Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Lume Brando

13
Mar20

Bombons de coco [Diz-me o que lês #29]

Bombons de coco

Bombons de coco

Escrevo este post na semana em que o corona vírus começa a tomar verdadeiramente conta das nossas vidas. De simples notícia vinda de um país a milhares de quilómetros de distância, o bicho mau fez o seu caminho, lentamente, e agora é tempo de agir. Ou melhor, de não fazer (quase) nada: ficar por casa e proteger as nossas pessoas mais vulneráveis. Ser responsável e pensar que se custa este isolamento forçado, muito mais irá custar se as coisas se descontrolarem.

 

Mas como de COVID19 já temos muito quem nos fale, passemos a uma coisa boa: o livro desta edição do "Diz-me o que lês, dir-te-ei o que comes", rubrica que conta, como sempre, com o apoio da livraria Bertrand.*

Bombons de coco

DIZ-ME O QUE LÊS, DIR-TE-EI O QUE COMES #29

"Vegan para todos" - André Nogueira e Rita Parente - IN Editora

Na capa do livro, vemos um selo a informar de que esta é já a "4ª edição". Não é de admirar: para além de bonito, o livro está muito bem feito. São dois os autores: André Nogueira e Rita Parente, a dupla por detrás do Cocoon Cooks, o blog onde partilham receitas vegan, dicas para uma vida mais sustentável e relatos sobre as suas viagens.

No livro, encontramos 80 receitas veganas, agrupadas nos seguintes capítulos:

  • De manhã
  • Para brindar
  • À mesa
  • Doces, doces
  • Fora de horas
  • Complementos

 

Para além das receitas, o livro dedica ainda algumas páginas ao veganismo e a alguns ingredientes-chave, aos utensílios de cozinha que a dupla de autores acha mais essenciais e à melhor forma de usar o livro e tirar partido das suas receitas. No final, temos ainda algumas sugestões de menus ("Marmitas para os dias da semana", "Ideais para congelar", "Jantar com amigos", "Serão de jogos de tabuleiro", "Quadra natalícia", Piqueniques e roadtrips", "Barbecue/almoço de verão" e "Brunch de fim de semana").

Livro Vegan para todos

O livro está muito bem escrito, num tom bem-disposto e criativo e onde se nota a atenção ao detalhe. E se as fotografias, irrepreensíveis, são da autoria do André, já o design gráfico e as ilustrações são da Rita.

No que diz respeito às receitas, apesar de todas parecerem deliciosas, tenho de destacar as sobremesas. Nos livros de cozinha vegan, as sobremesas são, muitas vezes, o ponto fraco. Mas a verdade é que as sugestões doces do livro 'Vegan para todos' têm um aspeto incrível, com destaque para a "Tarte de banana da Madeira", a "Tarte de batata doce",  o "Cheesecake de caramelo salgado e amêndoa torrada", os "Donuts de verdade" ou os aprovados "Bombons de coco com cobertura de chocolate", cuja receita partilho mais abaixo (fazem mesmo lembrar o mítico chocolate Bounty!).

 

Resumindo: "Vegan para todos" é um livro consistente, que promete agradar mesmo a quem não seja vegetariano ou vegano, desde que se goste de receitas criativas e saudáveis. É bastante completo, pois combina informação sobre o veganismo com receitas para os vários momentos do dia e diferentes ocasiões. As imagens são muito bonitas e o design gráfico é leve, funcional e apelativo. Definitivamente, um dos meus livros favoritos da rubrica, so far!

Para comprar ou saber mais sobre o livro >>> Livraria Bertrand

*Este post contém links afiliados

Bombons de coco

BOMBONS DE COCO

Ligeiramente adaptado do livro “Vegan para todos”,

de André Nogueira e Rita Parente

 

Para 25-28 bombons

1 lata de leite de coco refrigerada durante a noite

70 ml de geleia de agave

180 g de coco ralado

1 colher de sopa de farinha de coco

1 pitada de sal

170 g de chocolate negro em pedaços

2,5 colheres de chá de óleo de coco

 

Abrir a lata de coco e retirar para um tachinho a parte sólida que se formou na parte superior da lata (o creme), descartando a água.

Juntar a geleia de agrave e levar ao lume até derreter e obter uma mistura líquida uniforme.

Numa taça, colocar o coco ralado, a farinha de coco e a pitada de sal.

Adicionar a mistura de creme de coco e a geleia de agave e envolver tudo muito bem, até se obter uma mistura moldável.

Com uma colher de sopa - o ideal é usar uma colher-medidora - retirar pedacinhos desta massa e formar bolinhas, que devem ficar do tamanho de brigadeiros ou um pouco mais pequenas.

Colocar sobre um tabuleiro forrado com papel vegetal e levar ao frigorífico durante cerca de 30 minutos.

Entretanto, derreter o chocolate com o óleo de coco em banho-maria.

Retirar as bolinhas do frigorífico e envolvê-las no chocolate derretido, com a ajuda de uma colher ou garfo.

Colocar a secar sobre papel vegetal ou sobre uma rede protegida com papel vegetal por baixo.

Levar ao frigorífico até servir.

Conservam-se até sete dias num recipiente hermético no frigorífico ou até seis semanas no congelador.

 

SE GOSTARAM DESTA RECEITA, TAMBÉM VÃO GOSTAR DESTAS:

28
Fev20

Malassadas dos Açores [Diz-me o que lês #28]

Malassadas

Malassadas

 

DIZ-ME O QUE LÊS, DIR-TE-EI O QUE COMES #28

"Comer à Moda dos Açores" - Rúben Pacheco Correia - Editora Contraponto

Fui uma única vez aos Açores, há 25 anos. Foi uma viagem incrível, que incluiu passagens por São Miguel, Faial e Terceira. Da componente gastronómica, lembro-me apenas do milho frito e das queijadas de Vila Franca do Campo, que comi em São Miguel, e da Alcatra da Terceira. Era muito nova e, apesar de nessa altura já gostar do universo culinário, o blog ainda nem em sonhos existia e a minha cabeça estava ocupada com questões mais... existenciais.

 

Mas o carinho pelo arquipélago ficou e gostava de um dia lá voltar, em família. Enquanto isso não acontece, posso ir sentindo a alma açoriana através deste livro acabado de lançar, de Rúben Pacheco Correia, açoriano de gema e grande entusiasta da cozinha regional, dono do restaurante Botequim Açoriano em Rabo de Peixe, São Miguel.

 

malassadas15.jpeg

 

Basta começar a folhear e a ler para perceber que este é um livro feito com muito amor. Amor pelos Açores, pelas suas receitas tradicionais e pela partilha genuína. Sente-se de imediato que este é um projeto que Rúben Correia (que com apenas 23 anos já tem vários livros publicados, incluindo de contos e um romance) abraçou com grande motivação e para o qual canalizou muita da sua energia - as várias fotos onde Rúben aparece ao longo do livro espelham bem o seu entusiasmo pela cozinha açoriana e pela missão de a difundir.

 

De facto, mais do que um livro de receitas, este é um livro sobre os Açores e a sua cultura. No seu índice encontramos os seguintes capítulos:

  • Introdução à história e geografia dos Açores
  • Introdução aos produtos e gastronomia dos Açores
  • Lugares, tradições e festividades gastronómicas
  • Entradas e sopas
  • Peixes
  • Carnes
  • Sobremesas
  • Compotas
  • Pães

 

É um livro que nos ensina muito e que vale para lá da utilidade das receitas. Aliás, muitas das suas receitas são mais interessantes enquanto conteúdo informativo, do que para replicar nas nossas cozinhas. Em alguns casos, não será fácil encontrar os ingredientes, pelo menos aqui no continente, como é o caso das famosas lapas e da erva do calhau. Ainda assim, o livro inclui sugestões fáceis e apelativas, como por exemplo a Morcela com Ananás, a Açorda de Inhame ou o Atum de Cebolada.

