Após um inesperado e chato extravio de livros, o "Diz-me o que lês, dir-te-ei o que comes", rubrica que conta com o apoio da livraria Bertrand, está de volta com um livro muito apetitoso. Acreditam que este é já o 17º livro de cozinha a passar por aqui, desde que esta aventura começou, há pouco mais de quatro meses? Se me seguem no Instagram, sabem que de vez em quando lanço uns passatempos com livros da rubrica. Se gostavam de ter este livro, fiquem atentos: quem sabe não tenho um exemplar para oferecer?😉
Para quem gosta e procura informação sobre temas ligados à cozinha, às receitas e aos restaurantes, o site do Casal Mistério não é segredo [gostaram deste trocadilho? 🙈].
Na verdade, o Casal Mistério não é um blog de culinária como a maioria dos blogs de culinária, sendo mais "curadores" de receitas do que "criadores". E isto leva-me a um dos aspetos que me intrigou neste livro (que é já o terceiro lançado pelo Casal Mistério). Muitas das receitas, se não mesmo a maioria, são receitas que foram publicadas no blog mas retiradas de outros sites e blogs e que no Casal Mistério surgem acompanhadas dos devidos créditos. Mas no livro isso não acontece. Nem na introdução, nem nos agradecimentos, nem nas páginas das receitas encontro qualquer referência à sua origem.
Sei que o Casal Mistério teve o trabalho de as traduzir e provavelmente adaptar, e foram magistralmente fotografadas pela talentosa Maria Midões. Mesmo assim, não seria de fazer uma referência às versões originais?
Deixando este pequeno "mistério" de lado, devo dizer-vos que o livro é já um dos meus favoritos desta rubrica. É bonito, está bem escrito - com os apontamentos de humor característicos do Casal Mistério - e as receitas, selecionadas por serem as mais populares do blog - são muito variadas e apelativas.
Na verdade, são 99 receitas mais 16 receitas extra, generosamente disponibilizadas por 16 chefs de cozinha famosos, incluindo a da sobremesa do chef austríaco Dieter Koschina, responsável pelo restaurante algarvio Vila Joya, e que escolhi para experimentar e publicar aqui.
São 8 os capítulos em que as receitas estão agrupadas:
Para nos fazer levantar da cama
Para enganar a fome
Para partilhar com os amigos
Para comer em família
Para levar para o trabalho
Para não engordar
Para a desgraça [o meu capítulo preferido 😆]
As receitas que os chefs fazem em casa
Smoothies e panquecas. Brownies, cheesecakes e bolachas. Entradas fáceis e vistosas. Pratos reconfortantes. Sugestões rápidas e com poucos ingredientes. Sanduíches, saladas e outras propostas saudáveis. Bolos gulosos: há de tudo aqui.
E há ainda as imagens maravilhosas da Maria Midões. Tive a oportunidade de conhecer a simpática Maria há uns anos, num workshop de fotografia de comida na Clavel's Kitchen, e sou absolutamente fã do seu trabalho [já agora: uma das razões por que escolhi fazer o Rahmschmarren é que as receitas dos chefs não surgem fotografadas, e assim não tenho de comparar as minhas com as da Maria, ahahahah].
Resumindo: o livro "As 99 Melhores Receitas do Casal Mistério" é um valor seguro. A abordagem gráfica é simples mas 'eye-catching' e as receitas estão bem descritas. Apresenta receitas para os vários momentos do dia e para várias necessidades (receitas mais ou menos calóricas) sendo por isso um livro abrangente, que vamos querer ter sempre à mão. As fotografias da Maria Midões... essas são a cereja no topo do livro.
