Mousse de chocolate em casca de laranja [Diz-me o que lês, dir-te-ei o que comes #10]
Mais uma semana, mais uma voltinha pelas prateleiras da secção de culinária da Livraria Bertrand. Este é já o 10º post no âmbito da rubrica #dizmeoquelês, dedicada a todos os que, como eu, adoram livros de cozinha.
E hoje, voltamos à culinária "convencional". Não sei se este é o termo mais apropriado, mas com tantas dietas e regimes alimentares na ordem do dia, às vezes fica difícil definir a cozinha e as receitas que se enquadram num regime sem restrições, à moda das nossas mães e avós, mas onde, a partir de uma base clássica, cabe uma pitada de fusão e criatividade. Que nome dariam a esta cozinha? Fica o desafio!
Diz-me o que lês, dir-te-ei o que comes #10
"A Sentada" - Sandra Nobre - Casa das Letras/24 Kitchen
Para mim, até ter apanhado um dos seus programas no canal 24 Kitchen, a Sandra Nobre era apenas a mulher do ex-jornalista Artur Albarran, informação obtida a folhear, há muitos anos, uma qualquer revista "do social".
De facto, foi com surpresa que, um dia, ao fazer zapping, a reconheci atrás de uma bancada de cozinha, a ser host de um programa de culinária chamado "A Sentada". Confesso que não foi amor à primeira vista. Deviam ser os primeiros programas e lembro-me de achar que estava pouco à vontade e de haver muitos momentos de silêncio. Mas, ainda que não tenha seguido o "A Sentada" de forma regular, sempre que apanhava um dos seus programas, não mudava de canal e ficava a assitir, sobretudo porque gostava das receitas. E com o tempo fui sentindo que a Sandra estava cada vez mais desenvolta - e feliz - em frente às câmaras.
Estava com curiosidade para conhecer o seu livro e ainda bem que o escolhi para a rubrica. Através dele, fiquei a saber imensas coisas sobre a autora, como por exemplo o facto de ser uma chef formada pela conceituada escola Le Cordon Bleu, primeiro na África do Sul e depois em Londres. Um percurso trilhado numa fase já 'madura' da sua vida, o que prova que nunca é tarde para seguirmos os nossos sonhos.
Ah! E fiquei finalmente a saber o que significava o nome do programa (não, nunca me deu para fazer uma pesquisa no Google, mas a verdade é que me intrigava). Uma "sentada" (termo luso-africano) é um convívio à mesa, uma refeição demorada e recheada de petiscos, uma jantarada entre amigos ou família, que se prolonga entre conversa e comida. Agora, faz todo o sentido, não? 😁
Adianto já que gostei muito do livro. Está organizado por menus com três receitas cada um, agrupados de acordo com as estações do ano, com o bónus de quatro receitas de cocktail para brindarmos ao início de cada estação.
Percebe-se que Sandra - "angolana de gema, mas de origens portuguesas, cabo-verdianas e norueguesas" - é bastante viajada, e partilha connosco o saber e os sabores que foi descobrindo ao longo dessas vivências. Assim, no livro, há os menus "Holandês", "Sueco", "Italiano, "Austríaco", "Grego", "Francês", "do Médio-Oriente", entre muitos outros, sem esquecer o "Menu Vegetariano", o "Menu de Natal" ou o inusitado "As receitas preferidas da família real britânica."
Este é, verdadeiramente, um livro de receitas. À exceção dos prefácios e de uma apresentação, na primeira pessoa, da autora, não há dicas, listas de utensílios, teorias sobre organização doméstica ou informação sobre ingredientes (o que agradecemos, porque já há muitos outros livros que têm estes conteúdos). Mas há um textinho que apresenta cada receita, através dos quais aprendemos imensas curiosidades, como uma lenda da sorte italiana associada aos Gnocchis, a origem da salada Niçoise ou a influência da cozinha flamenga e malaia na África do Sul.
