessitei, a minha massa ficou pronta a moldar).
Com as mãos húmidas, pegue em pedaços de massa e molde pequenas bolas do tamanho de brigadeiros (ou de Ferrero Rocher 😉), colocando uma avelã inteira no interior e fechando a bolinha.
Derreta o chocolate negro em banho-maria e mergulhe aí uma bolinha de cada vez, envolvendo-a em seguida na avelã picada. Coloque a secar sobre papel vegetal. Se a avelã picada não chegar, pode envolver em coco ralado.
Se for oferecê-los, coloque-os em forminhas de papel.
Conservam-se no frigorífico durante uma semana, podendo ainda congelá-los.
Provavelmente, quando este texto for publicado o dia vai estar cinzento e chuvoso. Afinal, estamos em abril, mês de meteorologia incerta. Mas os últimos dias foram tão generosos em termos de sol, que já só penso naqueles fins de tarde preguiçosos, que mesmo durante a semana, em dias de trabalho, permitem uma pausa de dolce far niente na varanda.
Uma cerveja gelada ou um copo de vinho branco fresquinho, uns petiscos, o sol a pôr-se devagarinho e não preciso de mais nada para um momento perfeito. Melhor, só se os salgadinhos ou os petiscos forem caseiros, certo?
Uma das minhas entradas preferidas para o tempo mais quente é o guacamole (podem clicar aqui para ver a minha receita de guacamole), servido com nachos. Acontece que estes aperitivos de compra são tudo menos saudáveis, sobretudo devido ao elevado teor de sal.
A minha versão não leva sementes de linhaça moída (porque não li a receita direito e só reparei depois) e é mais condimentada, mas esta é uma receita que permite muitas variações nas especiarias e nas ervas. E é incrivelmente rápida de fazer.
Ficam muito saborosos e estaladiços, numa palavra: viciantes! E como vem aí o fim de semana, nem sequer temos a desculpa da falta de tempo para usar aperitivos de compra 😝
1 colher de chá de caril em pó (vai reforçar o tom amarelo dos nachos)
1 colher de chá de paprika fumada
1 boa pitada de pimenta preta acabada de moer
1 colher de sopa de coentros secos
Ligue o forno nos 190º.
Numa taça misture todos os ingredientes e forme uma bola (fica uma massa um pouco quebradiça, mas não se preocupe). Divida em duas partes.
Coloque uma das metades no centro de uma folha de papel vegetal, dê-lhe a forma de um quadrado achatado.
Cubra com outra folha de papel vegetal e estique a massa com o rolo, até obter uma espessura entre 1 e 2 mm.
Retire a folha de papel vegetal de cima, passe para um tabuleiro de ir ao forno e, com uma faca, faça marcas na massa: faça um quadriculado grande e depois marque linhas na diagonal, de forma a obter triângulos.
Leve ao forno entre 12 e 15 minutos - vá vigiando.
Retire e deixe arrefecer.
Repita com a restante massa.
Sirva de seguida ou guarde em frascos herméticos.
Para ver a receita de guacamole, é só clicar aqui.
Parece-me incrível que faltem apenas duas semanas para o Natal. Normalmente, começo a entrar no espírito da quadra de cada ano fazendo muitos planos: de decoração, de receitas para as festas de família, de presentes comestíveis. Mas depois, os dias começam a atropelar-se e nunca consigo fazer tudo o que tinha idealizado.
Este ano, com o atraso das obras que estamos a fazer no nosso apartamento – era suposto já estarem prontas, mas ainda nem sequer sei se poderei acordar no dia de Natal em casa, o que me tem deixado os nervos em franja - os planos ficaram ainda mais em suspenso.
Estando a viver em casa de um dos meus irmãos, tenho uma cozinha à minha disposição, mas fazem-me falta as minhas coisas, o meu forno, as minhas formas, os meus utensílios. Digamos que trouxe comigo um kit de sobrevivência, mas estou limitada a receitas mais simples, sobretudo no que toca a bolos e sobremesas.
Fazer bolachas, por exemplo, não é muito prático, pois não tenho uma grande área de trabalho. Pelo que andei a pensar numa lembrança de Natal que não exigisse grande “produção”, mas que fosse deliciosa. E aqui está ela: alperces secos banhados em chocolate negro.
Aviso já de que são altamente viciantes, por isso sugiro que façam uma dose bem generosa, para poderem ficar com alguns. Pensando bem, nem é preciso o pretexto do Natal e dos presentes para experimentar esta coisa boa: estes alperces com chocolate funcionam na perfeição como um snack ou como um pequeno mimo para acompanhar o café. Yummy!
ALPERCES SECOS COM CHOCOLATE NEGRO
Para 50
50 alperces secos – cerca de 400 g
160 g de chocolate negro
Forre um tabuleiro com papel vegetal. Leve a derreter o chocolate em banho-maria.
