Este não é um livro recente. Foi lançado em 2015, já vai na 4ª edição, e há muito que o cobiçava quando o via nas livrarias. Quem me segue, sabe que não sigo a filosofia e o estilo de vida macrobiótico, que é o apresentado neste livro. No entanto, sou curiosa e gosto de saber mais sobre todos os tipos de regimes alimentares.
Sempre que passava pelo livro, ficava seduzida pela capa colorida e pela beleza da Marta, visível na pequena fotografia da capa. Por isso, quando criei esta rubrica, sabia que seria um dos que passariam por aqui.
"O Livro de Cozinha da Marta - Uma forma de amar" é um livro que tem tanto de técnico (com vários textos de Francisco Varatojo, pai da autora e fundador do Instituto Macrobiótico de Portugal, que infelizmente faleceu em 2017), como de empírico e pessoal, no sentido de nas suas páginas transparecerem o amor e a gratidão da autora pela cozinha, pela família e pelas pessoas que a rodeiam e também por partilhar connosco a sua história de vida.
É impossível não gostar da Marta e deste livro, quando, logo no início, se pode ler "Sou macrobiótica desde que nasci, mas acima de tudo sou uma pessoa que gosta de comer! Os rótulos podem tornar-se perigosos em mentes mais inflexíveis, levando a uma abordagem rígida e pouco divertida. Eu sou completamente a favor de sermos sensatos e flexíveis. Não gosto de falar em alimentos proibidos; há alimentos que são bons para serem consumidos diariamente, outros para o serem mais ocasionalmente, e há ainda a categoria de alimentos para os dias de festa."
Não podia concordar mais. Mas, afinal, em que consiste a macrobiótica? No livro, é-nos explicado que é mais do que uma dieta ou um regime alimentar, ou seja, é um estilo de vida que pretende desenvolver o nosso potencial humano pela observância das leis da Natureza, dos pontos de vista biológico (alimentação), ecológico (ambiente), social e espiritual (amor e compaixão).
A palavra é de origem grega, com macro a significar "grande" e "bio" a significar "vida", remetendo então a macrobiótica para "a capacidade de vivermos a vida de uma forma grandiosa e magnífica". Também neste livro ficamos a saber que, na era moderna, o conceito da "macrobriótica" apareceu pela primeira vez no século XVIII, no livro "Macrobiótica ou a Arte de prolongar a vida", da autoria de Christoph Von Hufeland, médico de Goethe.
Um dos aspetos interessantes da macrobiótica é o entendimento de que este estilo de vida é flexível e versátil, adaptando-se às diferentes fases e diferentes necessidades de cada pessoa a cada momento. Um ponto comum e constante, no entanto, é o papel dos cereais integrais e dos vegetais, considerados os alimentos "mais adaptados à espécie humana e, consequentemente, aqueles que mais ajudam a criar e a manter a saúde".
Outro princípio fundamental da macrobiótica é a bipolaridade ou a teoria do yin e yang. Esta defende que "todos os fenómenos, alimentos incluídos, têm qualidades energéticas, metafísicas", sendo apenas possível atingir a harmonia se equilibrarmos esses dois pólos - yin e yang - nas nossas vidas.
O livro desenvolve estes conceitos com alguma profundidade, mostra-nos a "Pirâmide da alimentação macrobiótica", assinala a diferença entre macrobiótica e vegetarianismo, fala-nos do tipo de energia associado a cada tipo de alimentos, descreve alguns dos ingredientes mais usados (incluindo alguns 'medicinais') e elenca algumas técnicas culinárias, dicas e truques.
Tudo isto, antes de passarmos às receitas. Estas surgem agrupadas nos seguintes capítulos:
Pequenos-almoços
Lanches e Snacks
Sopas
Cereais Integrais
Leguminosas
Tofu/Seitan/Tempeh
Algas
Vegetais/Saladas/Pickles
Condimentos/Molhos/Maioneses
Sobremesas
Menus festivos
Chás e bebidas medicinais
Ao todo, são 106 receitas (se não me enganei a contá-las!) muito variadas dos pontos de vista do tipo de refeição e ingredientes utilizados, ainda que, na sua maioria, sejam receitas vegetarianas e vegan, uma vez que estas estão na base de uma alimentação macrobiótica, ainda que esta não exclua totalmente os alimentos de origem animal.
Gostei bastante do livro e fiquei com vontade de experimentar diversas receitas, a única falha que tenho a apontar é o facto das receitas não mencionarem o "rendimento", ou seja, o número de doses ou número de pessoas a que se destinam. Na verdade, as receitas do livro não apresentam qualquer ficha técnica (tempo necessário, nivel de dificuldade, etc.), mas para mim é do número de doses/pessoas a indicação de que sinto mais falta.