Saber mais e comprar "As 99 Melhores Receitas do Casal Mistério" >>> Livraria Bertrand*
Esta é uma receita tradicional austríaca, aqui com o toque do chef, que sugere servi-la com puré de maçã. Tentei saber mais sobre esta sobremesa de conforto - uma espécie de panqueca fofa gigante - mas todos os sites que encontrei estavam em alemão e não me apeteceu ir ao google tradutor 🤪
Para o "bolo":
300 g de natas
50 g de açúcar em pó
60 g de gemas de ovo (4 ovos pequenos)
50 g de amido de milho
1 copo de shot de rum
Raspa de limão qb
90 g de claras de ovo
60 g de açúcar (+ algum para a caramelização final)
1 colher média de manteiga (+ alguma para a caramelização final)
Para o puré de maçã:
Maçãs (usei 3 grandes)
Açúcar qb (não usei)
Sumo de limão qb
Baunilha qb (usei umas gotinhas de essência)
Canela em pó qb
Começar por fazer o puré de maçã: cozer as maçãs lentamente num fundo de água. Triturar e juntar os restantes ingredientes a gosto.
Ligue o forno nos 180º.
Com um batedor de varas, misturar bem as natas, o açúcar em pó, as gemas, o amido, a raspa de limão e o rum.
Bater em castelo as claras com os 60 g de açúcar e juntar ao preparado anterior.
Levar ao lume uma frigideira grande que possa ir ao forno e derreter nela a manteiga, espalhando-a por toda a frigideira. Verter nela a massa do "bolo" e levar ao forno durante cerca de 30 minutos.
Assim que estiver bem dourado, retirar do forno e fazer um quadriculado na massa (schmarren significa algo como "desfeito" ).
De seguida, a receita diz para barrar com "manteiga e açúcar caramelizado". Confesso que não percebi bem como isto se fazia, mas depois de ver este vídeo percebi que deve colocar-se mais um pouco de manteiga e açúcar noutra frigideira e passar para aí os pedacinhos de "bolo", deixando caramelizar. Servir com o puré de maçã.
A romã é um acrescento meu, porque... torna qualquer qualquer prato mais fotogénico 😉
MAIS RECEITAS DOCES DA RUBRICA "DIZ-ME O QUE LÊS":
Mas, tal como prometido, aqui está um novo livro. E esta semana trago não uma, mas duas receitas: camarão com quiabos cozinhados num molho à base de leite de coco e tomate e chamuças vegetarianas. Sabores exóticos que nos chegam do Cantinho do Aziz - "o mais antigo restaurante moçambicano em Portugal" , através do livro "Cozinha Moçambicana", cuja autora é a chef responsável pelo restaurante.
Há já algum tempo que andava curiosa sobre este livro. Este ano, quando fui à Feira do Livro de Lisboa apresentar um showcooking Yämmi e dar a conhecer os livros de receitas deste robot de cozinha, o showcooking antes do meu foi precisamente o da Chef Jeny Sulemange. Não imaginam a fila que se formou para degustar os pratos que tinha cozinhado, notava-se que as pessoas estavam a adorar o que estavam a comer. Na altura, ocupada em preparar o showcooking, não pude provar as iguarias nem pude dar muita a atenção ao livro, em destaque na banquinha junto ao palco-cozinha da Feira do Livro. Mas adicionei-o à minha (interminável) wish list.
Cozinhar e provar pratos de outros países é uma forma maravilhosa de viajar e enriquecer a nossa cultura. Nas minhas estantes tenho uma prateleira dedicada à "cozinha do mundo" e é com o maior prazer que ali vou arranjar espaço para este livro colorido e "positivo".
Sim, este é um livro cheio de boas energias, que vale pelas receitas simples que nos dão a conhecer um pouco da gastronomia moçambicana, mas sobretudo pela história - ou histórias - que nos conta. Nunca estive no Cantinho do Aziz (Aziz é o apelido do marido de Jeny, filho dos fundadores do restaurante), mas gostei de saber que este restaurante existe em Lisboa desde 1983 e que foi, sobretudo nos primeiros tempos, um porto de abrigo, onde muitos moçambicanos iam para matar as saudades do seu país e para desabafarem sobre política. Hoje em dia é um restaurante procurado pelos comensais mais diversos, incluindo imensos turistas, atraídos pelas várias reportagens publicadas no estrangeiro.