As receitas são de uma maneira geral bastante apelativas e a mim deu-me vontade de colocar post-its em quase todas. Foi por isso difícil escolher a primeira. Queria um doce ou uma sobremesa porque, não só são as que mais gosto de testar e fotografar, como sei que também são as vossas receitas favoritas 😉
A escolha acabou por recair nesta mousse de chocolate, porque adorei a ideia de servi-la em metades de casca de laranja. Quando se fala tanto em reduzir o desperdício, em reutilizar e poupar recursos, esta receita é - apesar de pequeno ou apenas simbólico - um bom exemplo. Estas cascas foram de laranjas espremidas para o sumo do pequeno-almoço, e não foi preciso usar água para lavar as taças depois 😉
Para além desta, há outra receita no livro que me faz pô-lo já na prateleira dos favoritos, mesmo que ainda não a tenha experimentado (não vai demorar muito e irei dar-vos feedback, prometo). Curiosos? Então, reparem bem: no livro há uma receita de "Bolinhos de lava de... limão"! Imaginem um petit gateau de chocolate, com aquela massa ainda líquida a escorrer quando se parte, mas na versão chocolate branco e limão... OMG!
Resumindo: "A Sentada", de Sandra Nobre, é um livro apelativo, com uma encadernação diferente do habitual (tenho algum receio de que a lombada em argolas, tipo espiral, possa revelar-se pouco prática com o uso). Há fotografias bonitas, de Silvia Ramirez, para todas as receitas, que, pelas minhas contas, são 70, maioritariamente entradas, pratos principais e sobremesas. Apresentam variedade no que diz respeito a ingredientes e formas de confeção e seguem uma cozinha de base clássica, com alguns apontamentos mais contemporâneos e originais.
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Agora, a receita de mousse, aprovada cá em casa com distinção.
MOUSSE DE CHOCOLATE EM CASCA DE LARANJA
Receita original: livro "A Sentada", de Sandra Nobre
Para 4 *
2 laranjas bonitas
2 ovos L
160 g de chocolate negro partido em pedaços
10 g de manteiga
1/2 chávena de café espresso
10 ml de licor de laranja (usei Cointreau)
1 colher de chá de açúcar amarelo (adição minha, não faz parte da receita original)
1 pitada de sal
Para decorar:
Raspas ou pepitas de chocolate negro qb
Folhinas de hortelã
Parta a meio as laranjas, esprema-as e aproveite o sumo para beber.
Com cuidado, retire as peles do interior da casca.
Leve ao lume em banho-maria o chocolate, a manteiga, o açúcar, o licor e a pitada de sal.
Entretanto, parta os ovos e separe as gemas das claras, colocando estas na taça da batedeira.
Quando o chocolate estiver bem derretido e os restantes ingredientes bem incorporados, retire do lume e junte uma gema de cada vez, mexendo bem. Reserve, até para que arrefeça um pouco.
Bata as claras em castelo.
Comece por juntar 1/3 das claras à mistura de chocolate e mexa. Depois, vá envolvendo, suavemente as restantes claras.
Se quiser usar bico pasteleiro para encher as cascas, leve ao frigorífico primeiro, para prender (a minha mousse ficou cerca de duas horas no frigorífico, antes de ser colocada nas cascas).
Retire a mousse do frio, coloque-a num saco de pasteleiro munido de um bico largo frisado e encha as cascas.
Leve ao frigorífico até ao momento de servir, altura em que pode salpicar com raspas de chocolate e decorar cada taça com uma folhinha de hortelã.
* Se usar bico pasteleiro, só vai conseguir, no máximo, 3 mousses. Eu fiz dose e meia da receita aqui apresentada e consegui 4 mousses com bico pasteleiro e uma mais pequena; julgo que dose e meia da receita teria dado para distribuir uniformemente, à colher, por 5 metades de casca de laranja de tamanho normal. Mas querem um conselho? Dobrem a receita, não se vão arrepender 😉
Post com o apoio da Bertrand.
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