Resumindo: "O livro de cozinha da Marta" é um livro autêntico. Nota-se que foi feito com muito empenho e dedicação pela Marta, com a ajuda do pai. As fotos dos pratos são da própria Marta, que enriqueceu quase todas as receitas com notas pessoais ou sugestões. Para quem quiser saber mais sobre macrobiótica, este é, sem dúvida, um livro a ter em conta.
4 colheres de sopa de geleia de arroz (usei xarope de agave)
*chávena com 250 ml de capacidade
Lavar as sementes de sésamo (eu coloquei num coador de malha fina e passei por água corrente) e levá-las ao lume numa frigideira antiaderente em lume alto, para secar e tostar (deve demorar uns 10-15 minutos).
Numa frigideira grande, levar o xarope ao lume e, quando fervilhar, juntar todos os ingredientes à exceção do cacau e do chocolate negro.
Retirar do lume e adicionar o chocolate partido em pedacinhos e o cacau, envolvendo bem (o chocolate deverá derreter com o calor remanescente).
Espalhar esta mistura sobre uma folha de papel vegetal, colocar outra folha por cima e espalmar com um rolo de cozinha até obter uma espécie de retângulo com uma espessura uniforme (1 cm de altura ou um pouco menos).
Deixar arrefecer completamente.
Com uma faca bem afiada, cortar em barras.
Pode embrulhar-se individualmente em película aderente e temos um snack pronto a levar.
O meu postal de Boas Festas este ano tem o carimbo da Parmalat.
Para esta marca, desenvolvi uma receita ótima para dias de festa e convívios com muita gente: estes Folhadinhos cremosos de camarão, feitos com o Béchamel Clássico Parmalat. Uma receita que rende imenso e que agrada a todos os que gostam de marisco.
Convido-vos a conhecer a receita aqui - no site de receitas Parmalat - e desejo a todos um Feliz Natal e um excelente 2020!
"Cantinho do Avillez - As receitas" - José Avillez - Esfera dos Livros
Será que quando vêem um livro de um chef, de receitas de pratos servidos no seu restaurante, ficam com a mesma dúvida que eu? A de que as receitas que fazem no restaurante podem não ser exatamente iguais às que estão no livro? Bem, nunca saberemos 😆 Até porque a mesmíssima receita, feita por duas pessoas diferentes, sobretudo se uma dessas pessoas é um profissional, nunca vai sair igual. E é por isso que tenho dúvidas de que o meu leite-creme tenha saído tão bom como o do restaurante...
O Cantinho do Avillez ( o do Chiado), foi o primeiro restaurante em nome próprio de José Avillez, o mais consagrado dos chefs portugueses, tendo aberto as suas portas em setembro de 2011. Hoje são já quatro os Cantinhos: Chiado, Parque das Nações, Porto e Cascais. Que se juntam numa extensa lista a outros projetos de José Avillez, como o duplamente estrelado Belcanto, a Cantina Peruana, o Bairro ou o Mini Bar [que também já se estendeu ao Porto], passando pela Tasca, no Dubai.
O José Avillez talvez seja um dos meus chefs portugueses preferidos [logo a seguir ao Vasco Coelho Santos, do Euskalduna 😉]. Primeiro, porque o acho genuinamente simpático. Quando fui a primeira vez ao Cantinho do Avillez do Porto, foi o chef que nos abriu a porta, recebendo-nos com um sorriso, entusiasmo e amabilidade surpreendentes. Depois, porque já li e ouvi muitas das suas entrevistas - como esta, no podcast "Cada um sabe de si" - e gosto do seu discurso, da sua forma de encarar o trabalho de equipa, da sua história de vida.
Apesar deste meu apreço, ainda não tinha nenhum livro dele. Para esta rubrica, que como sempre conta com o apoio da Bertrand, optei pelo "Cantinho do Avillez - As Receitas", já na sexta edição. Para além de ser um dos seus primeiros livros (se não mesmo o primeiro, mas não posso precisar), o tipo de cozinha praticada no Cantinho não me parece demasiado rebuscada para replicar em casa, sendo um livro a que facilmente podemos dar uso.
Este é um livro bilingue - português e inglês. As receitas fazem ou fizeram parte da carta do restaurante e estão agrupadas nos capítulos:
Cocktails
Entradas
Pregos
Pratos
Sobremesas
Não são muitas: apenas 40 receitas, no total.
Em termos gráficos, o livro é do mais simples que há. Acho até a encadernação demasiado básica, sem qualquer badana (aquela tira extra da capa e da contracapa que dobra para dentro, normalmente com informação sobre o autor), o que o torna frágil, sobretudo se tivermos em conta que é um livro para ser manuseado numa cozinha.