Um sucesso tal, que hoje já existe um Cantinho do Aziz em Leeds, Inglaterra, e, depois de uma experiência em formato pop-up, é bem provável que o Cantinho do Aziz abra brevemente em Nova Iorque.
Este não é um livro extenso, são pouco mais de 50 receitas, entre entradas, pratos principais, acompanhamentos, cocktails e sobremesas. São bastante simples de executar, sendo que algumas são muito parecidas, quase que variando apenas a proteína utilizada. Uma das coisas giras do livro é o facto de muitos pratos terem nomes vindos de dialetos moçambicanos. "Matapa de Amendoim", "Yuca Malaku", "Yuca Miamba", "Miamba Macua", "Ikala", etc. Muitos destes nomes remetem para os ingredientes: "miamba" é camarão e "ikala" é caranguejo, por exemplo.
Há um aspeto, comum a várias receitas, de que gostei bastante. A maior parte dos pratos principais são pratos "caldosos", ou seja, com os ingredientes principais (camarão, frango, legumes, etc.) envolvidos em molho, quase sempre feito à base de leite de coco, cebola e tomate. O curioso é que este molho se prepara, em quase todos os casos, sem refogado e sem qualquer gordura para além da naturalmente presente no leite de coco. É só ferver o leite de coco com a cebola e o tomate, triturar, e depois colocar aí a cozer os restantes ingredientes. Saudável, certo?
Não foi fácil escolher a primeira receita a experimentar, por isso, resolvi fazer duas. A verdade é que, se por um lado há várias receitas que pedem ingredientes básicos e fáceis de encontrar, outras há, mais exóticas, cujos ingredientes só se arranjam nos grandes hipermercados, como é o caso dos quiabos - que comprei e usei aqui pela primeira vez - os caranguejos ou a banana-pão.
Resumindo: é um livro que transmite autenticidade e que nos enriquece do ponto de vista gastronómico. Perfeito para quem adora leite de coco, amendoim e camarão - são várias as receitas que os incluem. Numa próxima edição talvez fosse interessante explicar onde se podem encontrar alguns ingredientes (como aguardente de caju ou massa para chamuças - nas chamuças deste post usei massa filo, mas fiquei a pensar se não haverá à venda uma massa específica para chamuças, apesar de uma pesquisa rápida não me ter elucidado).
As fotografias (já sabem que valorizo muito esta componente) não são extraordinárias, mas são honestas, mostrando o essencial do prato, e todas as receitas vêm acompanhadas de imagem, o que eu aprecio. As receitas são bastante simples e permitem-nos dar o nosso toque pessoal.
Vamos cozinhar?
CHAMUÇAS VEGETARIANAS [NO FORNO] [adaptado do livro "Cozinha Moçambicana", de Jeny Sulemange]
Para cerca de 24
65 ml de água 25 g de farinha de trigo 1 molho pequeno de coentros 1 cebola grande 200 g de milho cozido 200 g de queijo mozzarella ralado 8 folhas de massa filo Óleo ou azeite qb
Numa tacinha, junte a farinha e a água, mexa bem e reserve (é a "cola" para fechar as chamuças). Pique os coentros e a cebola. Coloque numa taça grande e junte o milho e o queijo. Ligue o forno nos 180º Desenrole as folhas de massa filo. Corte-as ao comprimento em 4 tiras cada folha. Coloque um montinho de massa na ponta inferior de cada tira e vá dobrando em triângulo até terminar a massa - veja aqui o tutorial fantástico da Clara de Sousa. No final, cole a ponta de massa filo com a mistura de água e farinha. Coloque-as num tabuleiro forrado com papel vegetal. Pincele-as levemente com um pouco de óleo ou azeite. Leve ao forno numa posição central - função ventoinha, se tiver - cerca de 20 minutos ou até estarem bem coradas e estaladiças. Devem ser servidas ainda quentes, para o queijo não endurecer.
