Eu sei que isto não parece de uma pessoa muito equilibrada. E se calhar não sou. Há menos de um mês quase jurava a pés juntos que não ia comprar a Bimby, que não me identificava com a máquina, que era muito cara, que isto e que aquilo. O que é certo é que eu não conhecia bem a Bimby, só de ouvir falar e de ter provado um ou outro prato feito com a sua ajuda. Assim que assisti a uma demonstração, a minha opinião começou a mudar. Comecei a imaginar as mil e uma coisas que podia fazer ali fácil e rapidamente e que de outra forma tinha muita preguiça em fazer: massas de pizza, de pão, de quiches... De facto, o que mais me seduziu no aparelho não foi tanto o facto de cozinhar, mas o facto de picar, ralar, bater, amassar e envolver os alimentos de uma forma que sem ela - ou sem robot de cozinha ou sem máquina de pão, que era o meu caso - não era possível. Ou seja, se antes pensava que a Bimby era mais indicada para quem não apreciava cozinhar, comecei a achar que isto se calhar era um preconceito meu e que a máquina podia ser muito útil para quem adora a cozinha. A hipótese de ter uma lá em casa ficou por isso a marinar na minha cabeça. E na do G., que só de me ouvir falar, ficou todo curioso e com vontade de também ele conhecer melhor a máquina. Marcámos então uma demo lá em casa. E não é que a meio da sessão o marido já estava convencido e mais entusiasmado do que eu?! (devo esclarecer que ele NUNCA cozinha). Resultado: já temos Bimby. Na estreia, e para os miúdos poderem participar, fizemos massa de pizza. E quem é que ficou aos comandos da máquina? O homem grande lá de casa, pois claro!
Para não me esquecer das receitas provadas aqui, retidas mentalmente, tenho vindo a pô-las em prática.
A entrada que se segue - curgete com queijo roquefort - não ficou bem à primeira, ou melhor, o molho precisou de duas tentativas, pois da primeira vez ficou fortíssimo, com demasiado quejio! Feitas as correcções, ficou óptimo.
O arroz de laranja, esse, está no meu top five de "arrozes" para acompanhamento. Aromático, saboroso e muito fácil de fazer. Desta vez fi-lo para acompanhar pato (uma receita que já não fazia há muito e que postei aqui nos primórdios deste blog), uma vez que pato e laranja formam um clássico. Mas também já experimentei com carne de porco e ficou muito bem. Se a memória não me falha, quando o comi da primeira vez foi-me servido com borrego. A receita do arroz segue no post de baixo. Entrada de curgete e queijo roquefort
1 + 1/2 curgete 100 ml de natas (1/2 emb., ou mais um pouco se o molho ficar muito grosso) 1 iogurte natural 1 colher de sopa de queijo roquefort (o melhor é ir acrescentado o queijo ao molho e ir provando) Pimenta preta Sal Pão integral ralado (ralado preferencialmente em casa, para ficar tipo migalhas finas e não pó)
Cortar a curgete em rodelas muito finas (a receita original é cortar em tiras na fiambreira, mas eu cortei às rodelas numa mandolina. Com uma certa dificuldade, é certo, porque volta e meia a curgete, que não é propriamente firme, encravava na lámina), dispô-las num prato de ir ao forno e temperar com um pouco de sal. Numa taça, juntar as natas, o iogurte, um pouco de pimenta preta moída na altura e o queijo e mexer bem com o batedor de varas. Verter por cima da curgete, espalhando bem. Polvilhar com o pão ralado e levar ao forno para assar a curgete e tostar o pão ralado, aí uns 20/25 minutos, dependendo do forno.
Arroz agulha (ou outro) Laranjas Alho Azeite Sal Água
A receita base é a de um arroz branco frito: num fundo de azeite saltear alho (picado grosseiramente) juntamente com algumas cascas de laranja (eu fiz tirinhas com um raspador de citrinos). Juntar o arroz, deixar cozinhar um minuto ou dois e adicionar a calda (no dobro da quantidade do arroz), sendo que metade da calda deve ser água a ferver, a outra metade deve ser sumo de laranja. Ou seja, se usar como medida de arroz uma chávena, deve depois juntar uma chávena de água + uma chávena de sumo de laranja. Eu costumo roubar um pouco à água para garantir que fique sequinho, mas varia muito de placa para placa. Faço no disco eléctrico: depois de juntar a calda e temperar de sal, espero que comece a ferver, tapo a panela, reduzo para a temperatura mínima e passados 10 minutos desligo. O arroz vai acabar de cozer com a temperatura remanescente e ficar bem solto e aromático!
