Ora bem, antes que me acusem de escrever títulos enganosos, convém esclarecer que o adjetivo "rápido" remete apenas para as fases após o descaroçamento das cerejas. As cerejas são maravilhosas [são mesmo um dos meus frutos favoritos], mas caso queiramos cozinhar com elas dão um pouco de trabalho. Afinal, já diz o ditado que não há bela sem senão. No caso das cerejas até há dois senãos.
Sei que há quem faça tartes e bolos com cerejas sem as descaroçar, mas eu não consigo. Prefiro perder algum tempo com essa tarefa, do que depois andar a cuspir caroços e pôr em causa a experiência da degustação. Assim, recomendo que tenham um bom descaroçador [ eu uso o quebra-nozes da Tupperware, que tem essa função e fico sempre satisfeita com o resultado]. Depois, ponham a rodar a vossa música favorita, sentem-se confortavelmente à mesa da cozinha, ou fiquem em pé se forem baixos como eu, e [muito importante!] descarocem as cerejas para uma bacia grande e alta. Isto porque o segundo senão de cozinhar com cerejas e ter de descaroçá-las é que elas espirram muito sumo, que deixa nódoas difíceis. Mas se tiverem uma bacia grande e alta e manusearem o descaroçador e as cerejas lá dentro, vão ver que a cozinha e a vossa roupa continuará impecável no fim desta missão.
No princípio de junho, fomos presenteados cá em casa com vários quilos de cerejas. Eram deliciosas e comemos a maior parte ao natural, mas a quantidade exigia que lhes desse outro uso. Resolvi transformar algumas em doce. Foi a primeira vez que fiz doce de cereja e, na altura, no Instagram, prometi que se ficasse bom, partilhava a receita.
Aqui está ela, a tempo de poderem aproveitar as últimas cerejas deste ano! Para além de ser muito bom barrado simplesmente em pão e tostas, também fica ótimo num cheesecake, ou servido com iogurte ou queijo - nestas fotos, aparece acompanhado de queijo fresco de cabra.
DOCE DE CEREJA
[adaptado de uma receita que vi no Pinterest, mas que na altura não guardei!]
1 kg de cerejas
Sumo de 1 laranja
6 colheres de açúcar amarelo ou a gosto
Lave e descaroce as cerejas.
Coloque todos os ingredientes numa panela de fundo espesso [as panelas de ferro fundido, tipo Le Creuset funcionam na perfeição].
Leve ao lume, numa temperatura média/média-alta e deixe cozinhar, mexendo, até as cerejas começarem a amolecer, aí uns 15 minutos - a ideia é manter a forma das cerejas, mas que estas fiquem macias.
Com uma escumadeira, retire as cerejas para uma taça e deixe reduzir e engrossar um pouco os líquidos que ficaram na panela. Volte a colocar as cerejas na panela, deixe levantar fervura, verifique se está no ponto desejado [eu costumo colocar um pouco de doce num prato e passar sobre este as costas de uma colher: se se abrir um caminho nítido e o doce demorar a voltar a unir-se, está pronto [não esquecer que o doce vai espessar ao arrefecer e a ideia é que fique um doce algo fluído, por isso não o cozinhe demasiado].
Passe para frascos bem limpos ou esterilizados, tape, deixe arrefecer e guarde no frigorífico.
Se só vieram por causa da receita do bolo, é melhor fazerem scroll e apanhá-la ali em baixo. Mas se gostam de fotografia de comida tanto como eu, o que conto já a seguir talvez seja do vosso interesse ;)
Já aqui tinha falado, e quem me segue no Instagram tem acompanhado, que este ano decidi fazer um curso online de fotografia de comida e food styling. No final de 2018, descobri o blog The Little Plantation e comecei a seguir a sua autora, Kimberly Espinel, no Instagram e no Facebook. Apesar de eu ligar cada vez menos ao Facebook, é aqui que a Kimberly, que vive em Londres, dinamiza um grupo fechado, reunindo uma simpática comunidade à volta dos temas de food photography e food styling e de tópicos complementares, tais como dicas para crescer no Instagram, como cobrar um trabalho de fotografia, etc.
Gosto muito do trabalho consistente da Kimberly e da forma simpática, generosa e entusiástica com que partilha as suas ideias e o seu conhecimento sobre esta área. Quando me apercebi que ministrava cursos online, pedi mais informações e não demorei muito a inscrever-me. Sei que há muitos outros bloggers e fotógrafos a disponibilizar cursos online de fotografia de comida, mas sinceramente não pesquisei nem fiz comparativos. Gostei da abordagem da Kimberly, o preço pareceu-me razoável, estava decidido.
O curso está estruturado em 5 aulas + 1 aula opcional sobre Instagram. Os temas vão desde técnica fotográfica à composição e ao food styling, passando pela teoria da cor e pela edição em Lightroom (foi a minha aula favorita) e o mais interessante é que as aulas são "presenciais": através da app Zoom (tipo Skype), vemos e falamos com a Kimberly podendo ainda interagir com os outros alunos. Recebemos com antecedência o plano de cada aula, com a "teoria", e depois na aula a Kimberly fala mais detalhadamente sobre esses conteúdos e responde às nossas questões. Há trabalhos de casa e um trabalho maior, final, que é discutido depois numa sessão individual, sendo-nos dado bastante tempo para concretizar o projeto.