Quanto às receitas, parecem-me bem descritas e entre elas podemos encontrar as famosas 'Lascas de bacalhau, migas soltas, ovo a baixa temperatura e azeitonas explosivas', os 'Camarões à Bulhão Pato', as 'Vieiras na frigideira com cogumelos e batata-doce de Aljezur', o 'Bife à Cantinho', a icónica sobremesa 'Avelã ao cubo' ou o 'Leite-creme de laranja e baunilha' cuja receita partilho mais abaixo.
Resumindo: "Cantinho do Avillez - As receitas" não é um livro extraordinário, diria até que é um livro modesto, tanto em termos de conteúdo, como em termos de produção gráfica. É um livro que vale pelas receitas em si e pela carga simbólica associada, conferida pelo prestígio do chef Avillez e deste seu restaurante. As fotos são bonitas, mas um pouco baças, devido ao papel escolhido, de cor creme. Este livro é, no entanto, um ótimo aliado para os foodies e todos aqueles que gostam de surpreender os convidados em casa, com receitas ao mesmo tempo simples mas com um toque de sofisticação.
LEITE-CREME DO CANTINHO DO AVILLEZ - COM LARANJA E BAUNILHA
Receita de José Avillez no livro "Cantinho do Avillez - As receitas"
[A receita é supostamente para 4 doses, mas eu consegui apenas 3]
50 ml de leite
300 ml de natas
55 g de açúcar demerara (usei mascavado)
4 gemas de ovo
2 colheres de sopa de sumo de laranja
1 a 2 vagens de baunilha
Casca de laranja (sem a parte branca) qb
Açúcar demerara para polvilhar e queimar (usei açúcar mascavado)
Ligar o forno nos 150ºC.
Num tacho, levar o leite ao lume com 100 ml de natas e a casca de laranja.
Abrir a vagem de baunilha, raspar as sementes e adicionar tudo ao tacho do leite e natas.
Deixar esta mistura fervilhar.
Numa taça, bater as gemas com o açúcar.
Retirar o tacho do lume, juntar as restantes natas e o sumo de laranja.
Adicionar esta mistura, aos poucos, à taça das gemas e açúcar.
Distribuir pelas taças e levar ao lume num tabuleiro ou assadeira, que deve encher com água quente até metade da altura das taças.
Cozer durante cerca de 40 minutos (o creme deve sair ainda pouco firme no centro, irá solidificar ao arrefecer).
Depois de frias, guarde as taças no frigorífico até 3 dias.
Antes de servir, polvilhe com açúcar e queime com um maçarico de cozinha.
Nota: apesar de ter seguido a receita à risca, fiquei com a impressão de que a textura não ficou perfeita, achei que devia ter ficado mais cremoso (será que cozeu demasiado?). Em todo o caso, de sabor ficou bastante agradável.
"Bolachas na Caneca" - Christelle Huet-Gomez - Editorial Presença
Enquanto viciada em livros de cozinha, gosto de ter todo o género desta 'literatura' nas minhas prateleiras. Mas nem todos os livros têm a mesma importância nem exercem todos o mesmo fascínio sobre mim. Num ranking de utilidade e pertinência, este "Bolachas na Caneca", de Christelle Huet-Gomez, teria de ficar para trás.
O livro é bonito, gosto das fotografias e o conceito é original* (apesar de achar que, quando se pensa em bolachas, é impossível pensar numa só!). Acontece que depois de ver as receitas fiquei um pouco reticente. Parecem-me muito calóricas. Se não, vejamos: uma bolacha, que pode dar para duas pessoas, leva em média 1 fatia de manteiga com 1/2 cm de espessura, 1 gema, 2 colheres de sopa de açúcar e 3 colheres de sopa de farinha. São colheres rasas, é certo, mas mesmo assim parece-me too much, para comer assim de enfiada...
As conjugações de sabores são interessantes e variadas e vão do clássico chocolate + frutos secos ou limão + mirtilos, às bolachas de chá matcha, de maçã assada ou red velvet. E ainda há quatro receitas de bolachas salgadas. No total, são 35 receitas de "bolachas" para fazer numa caneca e cozer num minuto no micro-ondas. Não deixa de ser um conceito castiço e prometedor, mas tenho dúvidas de que haja muitas situações em que queiramos fazer uma bolacha na caneca. Se calhar em férias, se estamos num local sem forno, apenas com micro-ondas; ou se quisermos dar alguma autonomia aos mais novos, que, tenho a certeza, são quem se irá divertir mais a fazer estas bolachas.
A ideia é comer as bolachas à colher, ainda mornas. Em todo o caso, depois de arrefecidas e apesar da textura ficar mais firme (parecida com um scone frio), continuam saborosas. Pelo menos estas, de banana, aveia e chocolate, cuja receita, que adaptei para torná-las (um pouco) menos pecaminosas, segue mais abaixo.