CAMARÃO COM QUIABOS [do livro "Cozinha Moçambicana", de Jeny Sulemange]
Para 4 pessoas
5 tomates pequenos 1 cebola 800 ml de leite de coco 100 g de quiabos frescos 500 g de camarão sem casca (cerca de 1 kg de camarão com casca) Sal qb Pimenta preta acabada de moer (opcional)
Coloque o leite de coco numa panela (ou no copo do robot de cozinha), junte o tomate e a cebola partidos em quartos e deixe cozinhar uns cinco minutos. Retire do lume e triture. Nesse molho coloque os quiabos e deixe ferver 3 a 5 minutos. Junte o camarão e cozinhe mais 2 a 3 minutos. Prove e retifique o sal, à partida terá de adicionar bastante sal (para cortar com a doçura do leite de coco, também adicionei pimenta preta acabada de moer). O livro sugere que se sirva com "shima de milho" (uma papa feita com farinha de milho e água) ou arroz de coco (arroz basmati cozido em leite de coco). Eu servi com arroz basmati simples.
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Sei que tenho andado desaparecida aqui pelo blog. Para me redimir, trago-vos uma receita doce, daquelas que não dão muito trabalho mas que fazem um brilharete. Uma receita italiana de biscoitos de avelã recheados com chocolate, curiosamente batizados de "Baci di Dama", ou seja, "Beijos de Dama".
Agora vou poucas vezes ao El Corte Inglés (cada vez mais tento fazer tudo - compras, médicos, etc. - o mais perto de casa possível e se o puder fazer a pé, tanto melhor), mas quando vou àquele templo da tentação, acho que já sabem que não resisto a passar pela tabacaria, onde encontramos revistas impossíveis de arranjar noutros locais. Da última vez, trouxe uma GoodFood e uma FoodToLove e foi nesta última, num especial sobre comida italiana, que encontrei a receita.
No post que fiz no Instagram em que partilhei uma foto destas bolachas, contei que elas não tinham sido consensuais. Eu fiquei apaixonada à primeira trinca e tive de esconder o frasco, ou teriam sido todas comidas no próprio dia - e olhem que a receita rende bastante.
Mas houve quem as tivesse achado "estranhas". Mas sabem o que é curioso? É que mesmo no caso do sabor e da textura começarem por "estranhar", é quase certo que depois irão "entranhar": no dia seguinte, o provado-mor voltou a comer uma e concluiu que, afinal, "até eram boas". E comeu outra, e a seguir outra... E não foi a única pessoa a ter esta reação!
É verdade que sabem imenso a avelã e que a textura é bastante areada e um pouco quebradiça, mas eu achei-as deliciosas. Digo-vos que é com o maior dos desconsolos que neste momento olho para o frasco vazio. Podia fazer outra dose? Podia, mas esta é uma receita calórica, por isso, não quero abusar e vou deixar passar uns tempos até voltar à carga.
Mas se desse lado não houver sentimentos de culpa ou dietas rigorosas a decorrer, toca a experimentar estes beijos o quanto antes. Não se irão arrepender!
CURIOSIDADE
Consta que a receita original destes biscoitos nasceu na cidade de Tortona, pertencente à região do Piemonte, no Norte de Itália.
BACCI DI DAMA - Biscoitos de avelã recheados com chocolate
[ligeiramente adaptado da revista Food to Love - March 2019]
Rende entre 45 a 50 bolachinhas - cerca de 25 recheadas
Ingredientes
100 g de manteiga amolecida
75 g de açúcar amarelo
100 g de miolo de avelã moído
100 g de farinha sem fermento
+
100 g de chocolate negro de culinária (entre 52% a 70% de cacau)
40 g de manteiga
15 g de miolo de avelã moído ou finamente picado
Preparação
Ligue o forno nos 180º.