 

Comer à moda dos Açores

A receita que escolhi para testar foram as Malassadas, um doce típico do Carnaval açoriano. Tal como Rúben nos conta no livro, trata-se de uma receita muito antiga, que hoje é também um doce tradicional do Havai, levado pelos açorianos que para lá emigraram. Ali a popularidade das malasadas é tal, que a terça-feira de Carnaval é chamada de 'Malasada Day'.

 

Ora bem, as minhas devem ser as malassadas mais imperfeitas de toda a história das malassadas. Quando fui fritá-las, a massa colava-se bastante às mãos, mesmo tendo passado estas por óleo, e por isso ficaram uma espécie de malassadas extraterrestres, com umas formas muito estranhas. Mas imagino que de sabor não tenham ficado muito diferentes das originais. No fundo, são uma espécie de sonhos ou farturas, ainda que a massa se confecione de outra maneira.

 

Resumindo: "Comer à Moda dos Açores - Manual de Cozinha Açoriana" é um livro bonito, com conteúdo muito interessante sobre a tradição gastronómica destas ilhas. O design gráfico é  simples mas funcional e as fotografias, presentes em todas as receitas, cumprem o objetivo. As receitas, nomeadamente as de doces, surgem por vezes explicadas de forma demasiado sumária e com quantidades um pouco desanimadoras para replicar em casa (o Bolo da Sertã, por exemplo, pede 2 kg de farinha de milho). A referência ao número de doses ou pessoas que rende cada receita também não é referido, o que pode ser um constrangimento na hora de levar o livro para a cozinha.

 

Como sempre, esta rubrica contou com o apoio da Livraria Bertrand, onde pode comprar e saber mais sobre o livro >>> Bertrand Online*

 

*Este post contém links afiliados

Malassadas

 

MALASSADAS DOS AÇORES

Receita adaptada, em termos de quantidades, do livro "Comer à Moda dos Açores", de Rúben Pacheco Correia

 

500 g de farinha (usei farinha de trigo 55 sem fermento)

10 g de fermento de padeiro fresco

1,5 colheres de sopa de açúcar

Sumo de 1,5 laranjas

1/2 cálice de aguardente

4 ovos

Pitada de sal

Leite qb

Óleo para fritar

Açúcar para polvilhar

Canela para polvilhar (opcional)

 

Dissolver o fermento num pouco de água fria.

Numa bacia grande, peneirar a farinha e abrir uma cavidade ao centro.

Colocar aí o fermento, o sumo de laranja, o sal e a aguardente. Misturar.

Acrescentar um ovo de cada vez, incorporando-os bem (confesso que como a massa estava a ficar com alguns grumos, amassei-a, depois dos 4 ovos adicionados, na batedeira, com o gancho das massas).

Se se achar que a massa está muito densa, junta-se um pouco de leite até ficar uma espécie de polme grosso.

Tapar a bacia com um pano e embrulhar numa manta para levedar melhor.

Deixar levedar durante duas a três horas ou até ter aumentado bastante de volume.

Com as mãos untadas em óleo, retirar pedaços de massa, esticá-los com os dedos dando-lhes uma forma arredondada e achatada e fritá-los em óleo bem quente. Passe-os primeiro para um prato forrado com papel de cozinha e depois por açúcar.

Nota: apesar da receita não mencionar, eu juntei um pouco de canela em pó ao açúcar.

 

OUTRAS RECEITAS DOCES TRADICIONAIS:

17
Jan20

Cupcakes de torradas com canela [Diz-me o que lês #25]

Cupcakes de torradas com canela

Cupcakes de torradas com canela

DIZ-ME O QUE LÊS, DIR-TE-EI O QUE COMES #25

"O Livro dos Bolos & Cupcakes" - Cupcake Jemma/Jamie Oliver's Food Tube - Porto Editora

 

Este é o livro mais pequeno e fino - incluindo no preço - que até agora trouxe aqui à rubrica. O que não significa que seja aquele com menos valor. Apesar de ter vários livros com receitas de bolos e cupcakes, não tinha nenhum com a chancela do canal  Food Tube, de Jamie Oliver. E queria perceber se a qualidade editorial dos livros do Jamie se mantinha nestas edições mais modestas, de autores que colaboram com o chef no desenvolvimento de receitas e vídeos.

 

A resposta é: sim. O bom gosto e o cuidado no design do livro mantêm-se e as fotografias têm igualmente a assinatura de David Loftus, essa lenda viva da fotografia de comida, ainda que se trate de um livro mais simples: cento e poucas páginas, tamanho A5 e capa 'mole'.

 

Se precisávamos de mais um livro de receitas de bolos e cupcakes? Bem, eu acho que há sempre qualquer coisa de novo e interessante em cada livro. Na clara impossibilidade de os termos todos, a escolha deve refletir os nossos gostos, as nossas preferências na hora de irmos para a cozinha ou até as nossas intolerâncias ou regimes alimentares específicos.

 

Diria que "O Livro dos Bolos & Cupcakes" é para quem ainda não tem um preconceito em relação às receitas com elevadas quantidades de manteiga e açúcar... quase que me atrevo que é um livro politicamente incorreto para os dias de hoje, tais as receitas calóricas que apresenta.

 

O livro dos bolos & dos cupcakes

 

No entanto, conscientes de que estes ingredientes não são os mais saudáveis, podemos sempre guardar estas receitas para dias especiais, ou até partir delas e das combinações de sabores que propõem, para criarmos versões mais saudáveis (não é o caso dos cupcakes de torradas com canela cuja receita que segue mais abaixo, em que respeitei quase religiosamente a receita do livro!)

 

A autora do livro é Jemma Wilson, fundadora da Crumbs & Doilies e a cara do Cupcake Jemma, o canal de Jemma no YouTube. Jemma colabora ainda com o canal de YouTube de Jamie, o FoodTube, daí ter surgido o convite do chef inglês para que fizesse o livro.

 

Para além de um breve capítulo com truques e dicas e de outro com receitas básicas de massas e coberturas, que inclui receitas como a do 'molho de caramelo salgado', de 'ganache' e de 'merengue', entre outras, o livro apresenta as receitas divididas pelas 4 estações do ano. Assim, temos sugestões mais frutadas e frescas para o verão e primavera, e sabores mais reconfortantes para as estações frias. Algumas das sugestões que achei mais interessantes, são:

 

- Cupcakes de chá verde com caramelo crocante de sésamo

- Bolo de limão, pistácio e cardamomo

- Cupcakes vegan de fudge de baunilha

- Cupcakes de mojito

- Cupcakes de amêndoa e molho de cereja (na capa do livro)

- Cupcakes mexicanos de chocolate & malagueta

- Cupcakes de pipocas amanteigadas

- Bolo de Jaffa

- E os Cupcakes de torradas com canela, cuja receita deixo mais abaixo.

 

O livro dos bolos & dos cupcakes

 

No total, "O Livro dos bolos & cupcakes" oferece-nos 50 receitas bem doces, que se comem também com os olhos.

 

Resumindo: Este é um livro prático, com boas receitas para quem ainda não afastou definitivamente o açúcar branco e a manteiga da sua cozinha. Está bem escrito, apresenta um design cuidado, colorido e algo 'feminino'. Todas as receitas surgem fotografadas e ainda que a abordagem fotográfica seja um pouco diferente da dos livros de Jamie, menos depurada, nota-se o clique experiente de David Loftus.

 

Antes de passarmos à receita, relembro que a rubrica "Diz-me o que lês, dir-te-ei o que comes" conta com o apoio da livraria Bertrand 💛

Saber mais/comprar sobre "O Livro dos Bolos & Cupcakes" >>> livraria Bertrand online

 

Cupcakes de torradas com canela

CUPCAKES DE TORRADAS COM CANELA

Ligeiramente adaptado do livro "O Livro dos Bolos & Cupcakes", de Cupcake Jemma

 

Para cerca de 12 queques

3 fatias de pão rústico

130 g de manteiga sem sal amolecida

100 g de açúcar

15 g de açúcar mascavado escuro

100 g de farinha com fermento

1/4 de colher de chá de bicarbonato de sódio

1 colher de chá de canela em pó

2 ovos

1 colher de sopa de leite

 

Para a cobertura:

150 g de manteiga sem sal amolecida

300 g de açúcar em pó

Canela moída a gosto

2 colheres de sopa de leite

 

Ligue o forno nos 170ºC.