Resumindo: "Bolachas na Caneca" é um livro de receitas com um tema muito específico, que talvez tenha pouca utilidade numa cozinha de alguém experiente. Apresenta fotografias e design gráfico apelativo, podendo fazer as delícias de quem sofre desejos repentinos por doces: afinal, cada bolacha demora apenas 5 minutos a preparar e a ficar pronta.
Mais uma semana, mais um livro para descobrir. E 'descobrir' é mesmo a palavra certa, uma vez que o #Dizmeoquelês desta semana é sobre um livro que, para além de receitas, oferece-nos miniguias de viagem sobre vários destinos. É o "Sabores do Viajante", da autoria de Daniela Ricardo.
Este é já o terceiro livro de Daniela Ricardo, uma enfermeira que se tornou chef, professora e consultora de alimentação consciente e natural. Juntamente com Luís Baião [seu marido e mentor do projeto Zen Family] Daniela organiza viagens de grupo a várias partes do mundo, ficando a seu cargo a confeção e a logística da alimentação dos participantes. Regularmente, também organiza retiros e workshops em Portugal sobre a temática da alimentação saudável.
Este livro resulta do que Daniela aprendeu e visitou nas viagens que tem feito, viagens essas que se destacam por uma forte componente espiritual. Após as páginas introdutórias, em que a autora contextualiza este livro e expõe a sua filosofia alimentar, fornecendo informação nutricional e dando algumas noções de técnica culinária, o livro apresenta a seguinte estrutura:
- As Viagens
Butão
Argentina
Japão
Indonésia/Bali
Itália
Portugal
- Benefícios de viajar
- Dicas de viagem
- A minha mala de viagem - os indispensáveis
Para cada destino do capítulo 'As viagens', Daniela faz uma introdução ao país, destaca localidades ou monumentos imperdíveis, diz-nos "Quando ir", mostra-nos algumas "Palavras e expressões úteis" na respetiva língua, introduz-nos na gastronomia desse destino e, por fim, apresenta uma série de receitas locais, adaptadas em termos de ingredientes e tipo de confeção, de forma a cumprirem a sua visão de alimentação consciente e sustentável.
Assim, no livro iremos encontrar os Sabores Butaneses (capítulo de onde foi retirada a receita destas panquecas), os Sabores Argentinos, os Sabores Nipónicos, os Sabores Balineses, os Sabores Italianos e os Sabores Portugueses
Confesso que gostei mais do livro pelo que nos ensina sobre os destinos - Daniela fala de acordo com a sua experiência, contando algumas histórias e factos curiosos - do que pelas receitas. No entanto, reconheço o seu mérito em adaptar as receitas e torná-las mais acessíveis e mais 'conscientes' para nós, portugueses, ao utilizar ingredientes que nos são mais familiares, pelo menos nos casos em que isso é possível. Algo que apreciei, por exemplo, foi o uso do azeite como gordura de eleição, quando em muitos livros de receitas a opção teria sido, por certo, o óleo de coco.
Resumindo: "Sabores do Viajante" é um livro enriquecedor, que vale para lá das receitas que apresenta. O design gráfico e as fotografias não são especialmente marcantes, mas cumprem a sua função e as receitas estão bem escritas. É um livro que agrada sobretudo a quem gosta de viajar e de saber mais sobre gastronomia e para quem não tem medo de se aventurar por sabores que fogem ao tradicinal.
Como sempre, este post contou com o apoio da Livraria Bertrand*, onde podem saber mais sobre o livro [que ganhou o prémio Gourmand em Portugal na categoria Health & Food] e até adquiri-lo, com 10% de desconto.
Nota: o sabor da farinha de trigo-sarraceno não é consensual. Costumo usar os grãos na granola e gosto, mas achei que nas panquecas fica um pouco forte. No entanto, a textura das panquecas, feitas basicamente de farinha e água é ótima, parece quase massa de bolo!
1 chávena e meia de farinha de trigo-sarraceno
1 chávena de água [eu precisei de adicionar mais 1/4 de chávena]
1 pitada de sal
1 colher de café de bicarbonato de sódio
Coloque todos os ingredientes num liquidificador, processador ou copo da varinha mágica e bata até obter uma mistura homogénea densa mas 'espalhável'.
Deixe a massa repousar uns cinco minutos.
Pincele uma frigideira antiaderente com azeite, aqueça bem e verta uma colherada de massa. Deixe cozinhar um pouco e, quando já se soltar, vire com a ajuda de uma espátula e cozinhe mais um pouco (no meu caso não demorou mais do que três minutos no total, para cada panqueca). Repita até terminar a massa.
Sirva com fruta e adoçante a gosto, ou então com algum topping salgado, à maneira do Butão.
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