Mergulhe metade de cada alperce no chocolate e coloque a secar sobre o papel vegetal. Repita com os restantes alperces. Deixe secar bem o chocolate antes de guardá-los em frascos ou sacos de celofane.
As últimas semanas têm sido uma loucura. A 27 de outubro, o dia em que o meu livro - Estava Tudo Ótimo! - foi colocado à venda, começou o rodopio das idas aos programas televisivos.
Primeiro fui ao A Praça, na RTP1, depois dei um salto ao Olá Maria, no Porto Canal e no dia 3 de novembro fui ao Você na TV, na TVI. Já na semana que passou, voltei a Lisboa para uma presença no programa Faz Sentido, da SIC Mulher, e para a gravação da participação no É a Vida Alvim, do Canal Q, que será transmitido dia 18 de novembro, à meia-noite.
Pelo meio, tive a sessão de apresentação do livro na FNAC do NorteShopping, um momento muito especial, rodeada de tanta, mas tanta gente: família, amigos, foodbloggers queridas e fãs do blogue encheram o auditório e, mais importante do que isso, encheram o meu coração de mimo e felicidade.
As minhas idas a Lisboa, apesar de rápidas, exigiram que passasse a noite na capital. Fiquei a dormir em casa de uma amiga de infância, a Beatriz, que me acolheu de braços abertos. Da primeira vez, depois do delicioso jantar que a Beatriz preparou, tive direito a um chá reconfortante acompanhado de umas trufas de figo deliciosas da Maria Granel.
Depois de dias tão preenchidos e cansativos, devido sobretudo às viagens de comboio e às manhãs madrugadoras, a minha energia estava a precisar de um boost. Resolvi por isso recrear as trufas de figo que comi em Lisboa. Como seria de esperar, não ficaram iguais às originais, mas vão cumprir o seu propósito: servir de snack saboroso, energético e saudável para os próximos dias que, mesmo sem viagens ou aparições na TV, prometem vir a ser igualmente intensos!
TRUFAS DE FIGO, AMÊNDOA E CHOCOLATE
Para cerca de 20
200 g de figos secos
70 g de miolo de amêndoa sem pele
40 g de chocolate preto 70% cacau
1 colher de chá de azeite extravirgem suave
Raspas de laranja q.b.
Cacau em pó para revestir as trufas
Corte os pés aos figos, se achar que são muito duros.
Coloque todos os ingredientes, à exceção do cacau em pó, num robot de cozinha e triture até obter umas migalhas moldáveis.
Faça bolinhas do tamanho de brigadeiros, pressionando bem a mistura, passe pelo cacau em pó e coloque em forminhas de papel.
Nota: estas trufas dão um bom presente, basta colocá-las numa lata ou caixa bonita!
Pronto. Não resisti a fazer um trocadilho com o nome de um blog famoso. Estou oficialmente viciada em pipocas salgadas. E eu que achava só gostar das doces, desde que há muitos anos, numa viagem aos Estados Unidos, comprei pipocas no cinema e quase que era expulsa da sala pela reação que tive quando me apercebi que não eram doces como as que comíamos cá.
A culpa desta mudança boa foi de um almoço recente com um grupo de amigas bloggers, num restaurante muito cool, ora espreitem aqui.
Logo de início, espalham umas canecas de esmalte com pipocas salgadas pela mesa e pelo que me apercebi os sabores vão variando. No dia em que fomos estavam temperadas com paprika e simplesmente adorei. Não descansei enquanto não tentei fazê-las em casa. Depois de prontas, decidi dividi-las: numa taça juntei sal fino, paprika normal e paprika picante e às outras adicionei sal fino, pimenta preta acabada de moer e caril em pó. Tão boas! Mas estas são apenas duas das infinitas possibilidades de transformar as pipocas num snack divertido (e viciante!). Pensem nos vossos sabores favoritos e toca a experimentar. Sim, porque da próxima vez que tiverem amigos aí em casa, vão colocar umas minis a refrescar, vão fazer um panelão de pipocas salgadas e vai ser um sucesso!
E sabem outra coisa interessante? Fi-las com azeite e não com óleo vegetal, como é comum, e resultou na perfeição.
Bom fim de semana!
PIPOCAS SALGADAS - DUAS VERSÕES - Picantes com paprika - Caril
Azeite Milho para pipocas Sal fino Paprika Paprika picante Pimenta preta acabada de moer Caril em pó
[Não coloco as quantidades dos ingredientes porque vai depender muito da quantidade de pipocas que quiserem fazer e do vosso gosto relativamente às especiarias].