Torre as fatias de pão, barre-as com manteiga e volte a levá-las ao forno ou à torradeira até estarem bem tostatinhas e possam ser trituradas no robot de cozinha. Deixe arrefecê-las, triture-as e reserve.

Forre uma forma de queques com formas de papel.

Na taça da batedeira, junte os açúcares e bata pata desfazer eventuais grumos.

Adicione, peneirando, os restantes ingredientes secos.

Junto os ovos, a manteiga e 25 g das torradas e bata com a batedeira durante 1 minuto.

Adicione o leite e bata até estar bem integrado.

Distribua a massa pelas formas de papel - não encha demasiado, apenas até 1/3 da forma de papel (é capaz de obter mais do que 12 queques).

Leve ao forno durante cerca de 20 minutos.

Deixe arrefecer um pouco, retire da forma de queques e deixe arrefecer sobre uma rede.

 

Para a cobertura, bata a manteiga até estar lisa e brilhante e depois vá juntando o açúcar em pó e a canela, batendo bem. Junte o leite - veja se necessita de adicionar mais açúcar ou mais leite, até obter um creme macio, mas com firmeza para se usar o bico pasteleiro (opcional) e aguentar a forma.

 

Termine polvilhando os queques com o pão torrado triturado e, se desejar, um pouco da mistura de açúcar granulado com canela.

Descobri (depois de os fazer!), que a Jemma tem um vídeo com esta receita! Cliquem aqui para ver.

MAIS RECEITAS DE QUEQUES E CUPCAKES:

10
Jan20

Gnudi [ou almôndegas de requeijão - Diz-me o que lês #24]

Jamie e a Cozinha Italiana

Gnudi (almôndegas de requeijão)

DIZ-ME O QUE LÊS, DIR-TE-EI O QUE COMES #24

"Jamie e a Cozinha Italiana - Uma viagem ao coração de Itália" - Jamie Oliver - Porto Editora

 

Ainda que já tenha sido mais popular - as notícias sobre o insucesso financeiro de alguns dos seus projetos contribuíram para essa 'queda' - Jamie Oliver dispensa apresentações. E se há alguém que sabe fazer livros de cozinha, é seguramente este chef inglês e a sua equipa.

 

Pelas minhas contas, este é já o 22º livro de Jamie. E não é o primeiro a abordar a cozinha italiana. A paixão de Jamie Oliver por esta gastronomia é conhecida, muito por influência da sua passagem pelo restaurante River Café, no início da sua carreira, e também pela sua longa e forte amizade com Gennaro Contaldo, com quem, aliás, viajou por toda a Itália para fazer este livro.

 

Ainda que os sabores e as técnicas culinárias italianas estejam, de alguma forma, presentes em todos os seus livros, nos volumes "Jamie Does...", onde surge um capítulo dedicado a Itália, e no "Jamie's Italy", o seu amor por esta cozinha tinha sido já destacado. Tanto que quando me apercebi do lançamento deste livro, o meu primeiro pensamento foi "O quê? Mais um sobre Itália?" 🤪

Jamie e a Cozinha Italiana

 

Mas se é verdade que Jamie e a sua equipa sabem baralhar e dar de novo como ninguém - são peritos em reaproveitar receitas, alterando-lhes pequenos detalhes e apresentando-as com novas roupagens, como se fossem inéditas - também é certo que a riqueza e a capacidade de sedução dos sabores italianos prestam-se a isso mesmo, sem nunca nos cansarem.

 

Este é um livro à Jamie: grande formato, capa dura, 410 páginas, fotos maravilhosas de David Loftus - um dos melhores fotógrafos de comida do mundo (cuja carreira e sucesso são indissociáveis da sua parceria de anos e anos com Jamie), mais de 200 receitas, bem escrito, design gráfico irrepreensível.

 

O índice divide-se pelos seguintes capítulos:

  • Introdução
  • Antipasti
  • Saladas
  • Sopas
  • Massas
  • Arroz e Dumplings
  • Carne
  • Peixe
  • Acompanhamentos
  • Pão & Afins
  • Sobremesas
  • As bases

 

Um dos aspetos mais bonitos do livro (ainda que noutros dos seus livros Jamie já o tenha feito), é o facto nos dar a conhecer várias "nonnas" - "avós" italianas que cozinham magistralmente e há anos para as suas famílias e/ou pequenos restaurantes, partilhando algumas das suas receitas e dicas.

 

Jamie e a Cozinha Italiana

A receita que escolhi para testar, e que segue mais abaixo, foi a de "gnudi", que no italiano da Toscana significa "nu". O nome deve-se ao facto de serem feitos apenas com ricotta (usei requeijão), um recheio clássico dos raviolli, ou seja, é como se fossem raviolli "nus", sem a massa 😉.

 

Resumindo: "Jamie e a Cozinha Italiana" não é um livro inovador, nem no tema, nem no tipo de receitas, a que o Jamie Oliver nos habituou nos seus livros anteriores. No entanto, nota-se uma certa simplicidade, sobretudo no número de ingredientes das receitas e nos métodos de confeção, que me agradou bastante. É um livro muito bem feito, daqueles que se folheia com muito prazer e onde se colam post-its em quase todas as páginas.

 

Como sempre, esta rubrica teve o apoio da Livraria Bertrand 💛 em cuja loja online podem saber mais e comprar o livro >>> Bertrand online*

 

*Link afiliado

Gnudi (almôndegas de requeijão)

GNUDI [Almôndegas de requeijão]

Ligeiramente adaptado do livro "Jamie e a Cozinha italiana", de Jamie Oliver

 

Para 3 - 4 pessoas

 

500 de requeijão

50 g de parmesão ralado + um pouco para polvilhar no final

500 g de sêmola de milho para polenta

1 pitada de sal

1 pitada de pimenta preta acabada de moer

750 ml de molho de tomate caseiro

100 g de nabiças ou brócolos

Noz moscada para ralar na altura

 

De véspera, fazer as bolinhas:

- Colocar a farinha para polenta num prato fundo

- Escorrer o requeijão, desfazê-lo e misturá-lo com o parmesão ralado finamente e um pouco de sal e pimenta preta acabada de moer

- Fazer bolinhas (um pouco mais pequenas do que as almôndegas tradicionais) e passâ-las pela polenta, colocando-as noutra assadeira.

- Verter a polenta sobre as almôndegas, para cobri-las

- Levar ao frigorífico - mínimo 8 horas - sem tapar

 

No dia seguinte:

- Ligar o forno nos 180ºC

- Dar uma fervura aos brócolos ou às nabiças (devem ficar al dente)

- Colocar o molho de tomate num prato relativamente fundo de ir ao forno

- Dispôr as almôndegas, sacudindo o excesso de polenta

- Dispor os brócolos ou as nabiças

- Polvilhar com noz moscada e queijo parmesão ralado

- Levar ao forno até borbulhar e as almôndegas ficarem crocantes e tostadinhas

 

Servir com umas boas fatias de pão rústico.

 

Nota: nas fotos, está o resultado dos gnudi seguindo a receita original, que diz para se cozerem os mesmos em água com sal e passá-los por manteiga e noz moscada antes de se levarem ao forno no molho de tomate. No entanto, achei difícil este processo (os meus gnudi - prefiro chamar-lhes almôndegas - começaram a desfazer-se). Como não cozi todos, resolvi levar alguns ao forno sem cozer antes mas igualmente numa cama de molho de tomate, mantendo a capa de polenta (que desaparece na água de cozedura). Ficaram deliciosos e ainda melhores do que os primeiros, pois a polenta dá ao prato um contraste de texturas fantástico.