Entradas é a categoria de pratos que faço mais vezes. As razões são simples: normalmente são mais fáceis e rápidas de fazer do que um prato principal, dão para levar para casa de quem vamos almoçar ou jantar e... permitem aquele início de refeição em grande. Com uma boa entrada (e uma boa sobremesa!) podemos relaxar um bocadinho em relação ao prato principal, pois já temos o que precisamos para conquistar os convivas. Esta é uma entrada boa para esta época do ano. Quanto mais fria for servida melhor. Foi inspirada numa entrada que comi nos recentes dias de férias passados aqui. Mas como não sabia a receita exacta, resolvi inventar um pouco. E parece que deu certo. Pelo menos todos os seis que provaram, aprovaram.
Entrada de pepino, maçã e iogurte
Para 6/8 pessoas
2 maçãs grandes Granny Smith (aquelas verdes, ácidas) 1 pepino 2 iogurtes naturais Sumo de limão 1 colher sopa de mostarda de Dijon Azeite e sal qb
Descascar as maçãs e cortá-las aos cubinhos. Descascar o pepino, cortar em quartos ao comprimento, retirar a polpa central e cortar também em pedacinhos. Dispor os cubinhos de maçã e pepino no prato de servir e regar com o sumo de limão. Numa taça, fazer o molho de iogurte, juntando ao iogurte a mostarda, o azeite e o sal a gosto (devo ter colocado aí uma colher rasa de sopa de azeite), mexendo. Verter o molho por cima do pepino e da maçã e envolver bem. Levar ao frio antes de servir (o ideal é preparar o prato já com os ingredientes bem frios). Se preferir, servir em tacinhas individuais.
Pois é, já assisti à tão ansiada demonstração da Bimby. E não é que a maquineta me surpreendeu? "Ah e tal, eu não preciso da Bimby, o que gosto é de ir mexendo, de ir provando, de fazer tudo à moda antiga e como deve ser". Pois. Este era o meu discurso pré-demonstração e de que vos dei conta aqui. Só que agora, depois de ter visto com os meus próprios olhinhos a dita cuja em movimento e as potencialidades da cena, a coisa muda de figura.
Não é que o meu entusiasmo neste preciso momento seja exactamente igual ao sentido imediatamente após as duas horas de demonstração, em que vi um sorvete de manga ser feito num minuto (a manga vai com cascas e tudo lá para dentro) e uma massa de pizza ser amassada em igual tempo recorde, entre outras tarefas e operações.
Longe da vista, longe do coração. Mas como fiquei de fazer uma demo lá em casa para desta vez o marido também assistir, não sei até quando irei resistir. Até porque não tenho robot de cozinha nem máquina de sumos e a Bimby junta estas duas funções na perfeição. A limonada que ela faz em apenas um minuto ou dois (e lá em casa e na família todos adoramos limonada!) é mesmo boa e não sou só eu que digo. O chefe José Avillez também.