Forre dois tabuleiros de forno com papel vegetal.
Com a batedeira elétrica, bata a manteiga e o açúcar até ficar macio.
Junte a avelã e a farinha e ligue tudo até obter uma massa moldável.
Faça bolinhas um pouco mais pequenas do que brigadeiros e distribua-as pelos tabuleiros, deixando um certo espaço entre elas.
Com o indicador, achate-as ligeiramente a partir do centro e corrija alguma rachadela que possa surgir à volta.
Leve a cozer durante cerca de 10 minutos, mas vá vigiando, até ganharem uma cor dourada suave no rebordo. Retire, aguarde uns cinco minutos e com uma espátula transfira-as para um rede.
Enquanto os biscoitos estão no forno, prepare o recheio (a receita original pede o dobro destas quantidades, mas a mim sobrou-me imenso recheio, pelo que sugiro que sigam as medidas que coloquei ali em cima).
Leve a manteiga e o chocolate partido em pedaços ao lume, em banho-maria. Quando estiver tudo ligado e macio, retire e deixe arrefecer. Junte a avelã moída e reserve até ficar com uma consistência mais firme (se estiver com pressa e a temperatura ambiente estiver um pouco elevada, leve o creme de chocolate ao frigorífico durante alguns minutos para ganhar consistência).
Para montar os biscoitos, barre o fundo de um biscoito com o creme de chocolate e cole outro biscoito pelo fundo, fazendo uma sanduíche. Eu usei saco e bico pasteleiro para dispor o chocolate, mas pode usar uma faca de manteiga ou uma colher pequena.
Depois de prontos, conserve-os bem fechados num frasco hermético.
Conhecem bem esta maquineta, certo? Pois bem, tenho uma cá em casa. Ainda com o plástico protetor e na caixa original. Por estrear, portanto. Há quanto anos? Há uns oito, bem à vontade.
Quantas vezes pensei em fazer massa fresca? Várias.
Quantas vezes fiz? Nenhuma. Ou melhor, nenhuma até à semana passada e descontando o workshop de massas frescas que fiz há uns anos na Escola de Hotelaria do Porto.
Em todo o caso ainda não foi desta que fiz massa fresca à séria. Ainda não foi desta que estreei a máquina.
Infelizmente isto não me aconteceu só com a massa fresca. Há inúmeras receitas que volta e meia penso em experimentar, mas depois acabo por cair na rotina e cozinhar muitas vezes a mesma coisa. Uma vergonha para quem se diz ser viciada em livros e revistas de cozinha. Digam-me por favor que não estou sozinha!
A epifania da semana passada foi fruto de ter visto um episódio do Jamie em que ele fez estes "pici" (há quem diga que não são "pici" mas sim "trofie"). Estão no livro "Receitas Saudáveis para toda a família", que eu gostava de ter, mas não tenho (pode ser que o meu Pai Natal leia este post).
Antes de passarmos à receita, devo dizer que a textura desta pasta que parece feijão-verdenão é perfeita, fica um pouco chewy, mas é tão simples e está tão carregada de espinafres, que isso passa a ser um detalhe com pouca importância. Mas a melhor prova de que vale a pena fazê-la e repeti-la é o facto dos meus dois adolescentes a terem devorado e a terem elogiado, sendo eles atualmente os meus comensais mais exigentes.
A versão das fotos, servida com um salteado de legumes, foi o meu almoço no dia em que fiz a massa. À noite, servi-a com molho de tomate caseiro e foi mesmo um sucesso.
Agora que ganhei um pouco de alento, acho que já não falta muito tempo para desembrulhar a máquina...
