O peixe que veio do frio [Bacalhau da Islândia à moda da minha mãe]
Já há muito que queria partilhar convosco uma das receitas de família que me são mais queridas. O “Bacalhau coberto” da minha mãe - e o nome do prato é mesmo assim, curto e simples - é uma instituição. Desde pequena que o vejo a ser servido na véspera de Natal - feito sobretudo a pensar nos mais novos, que torciam o nariz ao bacalhau cozido com todos. Mimos de mãe e de avó.
E se é verdade que volta e meia a minha mãe prepara esta receita, é no Natal e nos dias mais frios que esta comida de conforto nos sabe melhor. Desafiada pelo Bacalhau da Islândia a apresentar uma receita onde o fiel amigo fosse a estrela*, lembrei-me então de cozinhar o ‘Bacalhau coberto’, elogiado por todos os que já o provaram. Uma receita que tem atravessado gerações, pois a minha mãe aprendeu a fazê-la com a minha avó paterna.
É natural que a minha mãe lhe tenha dado o seu toque pessoal e eu, depois de apontar a receita, decidi também introduzir um ou outro detalhe, que não altera em nada a sua essência: puré, cebolada em azeite generoso, bacalhau cozido lascado, ovo cozido, puré, azeitonas. Ou seja, um empadão de bacalhau, mas que já a minha avó Luísa designava por “Bacalhau coberto”.
A qualidade do bacalhau é essencial para a qualidade final da receita e com o Bacalhau da Islândia, não há como não ficar um prato delicioso. Não é à toa que lhe chamam “o melhor bacalhau do mundo”. Pescado de forma sustentável nas águas geladas islandesas e salgado de acordo com o saber transmitido de geração em geração nas aldeias piscatórias desta ilha do norte da Europa, o Bacalhau da Islândia apresenta uma lasca perfeita e um sabor irrepreensível, depois de corretamente demolhado.
Um peixe que nos chega de um país frio e cheio de maravilhas naturais (a Islândia está no topo da minha wishlist de viagens), e que vem aquecer as nossas mesas com um mundo de possibilidades em termos de receitas. Este “Bacalhau coberto” é apenas uma das mil e uma formas de cozinhar este ingrediente nobre, e o meu desejo é que que sirva de mote para momentos felizes à volta da mesa.
BACALHAU COBERTO
Para 5/6 pessoas
Para o puré:
1 kg de batatas descascadas e cortadas aos pedaços
200 g de cenoura descascada e ralada
400 ml de leite meio-gordo
Sal, pimenta preta e noz-moscada qb
1 colher de sopa bem cheia de manteiga
Para o recheio:
3 lombos de Bacalhau da Islândia demolhado
4 dentes de alho
2 folhas de louro
1 cebola pequena + 2 cebolas grandes
3 ovos
2 colheres de sopa de pimento vermelho em conserva
Azeite
Para finalizar:
1 ovo batido
1 punhado de azeitonas descaroçadas
Comece por fazer o puré, usando um robot de cozinha ou uma panela tradicional. Leve a cozer no leite a batata e a cenoura (esta deve ser ralada, para que fique cozida ao mesmo tempo que a batata), temperando com sal, pimenta preta e noz-moscada. Quando estiver tudo bem cozido, junte a manteiga e reduza a puré.
Entretanto leve a cozer os lombos de bacalhau com um dente de alho esmagado, uma cebola e uma folha de louro. Noutro tacho com água, leve a cozer três ovos – coloque na água um fio de vinagre para que depois seja mais fácil descascá-los.
Numa frigideira ou tacho baixo e largo, coloque um bom fundo de azeite e leve a refogar as restantes cebolas cortadas em meias-luas e os restantes dentes de alho laminados e uma folha de louro. Deixe cozinhar até a cebola estar bem macia e a ficar translúcida.
Pré-aqueça o forno nos 180º. Antes de começar a montar o empadão, lasque o bacalhau, eliminando peles e espinhas e descasque e parta os ovos em rodelas.
Pincele uma assadeira com azeite e faça uma camada com cerca de metade do puré. Regue com a maior parte da cebolada e faça uma camada com as lascas do bacalhau. Disponha por cima as rodelas de ovo cozido, espalhe tirinhas de pimento vermelho assado em conserva e salpique com mais um pouco da cebolada. Tape com o restante puré.
Espalhe por cima algumas azeitonas descaroçadas e pincele com ovo batido. Leve ao forno até sentir que está bem quente, a borbulhar e com uma cor dourada. Sirva com legumes cozidos.
Notas:
- Este é daqueles pratos práticos de forno, que pode ser preparado com antecedência e depois é só colocar no forno, sem stress ou cozinha desarrumada;
- Continuo sem cozinha (e sem casa, na verdade). Esta sessão fotográfica foi, por isso, feita em casa dos meus pais. O que, tendo em conta a receita, fez todo o sentido ;)
*Post em parceria com Bacalhau da Islândia