Pizza de uvas americanas assadas com queijo de cabra [e uma doce viagem à infância]
Esta semana chegou-me cá a casa um cesto de uvas, da casta popularmente chamada de "americana". Estas uvas não se conseguem comprar nos supermercados ou nas frutarias e julgo que mesmo em muitas casas e quintas com vinhas, já quase não há esta variedade, pelas razões que explico mais à frente.
Estas uvas têm uma pele grossa, que sai facilmente (ainda que eu coma o bago completo) e um sabor característico, mais forte do que as uvas de mesa mais comuns. Mal levei uma à boca, lembrei-me de imediato dos finais de verão da minha infância, em que íamos vindimar a casa dos meus avós maternos. Era pequena, julgo que foi ainda antes de entrar na primária, idade que me vedava o acesso aos escadotes de madeira, periclitantemente encostados aos troncos das vides. Mas lembro-me de ajudar a carregar os canistréis e de andar por ali, entretidíssima com toda aquela animação. O ponto alto era quando me davam a provar o vinho doce. Isso é que era uma emoção, sentia-me uma rapariga crescida. Afinal, estava a beber vinho, certo?
Recordo-me de na altura ouvir qualquer coisa sobre ser proibido ter esta casta plantada ou pelo menos fazer vinho com estas uvas, uma vez que esse vinho, conhecido pelo nome de "morangueiro", fazia mal à saúde. Isso levou a que estas uvas fossem desaparecendo, até mesmo dos pequenos quintais. Depois de uma breve pesquisa, descobri que mais do que motivos sérios ligados à segurança alimentar, o que esteve por detrás da proibição foram interesses comerciais: a uva americana produzia-se mais facilmente e em maior quantidade do que as castas europeias, permitindo produzir a bebida em maiores quantidades e a preços mais competitivos, pese embora a sua qualidade não fosse extraordinária.
Mas deixemos as políticas económicas de parte e voltemos ao mais importante: esta espécie de pizza, ótima para servir como entrada ou petisco numa refeição informal. Podem usar outro tipo de uvas "tintas", mas se tiverem alguém que vos possa oferecer uns cachos de uva americana (estas estavam especialmente doces, perfeitas), não hesitem: o resultado da mistura destas uvas com o alecrim e o queijo de cabra é fenomenal.
Podem também optar por não fazer pizza, mas servir as uvas assadas em tostas, com um pouco de queijo esfarelado por cima. Fica igualmente bom. Quanto à massa de pizza, adaptei ligeiramente a receita do livro base da Bimby, enriquecendo-a com sementes trituradas para lhe dar crocância, mas podem usar a vossa massa de pizza favorita ou até mesmo massa de compra, se estiverem sem tempo.
Espero que gostem tanto desta combinação como eu. E se experimentarem, deixem um comentário, adoraria poder ouvir o vosso feedback.
PIZZA DE UVAS AMERICANAS ASSADAS COM QUEIJO DE CABRA
Para 2 pizzas/ 8 pessoas, como entrada
400 g de massa de pizza
375 g de bagos de uvas tintas, idealmente 'americanas'
4 ou 5 colheres de sopa de queijo ricotta, rqueijão ou queijo creme
100 g de queijo chèvre
Alecrim fresco qb (não é opcional, faz toda a diferença!)
Sal qb
Pimenta preta acabada de moer
Azeite qb
Ligue o forno nos 220º.
Lave bem os bagos de uva e coloque-os num tabuleiro de ir ao forno, temperados com um fio de azeite, sal e pimenta preta. Junte ainda algumas folhinhas de alecrim fresco e envolva bem. Leve ao forno durante cerca de 15 minutos ou até estarem murchas, a largar a pele e o tabuleiro já estiver com imenso sumo. Retire e deixe arrefecer.
Estenda a massa em duas pizzas médias ou faça minipizzas. Coloque nos tabuleiros apropriados e pincele-as com azeite.
Baixando a temperatura do forno para os 200º, leve-as ao forno para uma pré-cozedura (eu faço isto em todas as minhas pizzas, pois gosto da massa crocante), durante cerca de 8 minutos. Retire do forno, deixe arrefecer um pouco.
Barre as pizzas com o ricotta ou outro queijo similar.
Espalhe alguns pedacinhos de queijo chèvre.
Espalhe agora as uvas, deixando as "agulhas" do alecrim e a maior parte do sumo no tabuleiro.
Termine com mais chèvre esfarelado e leve ao forno durante cerca de 10-15 minutos ou até o queijo estar a borbulhar e a ficar dourado.
Parta em fatias e sirva.
Se desejar, pode acompanhar com rúcula: em salada ou como topping.
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