Coloque um fundo de azeite numa panela grande e alta (usei a minha panela da sopa e rendeu imenso) - não é preciso muito azeite, basta cobrir o fundo. Espalhe por cima o milho, fazendo uma camada compacta, mas não sobrepondo os grãos. Tape e leve ao fogão em lume médio. Passados alguns minutos vai começar a ouvir os estalos. De vez em quando abane a panela, com cuidado para a tampa não abrir. Desligue e retire do lume quando deixar de ouvir estalar. Verta metade das pipocas para uma taça ou panela com tampa e tempere com sal fino, pimenta preta acabada de moer e o caril em pó. Tape e agite bem. Prove e ajuste os temperos, se necessário. Às pipocas que ficaram no tacho, junte sal fino, bastante paprika da normal e mais um pouco da picante. Tape e agite bem. Prove e retifique os temperos se necessário. Se não for servir logo, guarde as pipocas numa caixa ou saco hermético.
As nossas férias começam oficialmente este fim-de-semana.
Serão duas semanas aqui pelo norte do país, dedicados sobretudo à família, mas durante os quais espero conseguir fazer algumas experiências em volta do fogão.
Será o tempo das limonadas em regime non-stop, dos granizados de morango e espumante, das suculentas saladas de tomate caseiro, dos almoços ao ar livre, das pizzas no forno de lenha, dos petiscos improvisados.
E por falar em petiscos, aqui fica uma sugestão fácil e diferente para um aperitivo de Verão: grão de comer à mão.
Para debicar sem parar, enquanto se bebe um cerveja gelada e se conversa sem pressas num fim-de-tarde deste Agosto.
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Fist day of holidays. Two weeks around the north of Portugal, mainly dedicated to the family, though I'll try to cook some new recipes. This will be the time for for non-stop lemonades, strawberry and champagne granites, wood fired oven pizzas, great organic tomato salads, outdoor lunches and improvised snacks. Speaking of snacks, here's an easy and different suggestion for a summer appetizer or savoury treat: roasted chickpeas. Nible them while drinking a cold beer and having a nice talk - without watch! - with your friends or family this August.
Aperitivospicantes de grão-de-bico
(adaptado darevista Everyday Food)
1 frasco degrão-de-bico cozido (cerca de 400 g - usei do Lidl)
¼ de chávenade azeite
1 colher decafé rasa de pimenta de caiena
1 colher desopa de cominhos em semente
1 colher de caféde sal (ou um pouco de flor de sal antes de servir)
Ligue oforno nos 230º.
Forre umtabuleiro com papel vegetal, verta sobre ele o azeite e leve ao forno durante2/3 minutos.
Passe porágua o grão e escorra bem (eu sequei-o com papel de cozinha).
Não descarteas peles que saírem: vão ficar óptimas, bem estaladiças.
Numa taça,junte o grão e os temperos, envolvendo bem.
Retire otabuleiro do forno e deite o grão-de-bico sobre o azeite com cuidado.
Espalhe bem,com a ajuda de uma escumadeira, por exemplo, fazendo com que todo o grão fiquerevestido de azeite e espalhando para criar uma só camada. Deixe cozer durantecerca de 30 minutos (para a próxima vou deixar ainda mais tempo no forno, paraficarem ainda crocantes).
Retire ogrão do forno (cuidado, que um ou outro grão pode rebentar!) para um pratoforrado com papel de cozinha.
Passe para oprato ou taça de servir e sirva com uma cerveja bem fresca.
Notas: gostei desta primeira experiência,mas para a próxima irei usar temperos mais mediterrânicos. A quantidade dasespeciarias deve ficar ao critério de cada um: a receita original, por exemplo,pedia demasiada pimenta para os nossos hábitos e gostos.
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Roasted spicy chickpeas
(adapted from Everyday Food magazine)
400 g aprox. canned chickpeas
¼ cup olive oil
1 'coffee' spoon cayenne pepper
1 tablespoon cumin seed
1 teaspoon of salt (or a pinch of fleur de sel before serving)
Preheat the oven to 230 º.
Line a baking tray with greaseproof paper, pour olive oil on it and heat in the oven for 2/3 minutes.
Rinse and drain well the chickpeas (I used paper towel).
Do not discard any chickpea skin: they'll get nice and crispy.
In a bowl, combine the chickpeas and seasonings, involving well.
Remove the bakin tray from the oven and spread the chickpeas over the hot olive oil, carefully, making just one layer.
Bake for approximately 30 minutes (next time I'll let them longer in the oven for a crispier result).
Remove from the oven (careful, because one or other chickpea can pop!) and transfer to a plate lined with paper towel. Transfer to serving bowl and enjoy with a cold beer.
Notes: I enjoyed this first experience, but next time I'll use different spices and herbs, in a more mediterranean version. The amount of spices, especially pepper, should be used accordingly to your taste.