Há muito que queria fazer uma receita deste género, de tempura de legumes. Num restaurante tailandês onde fui há pouco tempo, comi uns óptimos e ainda fiquei com mais vontade de experimentar. Lembrei-me que num dos episódios que vi do Jamie at Home ele também fez algo do género. Fui ao livro e adaptei a receita aos ingredientes que tinha disponíveis "no campo", pois esta foi mais uma receita testada nas férias. Digamos que a receita do Jamie é mais elaborada, incluindo no polme sementes de mostarda, pimenta preta em grão, sementes de cominhos, malaguetas secas (piri-piri) e açafrão das Índias (conferir aqui). Simplifiquei, mas resultou igualmente bem. Toda a gente adorou e comeu que se fartou. Só não consegui que os mais novos provassem. Toparam que eram legumes e não houve quem os convencesse. Para a próxima vou fazer uma mistura: couve-flor, bróculos e cenoura, talvez. Esta foi a minha primeira versão:
Couve-flor tipo tempura
Para 6/8 pessoas
1 couve-flor grande 200 g farinha (ou mais) 350 ml de cerveja gelada 1 colher de sopa de mostarda de Dijon 1 colher de café de cominhos em pó 1/2 colher de café de piri-piri moído Sal qb 1 molho de salsa Óleo para fritar 1 limão (opcional)
Lavar a couve-flor e dividi-la em "flores" pequeninas. Secar bem com um pano ou papel de cozinha, colocar estes pedaços numa taça e polvilhar com farinha. Lavar a salsa, secá-la e passá-la igualmente por farinha. Para fazer o polme, colocar os 200 g de farinha numa taça (coloquei a olho pois não tinha balança) e juntar a cerveja aos poucos, mexendo. Juntar a mostarda, o piri-piri, os cominhos e o sal a gosto. O ideal é ficar com uma consistência tipo béchamel, por isso pode ser necessário juntar mais farinha ou mais cerveja. Passar os pedaços de couve-flor e os raminhos de salsa pelo polme (adorei esta salsa frita) e fritá-los em óleo quente, numa fritadeira funda. Secá-los em papel de cozinha e servir. O ideal é comê-los enquanto estiverem quentinhos e crocantes, opcionalmente regados com umas gotas de limão.
"Na Cozinha com Nigella" é a minha mais recente aquisição, feita há menos de uma semana na Feira do Livro do Porto. As receitas deste livro de Nigella Lawson*, cuja versão portuguesa é bastante recente, parecem bastante fáceis e apetitosas e aproveitei os últimos dias da semana de férias, passados igualmente no campo mas agora já no Norte, a pôr algumas em prática. Como este cheesecake de cereja, que no meu caso foi de framboesas e morangos. Gostei de tudo: da simplicidade, da textura e do sabor. O que custou mais foi bater as natas à mão, com um batedor de varas à moda antiga...
Cheesecake de cereja (o meu foi de framboesas e morangos)
125 g de bolachas digestivas 75 g de manteiga amolecida 300 g de queijo-creme (usei Philadelphia) 60 g açúcar em pó (coloquei a olho pois não tinha balança, acho que usei mais que 60 g mas ficou no ponto) 1 colher de chá de extracto de baunilha (não usei) 1/2 colher de chá de sumo de limão 250 ml de natas gordas (usei natas para bater da Longa Vida) 1 frasco (284 g) de compota St Dalfour Rhapsodie de Fruit de cerejas pretas (substituí esta compota por uma caseira feita na altura com framboesas e morangos caseiros: levei ao lume cerca de 300 g de frutos com 2 colheres de sopa bem cheias de açúcar amarelo e algumas gotas de limão e deixei cozinhar até engrossar um pouco e os frutos ficarem meios desfeitos; deixei arrefecer e guardei no frigorífico até colocar por cima do cheesecake e servir)
Triturar as bolachas, juntar a manteiga e voltar a triturar para humedecer a mistura (fiz isto manualmente, com a ajuda de uma taça e de um pilão gigante e correu bem). Espalhar e pressionar esta mistura no fundo de uma forma de fundo amovível (isto segundo a receita original, eu usei uma tarteira de louça). Bater o queijo-creme com o açúcar em pó, a baunilha e o sumo de limão numa taça até ficar macio. Noutra taça bater ligeiramente as natas (bati até atingir um chantilly não muito consistente) e juntá-las à mistura de queijo (ao juntar voltei a usar o batedor manual e o efeito foi surpreendente, ficando o recheio logo muito mais denso). Verter a mistura sobre a camada de bolacha, alisar com uma espátula e levar ao frio durante 3 horas ou durante a noite. Antes de servir, tirar o cheesecake da forma (se for o caso) e espalhar por cima a compota.
Há muito que as férias não me sabiam tão bem. Foi só uma semana, mas pareceu-me muito mais tempo. Os primeiros dias foram passados aqui. Em plena Serra do Cercal, no sudoeste alentejano, bem longe do bulício citadino.