MASSA FRESCA DE ESPINAFRES FÁCIL C/ LEGUMES SALTEADOS
Para a massa (receita de Jamie Oliver):
300 de farinha T55 sem fermento (se tiver acesso a farinha italiana 00, ainda melhor)
200 g de espinafres baby (1 saco + 1 pouco)
Para o salteado de legumes:
(usei quantidades a olho, para cerca de 1/4 da massa obtida)
Alho
Cebola
Courgete
Pimento vermelho e amarelo
Tomate cereja
Azeite extravirgem
Vinho branco (opcional)
Piripiri em pó
Sal
Para servir: queijo parmesão, nozes/pinhões e manjericão (não tinha manjericão mas teria sido um ótimo acrescento)
Para fazer a massa vai precisar de um robot de cozinha ou de um processador de alimentos, tipo liquidificador, potente.
Coloque a farinha no robot, junte as folhas de espinafres e triture até obter uma massa moldável: já está!
Retire e forme uma bola com a massa.
Enfarinhe a superfície de trabalho e vá tirando pedacinhos de massa de tamanho de berlindes: comece por fazer uma bolinha e depois estique-as até obter uma espécie de "minhoca", o que vai demorar pelo menos meia hora - se tiver ajudantes para esta tarefa, melhor!
Para o salteado de legumes, leve um fio de azeite a aquecer numa frigideira.
Junte a cebola e depois o dente de alho. Deixe cozinhar um pouco e junte a courgete e os pimentos cortados em cubos. De seguida adicione o tomate cereja cortado em metades. Tempere com um pouco de sal e piripiri.
Refresque com um pouco de vinho branco e deixe que os tomates comecem a murchar e a largar os sucos.
Entretanto, coloque ao lume uma panela com água e sal. Quando estiver a ferver, insira a massa e coza durante uns 10-15 minutos (achei o tempo que a receita original menciona - 5 minutos - insuficiente).
Se achar que o salteado está a ficar seco, junte-lhe um pouco de água da cozedura da massa. Prove e retifique os temperos.
Escorra bem a massa (reservando alguma água) e junte-a ao salteado, envolvendo bem e juntando um pouco mais de água da cozedura se achar necessário.
Junte um pouco de quejo parmesão ralado, envolva bem e sirva sapicado com o manjericão, os frutos secos e mais parmesão para quem quiser.
Nos últimos dias, as notícias sobre a terrível situação que se vive na Síria foram particularmente chocantes. Segundo um balanço noticiado no início desta semana, os ataques que têm assolado Ghouta Oriental desde o dia 22 de fevereiro já mataram 800 civis, sendo que 177 eram crianças. A somar às centenas de milhares de mortos e refugiados desde que o conflito começou. A somar aos que morreram ontem e que vão continuar a morrer amanhã. Uma guerra hedionda que parece impossível estar a acontecer em pleno século XXI.
É impossível ficar indiferente a este drama, ainda que o sentimento seja de impotência. E de alívio egoísta: que sortudos somos em ter nascido num país pacífico. Nem sequer ouso imaginar o sofrimento das famílias sírias ao longo dos últimos sete anos. Famílias para quem o simples ato de cozinhar e partilhar uma refeição tornou-se um luxo inacessível: por falta de condições, por falta de alimentos ou porque simplesmente já não há família.
Apesar de só os políticos e os diretamente envolvidos no conflito sírio poderem pôr-lhe um fim, há pequenos gestos de solidariedade que podem contribuir para apoiar as vitimas e foi nisso que pensaram Clerkenwell Boy - um famoso foodie e instagrammer australiano a viver em Londres, e Serena Guen, fundadora da revista Suitcase. Juntos idealizaram o projeto #cookforsyria, tendo mobilizado para a causa uma montanha de chefs e bloggers de cozinha. O livro Cook for Syria é a face mais visível dessa iniciativa, cujo resultado das vendas reverte para o programa de ajuda humanitária na Síria da Unicef.
Quando estive em Londres, em novembro passado, tive a sorte de passar pelo Old Spitalfileds Market no momento em que estava a decorrer um evento ligado ao projeto, com venda de bolos e do livro. Comprei um exemplar e achei que por estes dias fazia todo o sentido explorá-lo e homenagear a cozinha síria, que é tão rica e aromática, com tantos ingredientes de que eu gosto.