Gnudi (almôndegas de requeijão)

OUTRAS RECEITAS COM INSPIRAÇÃO ITALIANA:

27
Dez19

Barritas de sésamo e cacau [Diz-me o que lês #22]

Barritas de sésamo e cacau

O livro de cozinha da Marta

DIZ-ME O QUE LÊS, DIR-TE-EI O QUE COMES #22

"A Cozinha da Marta - Uma forma de amar" - Marta Horta Varatojo - Marcador

 

Este não é um livro recente. Foi lançado em 2015, já vai na 4ª edição, e há muito que o cobiçava quando o via nas livrarias. Quem me segue, sabe que não sigo a filosofia e o estilo de vida macrobiótico, que é o apresentado neste livro. No entanto, sou curiosa e gosto de saber mais sobre todos os tipos de regimes alimentares.

 

Sempre que passava pelo livro, ficava seduzida pela capa colorida e pela beleza da Marta, visível na pequena fotografia da capa. Por isso, quando criei esta rubrica, sabia que seria um dos que passariam por aqui.

 

"O Livro de Cozinha da Marta - Uma forma de amar" é um livro que tem tanto de técnico (com vários textos de Francisco Varatojo, pai da autora e fundador do Instituto Macrobiótico de Portugal, que infelizmente faleceu em 2017), como de empírico e pessoal, no sentido de nas suas páginas transparecerem o amor e a gratidão da autora pela cozinha, pela família e pelas pessoas que a rodeiam e também por partilhar connosco a sua história de vida.

 

O livro de cozinha da Marta

 

É impossível não gostar da Marta e deste livro, quando, logo no início, se pode ler "Sou macrobiótica desde que nasci, mas acima de tudo sou uma pessoa que gosta de comer! Os rótulos podem tornar-se perigosos em mentes mais inflexíveis, levando a uma abordagem rígida e pouco divertida. Eu sou completamente a favor de sermos sensatos e flexíveis. Não gosto de falar em alimentos proibidos; há alimentos que são bons para serem consumidos diariamente, outros para o serem mais ocasionalmente, e há ainda a categoria de alimentos para os dias de festa."

 

Não podia concordar mais. Mas, afinal, em que consiste a macrobiótica? No livro, é-nos explicado que é mais do que uma dieta ou um regime alimentar, ou seja, é um estilo de vida que pretende desenvolver o nosso potencial humano pela observância das leis da Natureza, dos pontos de vista biológico (alimentação), ecológico (ambiente), social e espiritual (amor e compaixão).

 

A palavra é de origem grega, com macro a significar "grande" e "bio" a significar "vida", remetendo então a macrobiótica para "a capacidade de vivermos a vida de uma forma grandiosa e magnífica". Também neste livro ficamos a saber que, na era moderna, o conceito da "macrobriótica" apareceu pela primeira vez no século XVIII, no livro "Macrobiótica ou a Arte de prolongar a vida", da autoria de Christoph Von Hufeland, médico de Goethe.

 

Um dos aspetos interessantes da macrobiótica é o entendimento de que este estilo de vida é flexível e versátil, adaptando-se às diferentes fases e diferentes necessidades de cada pessoa a cada momento. Um ponto comum e constante, no entanto, é o papel dos cereais integrais e dos vegetais, considerados os alimentos "mais adaptados à espécie humana e, consequentemente, aqueles que mais ajudam a criar e a manter a saúde".

 

Outro princípio fundamental da macrobiótica é a bipolaridade ou a teoria do yin e yang. Esta defende que "todos os fenómenos, alimentos incluídos, têm qualidades energéticas, metafísicas",  sendo apenas possível atingir a harmonia se equilibrarmos esses dois pólos - yin e yang - nas nossas vidas.

 

O livro de cozinha da Marta

 

O livro desenvolve estes conceitos com alguma profundidade, mostra-nos a "Pirâmide da alimentação macrobiótica", assinala a diferença entre macrobiótica e vegetarianismo, fala-nos do tipo de energia associado a cada tipo de alimentos, descreve alguns dos ingredientes mais usados (incluindo alguns 'medicinais') e elenca algumas técnicas culinárias, dicas e truques.

 

Tudo isto, antes de passarmos às receitas. Estas surgem agrupadas nos seguintes capítulos:

  • Pequenos-almoços
  • Lanches e Snacks
  • Sopas
  • Cereais Integrais
  • Leguminosas
  • Tofu/Seitan/Tempeh
  • Algas
  • Vegetais/Saladas/Pickles
  • Condimentos/Molhos/Maioneses
  • Sobremesas
  • Menus festivos
  • Chás e bebidas medicinais

 

Ao todo, são 106 receitas (se não me enganei a contá-las!) muito variadas dos pontos de vista do tipo de refeição e ingredientes utilizados, ainda que, na sua maioria, sejam receitas vegetarianas e vegan, uma vez que estas estão na base de uma alimentação macrobiótica, ainda que esta não exclua totalmente os alimentos de origem animal.

 

Gostei bastante do livro e fiquei com vontade de experimentar diversas receitas, a única falha que tenho a apontar é o facto das receitas não mencionarem o "rendimento", ou seja, o número de doses ou número de pessoas a que se destinam. Na verdade, as receitas do livro não apresentam qualquer ficha técnica (tempo necessário, nivel de dificuldade, etc.), mas para mim é do número de doses/pessoas a indicação de que sinto mais falta.

 

Resumindo: "O livro de cozinha da Marta" é um livro autêntico. Nota-se que foi feito com muito empenho e dedicação pela Marta, com a ajuda do pai. As fotos dos pratos são da própria Marta, que enriqueceu quase todas as receitas com notas pessoais ou sugestões. Para quem quiser saber mais sobre macrobiótica, este é, sem dúvida, um livro a ter em conta. 

 

Saber mais sobre o livro/comprar o livro >>> Livraria Bertrand

 

Barritas de sésamo e cacau

Barritas de sésamo e cacau

BARRITAS DE SÉSAMO E CACAU
Receita original no livro "A Cozinha da Marta - Uma forma de amar", de Marta Horta Varatojo

 

Rendeu-me cerca de 16 barritas

1 chávena* de sementes de sésamo

1 chávena* de arroz tufado (usei de chocolate)

1 colher de sopa de cacau em pó

50 g de chocolate negro

3 colheres de sopa de sultanas

1 colher de sopa de coco ralado

4 colheres de sopa de geleia de arroz (usei xarope de agave)

*chávena com 250 ml de capacidade

 

Lavar as sementes de sésamo (eu coloquei num coador de malha fina e passei por água corrente) e levá-las ao lume numa frigideira antiaderente em lume alto, para secar e tostar (deve demorar uns 10-15 minutos).

Numa frigideira grande, levar o xarope ao lume e, quando fervilhar, juntar todos os ingredientes à exceção do cacau e do chocolate negro.

Retirar do lume e adicionar o chocolate partido em pedacinhos e o cacau, envolvendo bem (o chocolate deverá derreter com o calor remanescente).

Espalhar esta mistura sobre uma folha de papel vegetal, colocar outra folha por cima e espalmar com um rolo de cozinha até obter uma espécie de retângulo com uma espessura uniforme (1 cm de altura ou um pouco menos).

Deixar arrefecer completamente.

Com uma faca bem afiada, cortar em barras.

Pode embrulhar-se individualmente em película aderente e temos um snack pronto a levar.

 

MAIS RECEITAS COM CHOCOLATE SAUDÁVEIS:

 

20
Dez19

Leite-creme do Cantinho do Avillez [Diz-me o que lês #21]

Leite-creme do Cantinho do Avillez

Livro "Cantinho do Avillez - As receitas"

DIZ-ME O QUE LÊS, DIR-TE-EI O QUE COMES #21

"Cantinho do Avillez - As receitas" - José Avillez - Esfera dos Livros

 

Será que quando vêem um livro de um chef, de receitas de pratos servidos no seu restaurante, ficam com a mesma dúvida que eu? A de que as receitas que fazem no restaurante podem não ser exatamente iguais às que estão no livro? Bem, nunca saberemos 😆 Até porque a mesmíssima receita, feita por duas pessoas diferentes, sobretudo se uma dessas pessoas é um profissional, nunca vai sair igual. E é por isso que tenho dúvidas de que o meu leite-creme tenha saído tão bom como o do restaurante...

