A propósito de uma mensagem deixada numa caixa de comentários (e por falar nisso, prometo que um dia destes vou alterar o sistema das caixas de comentários, de modo a que seja mais simples o acesso às mesmas), aproveito para confessar que nunca usei ou provei “ruibarbo” e também desconheço onde se possa comprá-lo. Pelo que pude apurar, é uma planta de origem asiática muito usada para fins medicinais (nomeadamente como laxante), cujos talos são comestíveis. As folhas não, pois são tóxicas. Na net encontrei referências a bolos, compotas e sementes de ruibarbo. O que quer dizer que talvez se possa comprar comprar as sementes e cultivá-lo em casa. Se entretanto descobrir mais coisas sobre esta planta com nome esquisito, aviso.
Será que o feijãozinho vai gostar de feijão? E de peixe, cenoura, bróculos e couve-flor? De ervilhas sim, nem que seja só para brincar com elas e divertir-se a apertá-las com os seus deditos desastrados. Desde que soube que vou ter mais um homem lá em casa, que me distraio a imaginar aquilo de que ele gostará quando for obrigado a fartar-se da monotonia do leite e da papa. Se fosse menina, às tantas também pensava nisso, apesar de “bom garfo” ser uma expressão masculina. E se assim é, então eu sou uma “boa colher”, sobretudo uma “boa colher de sopa”. Ao contrário da pequena Mafalda, adoro sopa e, por estes dias, faço votos de que o feijãozinho também venha a gostar. Mas claro que vai ter direito ao seu prato preferido. E começo a desconfiar que não será nenhuma das especialidades da mãe, mas as almôndegas da tia-avó.
"La Cousine de Pantagruel - Hommage à Rabelais", ou seja, "A prima de Pantagruel - Homenagem a Rabelais" é uma das peças que a edição de 2004 do Festival P.O.N.T.I. traz ao Porto. Estará em cena no Teatro Nacional de S. João de 2 a 4 de Dezembro, e é uma produção franco-romena encenada por Silviu Purcarete. Segundo o programa do festival "Em La Cousine de Pantagruel, o espectador depara-se com a poética fecunda de um encenador que faz apelo ao imaginário de cada um de nós, criando um espectáculo que se oferece sobretudo para ser contemplado. Demonstrando como uma palavra pode muito bem valer mil imagens, a oralidade está quase inútil num festim onde um conjunto de actores cozinha ritualmente um corpo humano para o saborear em cena." Os bilhetes vão de €7 a €15 e há passes especiais para quem quiser ver mais do que uma peça do festival. O telefone da bilheteira do TNSJ é o 223 401 910. Reserve já a sua mesa. Perdão, o seu lugar.
A cena mais irritante das novelas (e dos filmes, mas nas novelas é ainda mais recorrente) é a típica cena do pequeno-almoço. Eu sei que no fim eles avisam sempre, dizendo que aquilo é uma obra de ficção, que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. Pela minha parte, podem estar descansados: nunca haverá coincidências entre os meus pequenos-almoços e os deles. E é por isso que fico irritada. Porque adorava poder tomar todos os dias um pequeno-almoço daqueles. Ele é sumo de laranja, chá e café com leite, ele são croissants e torradas, compotas e bolos em altivos pratos de pé, fruta e queijos de várias formas e feitios. E ele é tempo para saborear aquilo tudo. Confesso que já tentei - ao fim-de-semana, claro - imitar a cena, mas sabe-me sempre a pouco. É que ainda por cima, falta-me a empregada, impecavelmente fardada, a servir à mesa. A única altura em que me posso vingar da sensação de inveja e gula que essas visões me provocam é quando estou de férias ou de fim-de-semana num hotel. Aqui, chego a ligar o despertador ou a pedir ao room service para me acordar mesmo a tempo de chegar ao pequeno-almoço. Até quem vai comigo já não se importa: prefere dormir menos do que aturar o meu amuo por termos falhado o “café da manhã”.
Esta semana, os meus "posts publicitários" não deixaram as teclas livres para outro tipo de palavras, mais apetitosas. Em todo o caso, aqui fica uma sugestão para o fim-de-semana: um bolo muito fácil de fazer, que já foi experimentado por mais do que uma cozinheira amadora e saboreado por muitos e exigentes apreciadores desta coisa boa chamada chocolate. Sai sempre bom.
Bolo de chocolate sem farinha
200 g chocolate de culinária* 200 g manteiga ou margarina 200 g açúcar 4 ovos (separados) Manteiga ou margarina qb p/ untar a forma
Pré-aquecer o forno a 180 graus. Untar e revestir uma forma redonda com papel vegetal que também se unta com manteiga (ou margarina). Se se usar uma forma de silicone, não é necessário o papel vegetal, basta untá-la. Partir o chocolate aos pedaços e derreter com a manteiga (ou margarina) em banho-maria. Bater as gemas com metade do açúcar. Juntar este creme ao chocolate derretido com manteiga. De seguida, bater as claras em castelo e, a meio deste processo, começar a juntar o restante açúcar até as claras ficarem bem firmes. Envolver as claras no preparado anterior. Cozer durante 40 minutos ou até um palito sair seco depois de espetado no interior. Não se admirem com a altura: como não leva farinha, fica baixinho.