As receitas do livro não são necessariamente receitas tradicionais sírias, mas sim receitas inspiradas na gastronomia síria e nos seus ingredientes, criadas por dezenas de bloggers de cozinha e chefs - há até uma receita do chef português radicado em Londres Nuno Mendes.
Escolhi para primeira experiência umas almôndegas de frango e amêndoa, servidas com um molho feito com manteiga de amêndoa - que fiz pela primeira vez - e caldo de galinha. Um contributo para o livro de Ameelia Freer, que foi um sucesso cá em casa.
Antes de passarmos à receita, queria só deixar mais duas sugestões de como apoiar o povo sírio: comprando outro livro solidário, este disponível em português: "Uma Sopa para a Síria" ou indo ao restaurante Mezze, em Lisboa, um interessante projeto da Associação Pão a Pão que visa a integração de refugiados sírios e do Médio Oriente no nosso país.
ALMÔNDEGAS DE FRANGO E AMÊNDOA NO FORNO [COM MOLHO DE MANTEIGA DE AMÊNDOA]
500 g de carne de coxas e pernas de frango*** picadas no robot de cozinha
(equivalente a umas 4 pernas completas)
1 ovo batido
1/2 talo fino de alho francês picado
4 colheres de sopa de farinha de amêndoa (moí miolo de amêndoa, parte dela com pele, na Bimby)
2 colheres de sopa de coentros frescos picados
1 colher de chá de coentros secos
1 colher de chá de cominhos moídos
Pimenta preta acabada de moer qb
Sal qb
Azeite para pincelar
Comece por preparar o molho: junte lentamente o caldo quente à manteiga de amêndoa. No início vai parecer que a manteiga está a engrossar, mas continue a adicionar caldo e a mexer com um batedor de varas, até ficar com a consistência macia de natas espesssas. Junte-lhe a raspa do limão, retifique o sal se achar necessário e reserve.
Para as almôndegas, ligue o forno nos 200º e forre um tabuleiro com papel vegetal.
Junte todos os ingredientes numa taça grande. Humedeça as mãos e faça bolinhas do tamanho de brigadeiros.
Disponha-as no tabuleiro e pincele-as com azeite.
Leve ao forno durante cerca de 15-20 minutos.
Entretanto aqueça de novo o molho, mas lentamente: se aquecer rapidamente a alta temperatura, o molho irá transformar-se numa pasta!
Sirva bem quente com uma salada de alfaces ou legumes verdes cozidos e arroz branco.
* Eu usei os ossos das pernas e das coxas do frango para fazer o caldo, juntando numa panela grande 2 cenouras partidas aos pedaços, 1 folha de louro, 1/2 talo de alho-francês, 1 cebola, 2 dentes de alho, um raminho de salsa, um fio de azeite, pimenta preta qb, sal e sal de aipo qb. Cobri com água e deixei cozer lentamente até ter reduzido bastante, aí umas duas horas. Coei e guardei num frasco - com o que sobrou vou fazer um risotto.
** Para fazer a manteiga de amênda, coloque no robot de cozinha duas chávenas de miolo de amêndoa sem pele, levemente tostado. Triture, empurrando de vez em quando para baixo o que ficar agarrado às paredes do copo. O processo deve demorar uns 15-20 minutos. Está pronto quando atingir uma textura bem macia. Pode juntar um pouco de azeite ou óleo vegetal, para ajudar a triturar melhor e ficar mais cremoso. Tempere com sal, volte a triturar, retire e reserve.
*** Pode fazer as almôndegas com peitos de frango em vez de pernas completas, no entanto, para além da carne destas ser mais suculenta, pode aproveitar os ossos para fazer o caldo, como expliquei em cima; para não ter o trabalho que eu tive de desossar as pernas, peça no talho para o fazerem e não se esqueça de pedir os ossos ;)
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