 

O Cantinho do Avillez ( o do Chiado), foi o primeiro restaurante em nome próprio de José Avillez, o mais consagrado dos chefs portugueses, tendo aberto as suas portas em setembro de 2011. Hoje são já quatro os Cantinhos: Chiado, Parque das Nações, Porto e Cascais. Que se juntam numa extensa lista a outros projetos de José Avillez, como o duplamente estrelado Belcanto, a Cantina Peruana, o Bairro ou o Mini Bar [que também já se estendeu ao Porto], passando pela Tasca, no Dubai.

 

Livro "Cantinho do Avillez - As receitas"

 

O José Avillez talvez seja um dos meus chefs portugueses preferidos [logo a seguir ao Vasco Coelho Santos, do Euskalduna 😉]. Primeiro, porque o acho genuinamente simpático. Quando fui a primeira vez ao Cantinho do Avillez do Porto, foi o chef que nos abriu a porta, recebendo-nos com um sorriso, entusiasmo e amabilidade surpreendentes. Depois, porque já li e ouvi muitas das suas entrevistas - como esta, no podcast "Cada um sabe de si" - e gosto do seu discurso, da sua forma de encarar o trabalho de equipa, da sua história de vida.

 

Apesar deste meu apreço, ainda não tinha nenhum livro dele. Para esta rubrica, que como sempre conta com o apoio da Bertrand, optei pelo "Cantinho do Avillez - As Receitas", já na sexta edição. Para além de ser um dos seus primeiros livros (se não mesmo o primeiro, mas não posso precisar), o tipo de cozinha praticada no Cantinho não me parece demasiado rebuscada para replicar em casa, sendo um livro a que facilmente podemos dar uso.

 

Este é um livro bilingue - português e inglês. As receitas fazem ou fizeram parte da carta do restaurante e estão agrupadas nos capítulos:

  • Cocktails
  • Entradas
  • Pregos
  • Pratos
  • Sobremesas

Não são muitas: apenas 40 receitas, no total.

 

Em termos gráficos, o livro é do mais simples que há. Acho até a encadernação demasiado básica, sem qualquer badana (aquela tira extra da capa e da contracapa que dobra para dentro, normalmente com informação sobre o autor), o que o torna frágil, sobretudo se tivermos em conta que é um livro para ser manuseado numa cozinha.

Livro "Cantinho do Avillez - As receitas"

 

Quanto às receitas, parecem-me bem descritas e entre elas podemos encontrar as famosas 'Lascas de bacalhau, migas soltas, ovo a baixa temperatura e azeitonas explosivas', os 'Camarões à Bulhão Pato', as 'Vieiras na frigideira com cogumelos e batata-doce de Aljezur', o 'Bife à Cantinho', a icónica sobremesa 'Avelã ao cubo' ou o 'Leite-creme de laranja e baunilha' cuja receita partilho mais abaixo.

 

Resumindo: "Cantinho do Avillez - As receitas" não é um livro extraordinário, diria até que é um livro modesto, tanto em termos de conteúdo, como em termos de produção gráfica. É um livro que vale pelas receitas em si e pela carga simbólica associada, conferida pelo prestígio do chef Avillez e deste seu restaurante. As fotos são bonitas, mas um pouco baças, devido ao papel escolhido, de cor creme. Este livro é, no entanto, um ótimo aliado para os foodies e todos aqueles que gostam de surpreender os convidados em casa, com receitas ao mesmo tempo simples mas com um toque de sofisticação.

 

Querem saber mais sobre o livro? Espreitem aqui >>> Livraria Bertrand

Leite-creme do Cantinho do Avillez

Leite-creme do Cantinho do Avillez

LEITE-CREME DO CANTINHO DO AVILLEZ - COM LARANJA E BAUNILHA

Receita de José Avillez no livro "Cantinho do Avillez - As receitas"

[A receita é supostamente para 4 doses, mas eu consegui apenas 3]

 

50 ml de leite

300 ml de natas

55 g de açúcar demerara (usei mascavado)

4 gemas de ovo

2 colheres de sopa de sumo de laranja

1 a 2 vagens de baunilha

Casca de laranja (sem a parte branca) qb

Açúcar demerara para polvilhar e queimar (usei açúcar mascavado)

 

Ligar o forno nos 150ºC.

Num tacho, levar o leite ao lume com 100 ml de natas e a casca de laranja.

Abrir a vagem de baunilha, raspar as sementes e adicionar tudo ao tacho do leite e natas.

Deixar esta mistura fervilhar.

Numa taça, bater as gemas com o açúcar.

Retirar o tacho do lume, juntar as restantes natas e o sumo de laranja.

Adicionar esta mistura, aos poucos, à taça das gemas e açúcar.

Distribuir pelas taças e levar ao lume num tabuleiro ou assadeira, que deve encher com água quente até metade da altura das taças.

Cozer durante cerca de 40 minutos (o creme deve sair ainda pouco firme no centro, irá solidificar ao arrefecer).

Depois de frias, guarde as taças no frigorífico até 3 dias.

Antes de servir, polvilhe com açúcar e queime com um maçarico de cozinha.

Leite-creme do Cantinho do Avillez

 

Nota: apesar de ter seguido a receita à risca, fiquei com a impressão de que a textura não ficou perfeita, achei que devia ter ficado mais cremoso (será que cozeu demasiado?). Em todo o caso, de sabor ficou bastante agradável.

 

MAIS SOBREMESAS DO #DIZMEOQUELÊS:

 

12
Dez19

Bolachas de banana e chocolate no micro-ondas [Diz-me o que lês #20]

Bolachas na caneca

Bolachas na caneca

DIZ-ME O QUE LÊS, DIR-TE-EI O QUE COMES #20

"Bolachas na Caneca" - Christelle Huet-Gomez - Editorial Presença

 

Enquanto viciada em livros de cozinha, gosto de ter todo o género desta 'literatura' nas minhas prateleiras. Mas nem todos os livros têm a mesma importância nem exercem todos o mesmo fascínio sobre mim. Num ranking de utilidade e pertinência, este "Bolachas na Caneca", de Christelle Huet-Gomez, teria de ficar para trás.

 

O livro é bonito, gosto das fotografias e o conceito é original* (apesar de achar que, quando se pensa em bolachas, é impossível pensar numa só!). Acontece que depois de ver as receitas fiquei um pouco reticente. Parecem-me muito calóricas. Se não, vejamos: uma bolacha, que pode dar para duas pessoas, leva em média 1 fatia de manteiga com 1/2 cm de espessura, 1 gema, 2 colheres de sopa de açúcar e 3 colheres de sopa de farinha. São colheres rasas, é certo, mas mesmo assim parece-me too much, para comer assim de enfiada...

 

Bolacha na caneca

 

 

As conjugações de sabores são interessantes e variadas e vão do clássico chocolate + frutos secos ou limão + mirtilos, às bolachas de chá matcha, de maçã assada ou red velvet. E ainda há quatro receitas de bolachas salgadas. No total, são 35 receitas de "bolachas" para fazer numa caneca e cozer num minuto no micro-ondas. Não deixa de ser um conceito castiço e prometedor, mas tenho dúvidas de que haja muitas situações em que queiramos fazer uma bolacha na caneca. Se calhar em férias, se estamos num local sem forno, apenas com  micro-ondas; ou se quisermos dar alguma autonomia aos mais novos, que, tenho a certeza, são quem se irá divertir mais a fazer estas bolachas.

 

A ideia é comer as bolachas à colher, ainda mornas. Em todo o caso, depois de arrefecidas e apesar da textura ficar mais firme (parecida com um scone frio), continuam saborosas. Pelo menos estas, de banana, aveia e chocolate, cuja receita, que adaptei para torná-las (um pouco) menos pecaminosas, segue mais abaixo.