As fotos deste post fazem parte desse "final assignment". Fazer o curso foi uma decisão acertada, uma experiência fantástica, que recomendo. Obrigou-me a fotografar coisas diferentes, de ângulos diferentes. Obrigou-me a praticar. Nunca foi tão fácil como hoje aprendermos o que quer que seja sozinhos. Há artigos, vídeos, tutoriais... não faltam recursos grátis na internet para aprender a fotografar melhor, mas eu adoro aprender com pessoas, gosto da interação direta, é mais enriquecedor. Ficamos mais comprometidos, dedicamo-nos mais. Fosse eu rica e inscrevia-me já noutro curso.
Voltando ao trabalho final, cada aluno teve de começar por apresentar um mood board (fiz o meu no Pinterest, podem vê-lo aqui.), este devia contemplar diferentes ângulos (de frente, de cima, 3/4) e imagens ao alto e ao baixo. Depois de feita a sessão, guiada pelo tal mood board, e editadas as fotos, selecionei as que queria apresentar à Kimberly, enviei-as e, na já referida sessão 1-2-1, falámos sobre elas, sobre as dificuldades e dúvidas que tive, e recebi o seu feedback sincero, que incluiu tanto elogios como várias críticas construtivas. Estas fotos ainda não estão no nível que eu gostaria, mas se olhar para imagens minhas antigas (e não é preciso recuar muito no tempo), sinto que tenho evoluído e isso deixa-me mais confiante.
Escolhi um bolo para "estrela" do projeto final, porque é das coisas que mais gosto de cozinhar e fotografar e é o tipo de receita que as pessoas mais associam ao Lume Brando. Um bolo de iogurte e limão, recheado e coberto com um creme de mascarpone, natas e framboesas. Espero que não só gostem das fotografias, como da receita, que partilho mais abaixo.
E se quiserem saber mais sobre fotografia de comida, food styling, food blogging, redes sociais, criatividade e outros tópicos associados, não deixem de ouvir o podcast da Kimberly, chamado Eat Capture Share, já com duas temporadas. Eat Capture Share é também o nome da sua comunidade no Facebook e a hashtag #EatCaptureShare é a que une as participações nos interessantes desafios de fotografia que costuma organizar no Instagram.
Vamos ao bolo?
BOLO DE IOGURTE E LIMÃO COM COBERTURA E RECHEIO DE MASCARPONE E FRAMBOESAS
Para o bolo:
1 iogurte grego natural
130 g de açúcar amarelo
3 ovos
80 g de azeite extravirgem
Raspa e sumo de 1/2 limão
150 g de farinha peneirada
1 colher de sopa de fermento em pó
1 pitada de sal
Para a calda:
Sumo de dois limões
Açúcar amarelo a gosto
Para o recheio e cobertura:
2 embalagens de queijo mascarpone (deve estar bem frio)
1 embalagem de natas (devem estar bem frias - mínimo 12 horas no frigorífico)
Coulis de framboesa qb*
Cerca de 2 colheres de sopa de açúcar ou a gosto
Framboesas frescas - cerca de 250 g
Untar bem e forrar o fundo de duas formas com 14 ou 16 cm de diâmetro com papel vegetal. Voltar a untar com manteiga/polvilhar com farinha.
Ligar o forno nos 180º
Separar as gemas das claras. Bater estas em castelo, com uma pitada de sal.
Juntar às gemas o açúcar e bater bem. Adicionar o iogurte, o azeite, o sumo e a raspa de limão. Mexer bem. Envolver as claras em castelo e, por fim, envolver a farinha e o fermento peneirados (eu costumo peneirar diretamente para a massa do bolo, ao mesmo tempo que vou envolvendo).
Dividir pelas formas e levar ao forno durante cerca de 25-30 minutos - vigiar e fazer o teste do palito para confirmar que estão cozidos.
Desenformar os bolos sobre uma rede forrada com papel vegetal e deixar arrefecer.
Para preparar o creme do recheio e cobertura, bater com a batedeira elétrica as natas, o mascarpone e o açúcar, até estar bem uniforme e macio. A meio do processo, juntar um pouco de sumo de limão, que ajudará a tornar o creme mais firme. Por fim, ir juntando umas colheres de sobremesa de coulis e continuar a bater, até atingir o tom de rosa pretendido e provando para ver se necessita de adoçar mais (eu acho que o mascarpone não pede muito açúcar, mas o ideal é provarem e ajustarem ao vosso gosto). O coulis que sobrar, podem servir depois com o bolo.
Entretanto fazer a calda com o sumo de limão e o açúcar. Deixar borbulhar lentamente até atingir um ponto fraco.
Colocar um dos bolos no prato de servir, picá-lo com um palito e regar com metade da calda. Colocar uma camada de creme de mascarpone e framboesa, espalhar algumas framboesas e tapá-las com mais creme, reservando framboesas para a decoração final. Colocar o outro bolo por cima. Picar e regar com a restante calda. Cubrir o bolo com o creme e acabar de decorá-lo ao vosso gosto. O bolo fica melhor no dia seguinte, por isso, o ideal é fazê-lo de véspera e guardá-lo no frigorífico.
*Leve ao lume cerca de 200 g de framboesas congeladas. Deixe cozinhar bem até ficarem desfeitas e largarem todo o sumo, deixando este reduzir um pouco. Passe por um coador, descarte as grainhas e reserve o coulis, que para esta receita deve ser usado frio.