Pode ser servido quente ou frio e acompanhado de gelado de nata polvilhado com cacau, por exemplo.
*Para os amantes de chocolate preto, aconselho a substituir parte do chocolate por chocolate com “cacau a 70%” (50 ou 75 g, no máximo).
Vermelha como um pimento. Ou como um tomate maduro. Ou como dois rabanetes. Foi assim que fiquei depois de ler no Quartzo, Feldspato & Mica (cimbalino curto #115), uma suculenta referência ao Lume Brando. Obrigada.
Ontem foi dia de castanhas. O primeiro deste Outono. Este fim-de-semana, aliás, foi abundante em “primeiras coisas”: primeiras grandes chuvadas, primeiros ventos fortes, primeira tarde enrolados na manta a comer torradas. E as castanhas assadas* ao fim do dia, apanhadas na véspera por mãos generosas, em Viana, foram o melhor começo de uma semana que, de tempo, não se adivinha quentinha.
*Castanhas assadas a fumegar, barradas com manteiga: primeiro lugar no meu top five de formas de comer castanhas. As restantes, por ordem decrescente: castanhas assadas, só, das compradas na rua e que nos deixam as mãos e a ponta do nariz sujos de fuligem; castanhas assadas a acompanhar rojões ou carne assada; crepes com doce de castanha; tarte de castanha com leite condensado; sopa de castanha. Devo confessar que ainda não provei esta última, mas já tenho lá em casa uma receita, à espera de tempo.
height=150 src="http://www.geocities.com/Vienna/Strasse/8454/rossini.jpg"> Rossini (1792-1862), o famoso compositor de ópera italiano, compôs também alguns pratos culinários. Aliás, parece que muitas das árias das suas obras foram escritas entre garfadas. A paixão de Rossini pela boa comida - nomeadamente pela carne de qualidade, pelas trufas, pelo foie gras e pelo bom vinho, incluindo o da Madeira - levava-o a afirmar que só tinha chorado três vezes na vida: de humilhação quando foi vaiado na estreia do seu “Barbeiro de Sevilha”, de emoção quando ouviu Paganini tocar violino, e de tristeza e desolação quando uma sandes de peru recheado com trufas lhe caiu à água durante um passeio de barco. Quanto ao Tornedó Rossini, diz-se que nasceu quando o compositor estava um certo dia no Café Anglais, em Paris -cidade onde viveu grande parte da sua vida - e pediu que lhe preparassem um bife com uma fatia de foie gras por cima e sobre esta uma camada de trufas laminadas. Na altura a combinação foi considerada tão descabida que, por vergonha, o empregado passou o prato pela sala “de costas voltadas” para os outros clientes (en tournant dos). Mas no Le Guide Culinaire, escrito por aquele que muitos consideram o maior chef de cozinha de todos os tempos, Escoffier (1846-1935), surgem referências a muitos outros pratos cuja paternidade é confiada a Rossini. O que é natural, sabendo-se que este abandonou praticamente a composição e a música aos 37 anos, dedicando-se a partir daqui a outros interesses, tais como receber amigos em casa e empanturrá-los com as iguarias que ele, e sobretudo a sua segunda mulher, Olympe Pélissier, preparavam. Não é de admirar, por isso, que Rossini se tenha destacado mais pelas suas peças de ópera “buffa” (cómica), do que pelas suas composições mais sérias. Afinal, quem consegue pensar em dramas, tristezas e enredos infelizes em frente a um carpaccio de saumon à la truffe, a uma soupe au pistou provençale, a uns chaussons des montagnes au fromage de chèvre, ou mesmo a uma tarte soufflée aux marrons et à la poudre d’amand?
*Desabafo de Rossini a um amigo, quando já estava farto de responder a cartas e de assinar dedicatórias em fotografias. Frase que se pode explicar não só pela sua obsessão pelo prazer da carne (em todos os seus sentidos, pois ao que parece também foi um grande apreciador da beleza feminina), como pelo facto de, na sua infância, ter sido muitas vezes deixado ao cuidado de um talhante de Bolonha, enquanto os seus pais iam trabalhar, ele como músico, ela como cantora.
"I don't even butter my bread; I consider that cooking." Katherine Cebrian
Por vários meios tentei saber quem é, ou foi, Katherine Cebrian. Sem resultado. Mas também não faz muita diferença: alguém que despreza assim tanto a cozinha não cabe neste blog, certo?