 

Resumindo: "Bolachas na Caneca" é um livro de receitas com um tema muito específico, que talvez tenha pouca utilidade numa cozinha de alguém experiente. Apresenta fotografias e design gráfico apelativo, podendo fazer as delícias de quem sofre desejos repentinos por doces: afinal, cada bolacha demora apenas 5 minutos a preparar e a ficar pronta.

 

Saber mais sobre o livro, incluindo o preço >>> Livraria Bertrand**

 

*Da mesma coleção, existe também o "Bolos na Caneca" e o "Bolos Salgados na Caneca", ambos de Lene Knudsen.

**Link afiliado

Bolacha na caneca

BOLACHAS DE BANANA E CHOCOLATE

Feitas em canecas, chávenas ou ramekins, no micro-ondas

Adaptado do livro "Bolachas na Caneca", de Christelle Huet-Gomez

 

Para 3

15 g de manteiga + alguma para untar

2 colheres de sopa de açúcar amarelo

2 gemas L

5 colheres de sopa de farinha sem fermento

3 colheres de sopa de flocos de aveia

1 banana pequena

3 colheres de sopa de pepitas de chocolate

 

Unte com manteiga 3 chávenas ou ramekins.

Numa taça, coloque a manteiga derretida e junte, sucessivamente, o açúcar, as gemas, a farinha e a aveia. Mexa.

Reserve 9 rodelas finas de banana e corte a restante banana em pedacinhos, misturando estes ao preparado anterior.

Por fim, junte as pepitas.

Com as mãos, forme uma espécie de rolo grosso de massa e divida em três.

Dê a forma de um disco a cada pedaço e insira-os nas respetivas chávenas, canecas ou ramekins.

Leve uma bolacha a cozer de cada vez no micro-ondas, programando 1 minuto a 800 watts ou 50 segundos a 1000 watts.

Coma-as à colher ainda mornas, ou desenforme passado alguns minutos e coma/sirva já frias.

 

MAIS RECEITAS COM CHOCOLATE:

 

 

06
Dez19

Panquecas de trigo-sarraceno [Diz-me o que lês #19]

Panquecas de trigo-sarraceno

Livro Sabores do Viajante

Mais uma semana, mais um livro para descobrir. E 'descobrir' é mesmo a palavra certa, uma vez que o #Dizmeoquelês desta semana é sobre um livro que, para além de receitas, oferece-nos miniguias de viagem sobre vários destinos. É o "Sabores do Viajante", da autoria de Daniela Ricardo.

Livro Sabores do Viajante

DIZ-ME O QUE LÊS, DIR-TE-EI O QUE COMES #19

"Sabores do Viajante" - Daniela Ricardo - Edições Chá das Cinco

 

Este é já o terceiro livro de Daniela Ricardo, uma enfermeira que se tornou chef, professora e consultora de alimentação consciente e natural. Juntamente com Luís Baião [seu marido e mentor do projeto Zen Family] Daniela organiza viagens de grupo a várias partes do mundo, ficando a seu cargo a confeção e a logística da alimentação dos participantes. Regularmente, também organiza retiros e workshops em Portugal sobre a temática da alimentação saudável.

 

Este livro resulta do que Daniela aprendeu e visitou nas viagens que tem feito, viagens essas que se destacam por uma forte componente espiritual. Após as páginas introdutórias, em que a autora contextualiza este livro e expõe a sua filosofia alimentar, fornecendo informação nutricional e dando algumas noções de técnica culinária, o livro apresenta a seguinte estrutura:

 

- As Viagens

  • Butão
  • Argentina
  • Japão
  • Indonésia/Bali
  • Itália
  • Portugal

- Benefícios de viajar

- Dicas de viagem

- A minha mala de viagem - os indispensáveis

 

Livro Sabores do Viajante

 

Para cada destino do capítulo 'As viagens', Daniela faz uma introdução ao país, destaca localidades ou monumentos imperdíveis, diz-nos "Quando ir", mostra-nos algumas "Palavras e expressões úteis" na respetiva língua, introduz-nos na gastronomia desse destino e, por fim, apresenta uma série de receitas locais, adaptadas em termos de ingredientes e tipo de confeção, de forma a cumprirem a sua visão de alimentação consciente e sustentável.

 

Assim, no livro iremos encontrar os Sabores Butaneses (capítulo de onde foi retirada a receita destas panquecas), os Sabores Argentinos, os Sabores Nipónicos, os Sabores Balineses, os Sabores Italianos e os Sabores Portugueses

Livro Sabores do Viajante

 

Confesso que gostei mais do livro pelo que nos ensina sobre os destinos - Daniela fala de acordo com a sua experiência, contando algumas histórias e factos curiosos - do que pelas receitas. No entanto, reconheço o seu mérito em adaptar as receitas e torná-las mais acessíveis e mais 'conscientes' para nós, portugueses, ao utilizar ingredientes que nos são mais familiares, pelo menos nos casos em que isso é possível. Algo que apreciei, por exemplo, foi o uso do azeite como gordura de eleição, quando em muitos livros de receitas a opção teria sido, por certo, o óleo de coco.

 

Resumindo: "Sabores do Viajante" é um livro enriquecedor, que vale para lá das receitas que apresenta. O design gráfico e as fotografias não são especialmente marcantes, mas cumprem a sua função e as receitas estão bem escritas. É um livro que agrada sobretudo a quem gosta de viajar e de saber mais sobre gastronomia e para quem não tem medo de se aventurar por sabores que fogem ao tradicinal.

 

Como sempre, este post contou com o apoio da Livraria Bertrand*, onde podem saber mais sobre o livro [que ganhou o prémio Gourmand em Portugal na categoria Health & Food] e até adquiri-lo, com 10% de desconto.

 

Querem saber mais sobre a Daniela e os seus projetos? É só segui-la no Instagram  

 

*Link afiliado

Panquecas de trigo-sarraceno

PANQUECAS DE TRIGO-SARRACENO [KHUR-LE]

Receita butanesa no livro "Sabores do viajante", de Daniela Ricardo

 

Nota: o sabor da farinha de trigo-sarraceno não é consensual. Costumo usar os grãos na granola e gosto, mas achei que nas panquecas fica um pouco forte. No entanto, a textura das panquecas, feitas basicamente de farinha e água é ótima, parece quase massa de bolo!

 

1 chávena e meia de farinha de trigo-sarraceno

1 chávena de água [eu precisei de adicionar mais 1/4 de chávena]

1 pitada de sal

1 colher de café de bicarbonato de sódio

 

Coloque todos os ingredientes num liquidificador, processador ou copo da varinha mágica e bata até obter uma mistura homogénea densa mas 'espalhável'.

Deixe a massa repousar uns cinco minutos.

Pincele uma frigideira antiaderente com azeite, aqueça bem e verta uma colherada de massa. Deixe cozinhar um pouco e, quando já se soltar, vire com a ajuda de uma espátula e cozinhe mais um pouco (no meu caso não demorou mais do que três minutos no total, para cada panqueca). Repita até terminar a massa.

Sirva com fruta e adoçante a gosto, ou então com algum topping salgado, à maneira do Butão.

 

OUTRAS RECEITAS SAUDÁVEIS DA RUBRICA #DIZMEOQUELÊS:

 

22
Nov19

Rahmschmarren a la Koschina - receita austríaca [Diz-me o que lês #17]

Receita austríaca rahm schmarren

Livro Casal Mistério

 

Após um inesperado e chato extravio de livros, o "Diz-me o que lês, dir-te-ei o que comes", rubrica que conta com o apoio da livraria Bertrand, está de volta com um livro muito apetitoso. Acreditam que este é já o 17º livro de cozinha a passar por aqui, desde que esta aventura começou, há pouco mais de quatro meses? Se me seguem no Instagram, sabem que de vez em quando lanço uns passatempos com livros da rubrica. Se gostavam de ter este livro, fiquem atentos: quem sabe não tenho um exemplar para oferecer?😉

 

Livro Casal Mistério

DIZ-ME O QUE LÊS, DIR-TE-EI O QUE COMES #17

"As 99 Melhores Receitas do Casal Mistério" - Casal Mistério - Editora Manuscrito

 

Para quem gosta e procura informação sobre temas ligados à cozinha, às receitas e aos restaurantes, o site do Casal Mistério não é segredo [gostaram deste trocadilho? 🙈].

