Pensavam que a Beira Douro era uma marca de café foleirita e provinciana, disponível apenas em cafés de aldeia? Eu também pensava. Até que provei o melhor capuccino da minha vida e descobri que a Beira Douro é uma torrefacção portuguesa de café com muito know-how. E com muita paixão por aquilo que faz, como acontece na maioria das empresas familiares de sucesso.
Este livro não é meu. Mas não me importava que fosse.
Pão, com farinha, água e fogo cresces. Espesso e leve, estendido e redondo, lembras o ventre da mãe, germinação terrestre do equinócio. Pão, que fácil e profundo és: no tabuleiro branco da padaria, Estendes-te, alinhado como utensílios, pratos ou papéis, e de repente, a vaga da vida, a junção do germe e do fogo, e cresces, cresces subitamente com cintura, boca, seios, colinas de terra, vidas, o calor aumenta, a plenitude e o vento da fecundidade inundam-te e então a tua cor de ouro fixa-se, e quando os teus pequenos ventres são fecundados, a cicatriz morena deixou a sua queimadura sobre os teus hemisférios dourados. Agora, intacto, és o trabalho do homem, milagre renovado, vontade da vida.
(...)
Excerto da Ode ao pão de Pablo Neruda
Estas e outras coisas boas, incluindo receitas de pão e não só, no livro Pão e Cª da autoria de um famoso padeiro italiano chamado Piergiorgio Giorilli. A edição portuguesa é da Lisma - Edição e Distribuição de Livros, Lda.
Morcela com cebola e maçã. Carpaccio de novilho com parmesão e rúcula. Pescada com crosta de broa e azeitonas. Tornedós de tamboril com bacon e gambas. Pudim de mel, requeijão e doce de abóbora. Bolo de chocolate e mousse do mesmo com gelado. Farizoa branco de 2004. Se soa bem, digo-vos que soube ainda melhor. Foi no Bull&Bear, ontem, enquanto Portugal defrontava os gauleses em televisores distantes. A data impunha uma refeição a rigor e a escolha do local foi consensual. Confesso que ia de pé atrás: “vamos pagar couro e cabelo e vai ser uma desilusão”. Mas não. Pagámos, de facto, bastante. Mas não bufámos. A confecção (e a apresentação) dos pratos estava absolutamente irrepreensível. Tudo no ponto: a cozedura das batatas, dos legumes, do peixe, os temperos, a temperatura. O único reparo a fazer vai para a sobremesa que escolhi. O bolo de chocolate era muito bom (julgo que a receita está no livro que o Chefe Miguel Castro Silva publicou há uns tempos), a mousse também. Só achei um exagero a bola de gelado ser também de chocolate (e a carta não o fazia prever). Nata, apesar de mais vulgar, teria resultado melhor. Em todo o caso, o jantar foi perfeito, a condizer com a companhia.Venham mais três ;)