À noite reinava o silêncio absoluto. Pela manhã, ouviam-se ao longe as campainhas que anunciavam a ida dos rebanhos para o monte. Era sinal de que o pequeno-almoço nos esperava. Pão cozido em forno de lenha, húmido por dentro e crocante por fora. Uma delícia. Manteiga, compotas, queijo, fruta fresca, sumo de laranja natural, cereais para os mais pequenos. E até ovos mexidos, presunto e tomate para quem quisesse.
Tudo vindo da cozinha de onde mais tarde sairiam pratos leves e aromáticos para o almoço e menus igualmente irresistíveis para o jantar, sem esquecer os pratos simples mas saborosos feitos de propósito para os mais novos (que jantavam antes, numa mesa só para crianças, para depois os papás poderem comer mais descansados!).
Tudo idealizado pela Mónica e pelo Alfredo, dois anfitriões com muito bom gosto. Ele é um portuense rendido ao Alentejo, artista das telas e dos pincéis com veia de cozinheiro, que nas suas tertúlias culinárias vai partilhando com os hóspedes saberes e sabores.
Salada de lulas, borrego estufado com arroz de laranja, bacalhau com gengibre e lima, curgete com molho de iogurte e queijo roquefort, creme frio de gengibre e laranja, carpaccio de vitela mertolenga com cuscuz, vieiras em caril de lima, arroz selvagem com legumes, cachaço de porco assado, carpaccio de laranja com gelado de lúcia-lima e molho de chocolate preto com pimenta, foram algumas das iguarias servidas por um staff muito simpático e atencioso, ora no alpendre, num cenário mais informal, ora na sala de jantar com abertura para a cozinha, decorada em estilo hippie chic, à semelhança do resto da Herdade.
Não tenho Bimby. E acho que tão cedo não vou cair na tentação de comprá-la. Primeiro porque é cara. Segundo, porque sei que aquele entusiasmo inicial iria acabar por passar e mais cedo ou mais tarde "a cozinha mais pequena do mundo" iria ficar estacionada numa prateleira a ganhar pó. Terceiro, porque acho que grande parte do prazer da cozinha está em ir juntando os ingredientes, ir mexendo, ir provando, ir rectificando, ir vendo... algo que não me parece compatível com a Bimby.
Claro que é tentador pensar que para fazer uma sopa, por exemplo, não precisamos de mais nenhum electrodoméstico ou panela, pois a Bimby faz tudo, do cozer ao passar. Fazer leite-creme e molho béchamel também é bastante mais rápido e simples nesta máquina e parece que fazer massa de pão e gelados também.
Conheço quem a tenha, incluindo pessoas que adoram cozinhar, e que vêem nela um ajudante de peso (e por falar em peso, uma das funcionalidades mais curiosas da Bimby é que ela também é uma balança, ou seja, para fazer a massa de um bolo, por exemplo, podemos pôr directamente os ingredientes no copo da máquina, que os vai pesando).
Mesmo assim, pelo menos enquanto não me sai o Euromilhões ou sou aumentada (cenários que me parecem bastante longínquos, no momento), acho que a dispenso*. Mas não dispenso uma ou outra receita Bimby que possa adaptar e fazer sem a dita. Como este bolo de chocolate que está num dos livros que vem com a máquina e que provei em casa de uma amiga. Ficou muito bom, mesmo nesta versão handmade.
Já agora, porque será que em Portugal a Bimby se chama assim e não Thermomix como em Espanha e noutros países? Não que Thermomix seja muito feliz, mas a mim soa-me muito melhor.
250 g chocolate de culinária (usei mais: 200 g culinária + 100 g chocolate 70% cacau) 150 g de manteiga 200 g de açúcar (usei só 160 g, pois quando provei a receita original achei bastante doce) 6 ovos (gemas + claras em castelo) 50 g farinha
Derreter o chocolate em banho-maria. Bater o açúcar com a manteiga. Juntar a este creme as gemas, o chocolate derretido, depois a farinha e por fim as claras em castelo. Verter numa forma que dê para servir, uma tarteira, por exemplo, e levar ao forno durante cerca de 20/25 minutos. A ideia é ficar bem húmido no centro, pode-se ir controlando a cozedura com um palito. Servir morno com uma bola de gelado.
*Só se a reunião Bimby a que vou assistir no próximo sábado, com uma demonstradora a fazer não sei quantos pratos em duas horas, me deixar estupidamente surpreendida e rendida...