Ninguém sabe quem está por detrás deste projeto, mas sabe-se que o blog, criado há cinco anos, conta com milhares e milhares de visualizações, tem mais de 200 mil seguidores no Instagram e mais de 300 mil no Facebook, e recebeu por várias vezes o prémio de "Melhor blog de culinária" no concurso 'Blogs do Ano' da Media Capital.

 

Na verdade, o Casal Mistério não é um blog de culinária como a maioria dos blogs de culinária, sendo mais "curadores" de receitas do que "criadores". E isto leva-me a um dos aspetos que me intrigou neste livro (que é já o terceiro lançado pelo Casal Mistério). Muitas das receitas, se não mesmo a maioria, são receitas que foram publicadas no blog mas retiradas de outros sites e blogs e que no Casal Mistério surgem acompanhadas dos devidos créditos. Mas no livro isso não acontece. Nem na introdução, nem nos agradecimentos, nem nas páginas das receitas encontro qualquer referência à sua origem.

 

Sei que o Casal Mistério teve o trabalho de as traduzir e provavelmente adaptar, e foram magistralmente fotografadas pela talentosa Maria Midões. Mesmo assim, não seria de fazer uma referência às versões originais?

 

Deixando este pequeno "mistério" de lado, devo dizer-vos que o livro é já um dos meus favoritos desta rubrica. É bonito, está bem escrito - com os apontamentos de humor característicos do Casal Mistério - e as receitas, selecionadas por serem as mais populares do blog - são muito variadas e apelativas.

 

Livro Casal Mistério

 

Na verdade, são 99 receitas mais 16 receitas extra, generosamente disponibilizadas por 16 chefs de cozinha famosos, incluindo a da sobremesa do chef austríaco Dieter Koschina, responsável pelo restaurante algarvio Vila Joya, e que escolhi para experimentar e publicar aqui.

 

São 8 os capítulos em que as receitas estão agrupadas:

  • Para nos fazer levantar da cama
  • Para enganar a fome
  • Para partilhar com os amigos
  • Para comer em família
  • Para levar para o trabalho
  • Para não engordar
  • Para a desgraça [o meu capítulo preferido 😆]
  • As receitas que os chefs fazem em casa

 

Smoothies e panquecas. Brownies, cheesecakes e bolachas. Entradas fáceis e vistosas. Pratos reconfortantes. Sugestões rápidas e com poucos ingredientes. Sanduíches, saladas e outras propostas saudáveis. Bolos gulosos: há de tudo aqui.

 

E há ainda as imagens maravilhosas da Maria Midões. Tive a oportunidade de conhecer a simpática Maria há uns anos, num workshop de fotografia de comida na Clavel's Kitchen, e sou absolutamente fã do seu trabalho [já agora: uma das razões por que escolhi fazer o Rahmschmarren é que as receitas dos chefs não surgem fotografadas, e assim não tenho de comparar as minhas com as da Maria, ahahahah].

 

Resumindo: o livro "As 99 Melhores Receitas do Casal Mistério" é um valor seguro. A abordagem gráfica é simples mas 'eye-catching' e as receitas estão bem descritas. Apresenta receitas para os vários momentos do dia e para várias necessidades (receitas mais ou menos calóricas) sendo por isso um livro abrangente, que vamos querer ter sempre à mão. As fotografias da Maria Midões... essas são a cereja no topo do livro.

 

Saber mais e comprar "As 99 Melhores Receitas do Casal Mistério" >>> Livraria Bertrand*

Rahm schmarren - receita austríaca

RAHMSCHMARREN A LA KOSCHINA

Receita do Chef Dieter Koschina no livro "As 99 melhores receitas do Casal Mistério"

Esta é uma receita tradicional austríaca, aqui com o toque do chef, que sugere servi-la com puré de maçã. Tentei saber mais sobre esta sobremesa de conforto - uma espécie de panqueca fofa gigante - mas todos os sites que encontrei estavam em alemão e não me apeteceu ir ao google tradutor 🤪

 

Para o "bolo":

300 g de natas

50 g de açúcar em pó

60 g de gemas de ovo (4 ovos pequenos)

50 g de amido de milho

1 copo de shot de rum

Raspa de limão qb

90 g de claras de ovo

60 g de açúcar (+ algum para a caramelização final)

1 colher média de manteiga (+ alguma para a caramelização final)

 

Para o puré de maçã:

Maçãs (usei 3 grandes)

Açúcar qb (não usei)

Sumo de limão qb

Baunilha qb (usei umas gotinhas de essência)

Canela em pó qb

 

Começar por fazer o puré de maçã: cozer as maçãs lentamente num fundo de água. Triturar e juntar os restantes ingredientes a gosto.

Ligue o forno nos 180º.

Com um batedor de varas, misturar bem as natas, o açúcar em pó, as gemas, o amido, a raspa de limão e o rum.

Bater em castelo as claras com os 60 g de açúcar e juntar ao preparado anterior.

Levar ao lume uma frigideira grande que possa ir ao forno e derreter nela a manteiga, espalhando-a por toda a frigideira. Verter nela a massa do "bolo" e levar ao forno durante cerca de 30 minutos.

Assim que estiver bem dourado, retirar do forno e fazer um quadriculado na massa (schmarren significa algo como "desfeito" ).

De seguida, a receita diz para barrar com "manteiga e açúcar caramelizado". Confesso que não percebi bem como isto se fazia, mas depois de ver este vídeo percebi que deve colocar-se mais um pouco de manteiga e açúcar noutra frigideira e passar para aí os pedacinhos de "bolo", deixando caramelizar. Servir com o puré de maçã.

A romã é um acrescento meu, porque... torna qualquer qualquer prato mais fotogénico 😉

 

MAIS RECEITAS DOCES DA RUBRICA "DIZ-ME O QUE LÊS":

 

*Link afiliado

 

08
Nov19

Croquetes do Barroso [Diz-me o que lês, dir-te-ei o que comes #16]

Croquetes do Barroso

Croquetes do Barroso

 

O livro que vos trago hoje foi um dos primeiros que escolhi para esta rubrica. Mas quando me vi com ele nas mãos, quando o folheei e lhe senti o pulso, vi que precisava de tempo para falar dele.

 

Esta rubrica existe porque adoro livros de cozinha, mas também porque gosto de me obrigar a experimentar receitas novas [e porque a Bertrand aderiu a esta ideia 💛].

 

Quando temos de cozinhar todos os dias para alimentar a família, é muito fácil cairmos na repetição, nas receitas que já sabemos que os miúdos gostam, naquelas que já lhes conhecemos as manhas, as versões e os atalhos.

 

O "Diz-me o que lês, dir-te-ei o que comes" só faz sentido se for mais do que uma apresentação ou crítica ao livro. Para mim, falar do livro é importante, até porque sei que muitos de vós partilham comigo esta paixão pelos livros de culinária, mas a receita é o ponto alto do post.

 

É através da replicação da receita que melhor percebo o estilo do autor, muitas vezes usando pela primeira vez determinados ingredientes. E sei que quem vem aqui, também vem pelas receitas, nem que seja para servirem de inspiração e ponto de partida. E, claro, é uma forma de ir diversificando os menus cá de casa, levando a família nesta saborosa viagem de descoberta.

 

Croquetes do Barroso

 

Neste livro, que é acima de tudo um inventário do fumeiro português, encontramos as receitas dos próprios enchidos e produtos de fumeiro [uma empreitada que não é para mim], mas também algumas receitas de autor, que recorrem a produtos de charcutaria genuínos, artesanais, de elevada qualidade. Decidi que não poderia testar nenhuma dessas receitas com produtos correntes, de supermercado. Seria uma heresia, perante o incrível trabalho de recolha do Chef Nuno Diniz.

 

Mas no livro, obrigatório para quem aprecia e tem orgulho na nossa gastronomia, o autor diz-nos onde podemos encontrar os produtos. Por isso, depois de escolher a receita [d-e-l-i-c-i-o-s-o-s 'Croquetes do Barroso' de que falo mais abaixo] contactei o produtor que me poderia fornecer a Farinhota e a Sangueira necessárias. E descobri que enviavam os produtos por correio [não é maravilhoso?]. Mas não podia ser naquela altura, tinha de esperar pelo tempo mais frio, pois só então poderiam confecionar os enchidos. Tinha de esperar pelas condições favoráveis aos ventos e aos fumos de que este livro trata, magistralmente.

 

Por isso, só agora, ao 16º post, é que entra no palco do #Dizmeoquelês o livro "Entre ventos e fumos", do Chef Nuno Diniz, professor da Escola Superior de Hotelaria e Turismo de Lisboa, consultor de diversos projetos gastronómicos, jurado de concursos televisivos e com um vasto curriculum na liderança de cozinhas de restaurantes, como o da York House, o Tágide ou o Volver. 

 

Croquetes do Barroso

DIZ-ME O QUE LÊS, DIR-TE-EI O QUE COMES #16

"Entre ventos e fumos - Fumeiros e Enchidos de Portugal" - Nuno Diniz - Bertrand Editora

 

Não é fácil arranjar palavras para começar a falar deste livro. Confesso que fiquei emocionada depois de folheá-lo e lê-lo de uma ponta à outra. O livro resultou de um apurado e longo trabalho de pesquisa por parte do Chef Nuno Diniz, que quis inventariar o excecional património gastronómico português no que diz respeito aos enchidos e produtos de fumeiro.

 

Nuno Diniz viajou por Portugal inteiro, incluindo as ilhas, ao longo de catorze anos. Aprendeu com as pessoas das aldeias, assistiu aos processos tradicionais [incluindo a matança do porco, onde não há parte do animal que não seja aproveitada], assimilou as diferenças regionais, tomou notas e notas. Fez (e faz) uso dos melhores produtos em receitas e refeições memoráveis, como os seus famosos cozidos. E, felizmente, aceitou partilhar todo esse saber connosco.

 

Depois dos textos introdutórios, os capítulos vão abordando as diferentes regiões, listando os respetivos produtos e, sobre cada um deles, indicando os ingredientes, o modo de confeção e identificando quem os produz e comercializa:

  • Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro
  • Entre o Douro e o Tejo
  • Ribatejo e Estremadura
  • O Sul e as Ilhas  - Alentejo/Algarve/Açores e Madeira

 

[Dentro dos capítulos, o Chef Nuno Diniz descreve ainda os seus três cozidos épicos, que organiza anualmente e que começam a ser preparados com dias de antecedência]

 

Aqui ficamos a saber o que são os Azedos, o Lombo Enguitado, a Peituga, a Moma, a Cupita e a Paiola. O Palaio e o Mangote. O Chabiano e o Plangaio. A Paiola e Painho. A Butifarra. A Sangueira e a Farinhota. E a lista de especialidades poderia continuar. E claro, aqui há também lugar para os produtos mais conhecidos como o chouriço e a chouriça, o salpicão, a alheira, a morcela, a farinheira e o presunto. São mais de 100 os produtos listados e descritos.

 

Croquetes do Barroso

 

Antes do capítulo final, com o sugestivo título "Um epílogo, a fechar, sem conclusões...", surgem "Os pratos do fumo e da névoa", onde estão descritas 40 receitas de autor. Algumas pareceram-me demasiado complexas [ainda que intrigantes e apetecíveis] para as minhas competências amadoras, por isso, escolhi para brilharem neste post os "Croquetes do Barroso", cuja receita não me assustou e que podem encontrar mais abaixo.

 

Resumindo: Este não é um livro de receitas, ainda que as tenha. É, acima de tudo, um livro sobre a nossa gastronomia tradicional e regional, um verdadeiro repositório de informação e conhecimento sobre a arte do fumeiro em Portugal. Uma verdadeira bíblia, merecedor de lugar de honra, ao lado de livros como o "Cozinha Tradicional Portuguesa", da Maria de Lourdes Modesto. Um contributo valioso para a preservação dos saberes associados a esta componente tão especial e única da nossa cozinha, que são os enchidos e os produtos de fumeiro. As fotografias do livro - há imagens para grande parte dos produtos - são da autoria de Marta Teixeira e são tão bonitas quanto simples, com uma luz fabulosa, a fazer brilhar os protagonistas.

 

Para saber mais sobre o livro "Entre ventos e fumos" >>> Livraria Bertrand

 

Entrevistas onde podem ficar a conhecer melhor este chef, de discurso assertivo e (potencialmente) polémico:

https://grandesescolhas.com/nuno-diniz-a-sustentabilidade-e-um-chavao-dos-chefs-para-tentar-impressionar/

https://observador.pt/2019/01/19/nuno-diniz-os-ignorantes-dizem-que-so-ha-quatro-ou-cinco-variedades-de-enchidos-nao-sao-quatro-ou-cinco-porra-nenhuma-ha-mais-de-100/

https://www.publico.pt/2019/01/05/fugas/noticia/cozidos-enchidos-fumeiro-nuno-diniz-1856100

 

E agora, sem mais demoras, entrem os croquetes!

Croquetes do Barroso

CROQUETES DO BARROSO

Receita do livro "Entre Ventos e Fumos", do Chef Nuno Diniz, que utiliza enchidos tradicionais da região do Barroso, formada pelos concelhos de Montalegre e Boticas, em Trás-os-Montes.

 

Para 26 croquetes

30 g de manteiga

30 g de farinha sem fermento

100 g de leite quente (aqueça mais leite, pode precisar)

1 cebola média bem picada

1 sangueira picada*

1 farinhota picada*

Azeite

3 folhas de gelatina

Sal e pimenta

1 ovo

Pão de centeio duro ralado

Óleo de milho para fritar

 

Começar a preparar a receita com pelo menos 6 horas de antecedência.

Colocar as folhas de gelatina a demolhar em água fria abundante, cerca de 10 minutos.

Pique bem os enchidos e reserve [não achei esta tarefa muito fácil, porque os enchidos eram bastante húmidos e desfaziam-se mais do que ficar picados, mas com paciência, consegue-se].

Fazer o bechamel: coloque a manteiga e a farinha num tacho e deixe cozinhar uns 5 minutos, mexendo sempre.

Juntar o leite quente aos poucos [tenha cuidado, pois vai espirrar] e ir mexendo até obter um bechamel bastante consistente, o que deve demorar aí uns 10 minutos.

Numa frigideira, saltear a cebola numa colher de sopa de azeite.

Temperar com um pouco de sal e pimenta.

Juntar a sangueira e a farinhota e cozinhar durante cerca de 5 minutos.

Juntar o bechamel e as folhas de gelatina bem escorridas.

Envolver tudo muito bem, verter para um tabuleiro, alisar e levar ao frio cerca de 6 horas antes de moldar os croquetes.

Antes de fritá-los, passe-os pelo ovo batido e pão ralado.

 

*Pode encomendar os enchidos diretamente à empresa Fumeiro do Barroso, que os enviará, à cobrança, pelo correio. Zona Industrial De Montalegre, Lt. 13, Montalegre, Vila Real - Tel.: 276 511 511 

 

SE GOSTARAM DESTE POST, ESPREITEM ESTES TAMBÉM:

 

 

Teresa Rebelo

foto do autor

Sigam-me

TOP 100 Food Bloggers

TOP 15 Blogs de Culinária Portugueses

Featured on

Bloglovin

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2019
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2018
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2017
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2016
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2015
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2014
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2013
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2012
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2011
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2010
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2009
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2008
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2007
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2006
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2005
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2004
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D